Pular para o conteúdo principal

Destaques

Scoop: Jornalistas da BBC e uma entrevista polêmica com príncipe Andrew

Quando um escândalo internacional envolvendo a Família Real estoura, uma jornalista tenta ser a primeira a conseguir uma resposta do príncipe Andrew para a BBC. Scoop é um filme de 2024 sem grandes surpresas para quem acompanhou a cobertura midiática da época, que mostra a importância do jornalismo não se silenciar quando se faz relevante. Um caso que havia sido noticiado há nove anos sobre a amizade de Andrew e Jeffrey Epstein estoura com a prisão do milionário e suicídio. Enquanto jornais de diferentes partes do mundo fizeram cobertura, o silêncio de príncipe Andrew no Reino Unido incomoda a equipe de jornalismo, que tenta persuadi-lo a dar uma entrevista. Enquanto obtém autorização para fazer a entrevista, a equipe de jornalismo mergulha nas informações que a Família Real não gostaria que fossem divulgadas sobre as jovens que faziam parte do esquema de tráfico sexual e as vezes em que príncipe Andrew estava no avião particular de Epstein. O filme foca mais na equipe de jornalismo do

Livro sobre literatura infantil explora a arte de escrever histórias

Doutora em literatura brasileira, Gloria Pondé aborda a produção literária nacional voltada para o público infantil no livro A Arte de Fazer Artes, republicado pela editora SESI-SP, em 2017. Publicada originalmente em 1985, a obra tem como foco o público interessado na arte de escrever histórias para crianças e adolescentes, bem como pais, professores e estudantes. Apesar de o conteúdo ter sido escrito há mais de 30 anos, o livro permanece relevante, levando em conta as dificuldades de escritores brasileiros, editoras e educadores em relação ao índice de leitura e ao desenvolvimento do mercado livreiro.


No prefácio da obra, a doutora, pesquisadora e autora Rosa Maria Cuba Riche ressalta que além da importância do livro no período em que foi publicado por conta dos estudos teóricos sobre literatura infantil e juvenil, discutindo a produção artística e as transformações da época, A Arte de Fazer Artes contribui ao levantar informações sobre a importância da leitura para os leitores e professores – profissionais que nem sempre estão atualizados sobre o assunto, pois não são todos os cursos de Letras que oferecem aulas de literatura infantil e juvenil regularmente.

É interessante observar como alguns dos desafios da década de 1980 enfrentados por escritores permanecem atuais. Gloria Pondé conta que, além das dificuldades da profissionalização do autor no Brasil, faltava investimento em literatura infantil nacional, visto que as editoras precisam lucrar e, muitas vezes, era/ainda é mais viável apostar na tradução de livros internacionais. Independente do público-leitor, este dilema permanece presente no mercado editorial brasileiro. A autora traz duas tabelas que mostram o aumento da produção de literatura nacional nos períodos de 1975-1978 em relação a 1965-1974.

“Todo encontro com o livro tem algo de imprevisível e é preciso ter cuidado com as generalizações. Tudo é muito delicado, e a criança não se desenvolve de modo linear. De tempos em tempos, precisa regredir; às vezes, convivem dentro dela sentimentos contraditórios. Cada uma tem passado e presente diferentes e seu modo próprio de receber a leitura. Mesmo assim, podemos rastrear alguns interesses, visto que esse roteiro auxilia na adequação do livro às prováveis preferências do leitor, embora façamos essas ressalvas e suponhamos que a arte do escritor ultrapassa qualquer tipo de fórmula” – Gloria Pondé, A Arte de Fazer Artes

Desde o início, Pondé lembra que os livros voltados para crianças devem ser atraentes, levando em conta não só o texto, mas a relação com as ilustrações e demais elementos gráficos e, claro, serem adequados para o público de acordo com a faixa etária. A professora acreditava que antes de entrar na escola e ser alfabetizada, as crianças já deveriam entrar em contato com os livros e comenta como o conteúdo se transforma de acordo com as fases de crescimento.


De acordo com Gloria Pondé, a profissionalização do escritor ainda é desafiadora no Brasil e seria uma forma de se investir em mais qualidade de suas obras, dedicando mais tempo à criação. Segundo a autora, é preciso um amadurecimento da categoria, para que o escritor deixe de ser visto como um ‘biscateiro cultural’, defenda seus direitos autorais e tenha reconhecimento do público. Ela cita duas escritoras brasileiras que se destacaram na produção de literatura infantojuvenil, Ruth Rocha e Ana Maria Machado.

“A literatura é a porta de um mundo autônomo que ultrapassa a última página do livro e permanece no leitor incorporado como vivência. Esse mundo se torna possível graças ao trabalho que o autor faz com a linguagem. Literatura, pois, não transmite nada: cria tão somente no espaço da linguagem. É um engano acreditar que o caráter humanizante e formador da literatura vem da natureza ou da quantidade de informações que ela propicia ao leitor. Esse é um erro em que incorrem muitos escritores quando escrevem para a criança, porque confundem a natureza literária do texto com propostas educativas ou moralizantes” – Gloria Pondé, A Arte de Fazer Artes

Monteiro Lobato foi um dos autores brasileiros cuja proposta de literatura infantil acabou influenciando o movimento da literatura infantil contemporânea. Gloria Pondé explica que os livros do criador do Sítio do Picapau Amarelo em relação ao conteúdo e forma se assemelham às propostas atuais, através de elementos que ajudam a formar leitores de mentes abertas, sem abrir mão das críticas e criatividade, reagindo à literatura conservadora e alienante.

Para quem tem interesse em conhecer as origens da literatura infantil na Europa, a autora aborda desde a história dos contos de fadas e mostrando as transformações de acordo com as épocas e a relação entre a literatura popular e o folclore, passando pelos gêneros literários e tendências, com destaques para a ligação entre a linguagem na obra literária infantil e a realidade e a poesia e o folclore.

“Há dois momentos decisivos na história da literatura infantil: o século XVIII, que vai associá-la estreitamente à escola, e o século XX, que pretende libertá-la do vínculo didático e transformá-la em arte amadurecida, utilizando o ludismo da linguagem artística” – Gloria Pondé, A Arte de Fazer Artes

Gloria Pondé deixou sua contribuição tão importante para nosso país. Se o hábito da leitura for cultivado desde a infância, maiores são as chances de termos mais leitores e produtos culturais, o que pode ser fundamental para manter aquecido o mercado dos livros, possibilitar a mais escritores se dedicarem ao ofício e ser bom para a sociedade como um todo, levando em conta os benefícios do texto literário, seja ao nos levar a mergulhar para dentro de nós mesmos ou nos colocando em contato com o outro e reconhecendo as diferenças.

Sobre a autora – Gloria Pondé (1948-2006) foi uma das pioneiras nos estudos de literatura infantil no Brasil. Doutora em literatura brasileira pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), foi por mais de vinte anos professora da rede pública do estado. Gloria Pondé foi diretora executiva da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ), fundou e coordenou cursos de especialização em literatura infantil da UFRJ e na universidade Federal Fluminense (UFF) e publicou diversos livros de crítica literária no Brasil e no exterior. Em 1982 recebeu o prêmio Silvio Romero e, em 1994, o prêmio FNLIJ de melhor incentivo à leitura junto a crianças e jovens.

*Ben Oliveira é escritor, blogueiro e jornalista por formação. É autor do livro de terror Escrita Maldita, publicado na Amazon e dos livros de fantasia jovem Os Bruxos de São Cipriano: O Círculo (Vol.1) e O Livro (Vol. 2), disponíveis no Wattpad.

Comentários

Mais lidas da semana