O silêncio nada inocente
Nem sempre o silêncio significa concordar com o outro, às vezes ele vem da noção de que não importa o que será dito, você será mal interpretado. Então, tudo o que resta é deixar o outro projetar em você, coisas que sequer passam pela sua mente, te julgar e aprender internamente a não se deixar levar pelo julgamento do outro.
Escutar sem reagir nem sempre é uma tarefa fácil, especialmente diante de uma injustiça, mas pelo bem da sua saúde mental, muitas vezes você tem que deixar o outro pensar o que quiser de você e aceitar que uma invalidação do outro, não significa que você precisa aceitar como uma verdade absoluta.
Se você está em uma posição onde há pouco espaço para a expressão, muitas vezes é inevitável que você saia de uma conversa onde um dos lados se comunicou e o outro esteve no papel de mero ouvinte. Esse desequilíbrio nas relações geram interpretações erradas e cabe a cada um validar ou invalidar a invalidação do outro. Nem tudo o que é dito sobre você precisa fazer sentido e você tampouco precisa se explicar.
Às vezes, é preciso a escuta atenta de uma terceira pessoa, para que você não seja manipulado de alguma forma. A presunção de que alguém conhece tudo sobre você, mesmo te conhecendo há pouco tempo e ser interpretado de forma errada, pode afetar sua saúde mental.
Por isso, tão importante quanto saber ouvir, é saber o que não ouvir, ou seja, o que não levar como uma verdade sobre você. Estamos fadados a validar e invalidar os outros, nem sempre de forma consciente, mas em alguns casos, é aprendendo mais sobre a auto-validação que você recupera sua paz mental.
Então, às vezes você é atendido por mais de um profissional, mas um deles sabe mais sobre você do que o outro e pode abrir os seus olhos e te ajudar no processo de aceitação ou não do que foi dito, de validar se você foi mal interpretado ou não. Por isso a escuta atenta é tão importante, para evitar mal entendidos.
Você diz A, uma profissional diz B e a outra diz C. Forma-se um triângulo, mas nem sempre seus lados estão em sintonia. É preciso, então, fechar os olhos para o outro e escutar a própria voz, entender quais realmente são seus desejos e pensamentos sobre o assunto e, então, devolver ou não para o outro aquilo que não te pertence.
O silêncio nada inocente de quem escuta tudo com atenção e consegue perceber incoerências na subjetividade do outro, que traz julgamentos sobre você que nem sempre correspondem à realidade. O silêncio que precisa ganhar voz, ainda que interna e ainda que você não expresse ao outro, acompanhado da liberdade de que de tempos em tempos seremos mal interpretados e aprender a deixar ao outro, o que é dele e validar ou não o que realmente serve para você. Um exercício de reflexão sobre a vida e saber deixar fora da mente aquilo que não é para você. Um silêncio que às vezes grita não, mas que é muito mais do que um simples silêncio.
*Ben Oliveira é escritor, formado em jornalismo. Autor do livro de terror Escrita Maldita, publicado na Amazon e dos livros de fantasia jovem Os Bruxos de São Cipriano: O Círculo (Vol.1) e O Livro (Vol. 2), disponíveis no Wattpad e na loja Kindle.