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Destaques

Barganha

O silêncio da última vez em que se falaram era tudo o que restava. O som de passos se afastando, sem saber que seria a última vez, acompanhado de uma leve fantasia de que algum dia iriam se reencontrar, ainda que em um contexto diferente. Ao lidar com a luta contra o vício, também vinha revivendo memórias e, agora, duas semanas sem fumar cigarro, estava pensando em como a mente estava tentando barganhar. Quem sabe trocar por um cigarro mais barato? Quem sabe finalmente vou conseguir fumar menos? Muitas possibilidades que sabia que não deveria ceder. A ausência que alguém causava na vida não era tão diferente. Muitas vezes, ficávamos presos em um ciclo de “E Se”, alimentado por nostalgia, desejo e fantasia, mas nem sempre com os pés no chão. Mas assim como o vício que sabia barganhar, a mente também dava seus próprios meios de iludir de alguma forma. A aceitação radical de que algo não vai mais acontecer, muitas vezes, é tudo o que é necessário para conseguir seguir em frente. Estav...

Conto: A Morte do Artista – Ben Oliveira

O que você tem feito pelo seu sonho? A pergunta o machucou mais do que um soco no olho e ele já levara tantas pancadas da vida. Pensou em quando foi que ele começou a silenciar os próprios instintos; quando a ansiedade e o medo do julgamento alheio o fizeram se fechar.

Não estava em uma bela concha, não deixaria nenhuma pérola; quando deixamos de acreditar nas coisas que movem nossos espíritos, aceleramos nossa morte. Fechara-se em um túmulo e quando seu cadáver fosse enterrado, os vermes comeriam sua carne; os ossos frágeis, como eram os dele, ficariam abandonados.

Deixaria o legado da covardia? Era um bom artista, até que tentaram domá-lo. Chamaram-no de louco. Fizeram-no acreditar que sem a escrita seria mais feliz e bem-sucedido.

O sucesso nunca veio. O prazer de criar se convertera na amargura, na destruição da alma. Poderia ser diferente, poderia ser qualquer pessoa, mas escolheu abrir mão do coração sonhador. Morreria duas vezes ao longo da vida. Só entenderia quando era tarde demais: o caixão do artista é a normalidade.

Enquanto a terra caía sobre ele, pensara que não havia morte pior do que a dos sonhos.


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Um autor de terror aclamado e um novato sortudo best-seller recebem um convite: escrever um livro juntos. O processo de criação pode ser intenso, as emoções podem ficar confusas. Entre memórias e acontecimentos estranhos, pesadelos e ficção, linhas são ultrapassadas. Você estaria disposto a sacrificar tudo pelos seus sonhos? Leia Escrita Maldita, de Ben Oliveira, disponível na Amazon.

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