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Destaques

O Círculo das Invalidações

O círculo das invalidações. É difícil estar em um lugar onde cada pessoa tem uma expectativa sobre você, mas pouco importa o que você pensa ou sente. Escolhas são feitas, independente da sua opinião e cada pessoa te empurra em uma direção diferente, te deixando preso em uma nuvem de confusão. Às vezes, assim é a vida. Há momentos em que você precisa aprender a se posicionar, a dizer não e aceitar que nem tudo precisa ser como os outros querem, impor limites sinceros. A vida era feita de escolhas e sabia o custo de cada uma delas e nem sempre estava disposto a receber críticas que não condiziam com sua realidade. Então, às vezes era necessário quebrar o círculo, encarar o quadrado, observar o triângulo, quebrar a linha para então descobrir como realmente queria. Entre conselhos indesejados e comentários invalidantes, precisava se lembrar do mais importante: da auto-validação. Era ao silenciar as vozes que os outros tinham sobre ele, que poderia aprender a se escutar mais. Nem sempre é f...

Eles eram como dois livros diferentes

Eles eram como dois livros diferentes, cujas passagens não se encaixam, escritos em idiomas diferentes, lidos de maneiras diferentes. O que ele buscava era alguém que estivesse na mesma página, mas o que havia encontrado era um universo de incompreensões e confusões, como se as palavras se embaralhavam diante dos seus olhos e seus significados se distorciam.

Estavam lendo o mesmo livro? Talvez de cabeça para baixo, de frente para trás, em letras miúdas que precisavam se esforçar para conseguirem ler. À primeira vista, era como mergulhar em um universo completamente desconhecido, no qual as palavras lidas e suas interpretações eram totalmente diferentes.

Em um universo de incompatibilidades, aceitar que as diferenças jamais seriam superadas era tudo o que restava. Não havia razão para continuar tentando encontrar pontos em comum quando havia uma série de muralhas criando distância.

Ele se lembra que costumava ler um livro até o final, mas, de repente, se dá conta de que a vida é muito curta para isso. Se o livro não conseguiu te fisgar nos primeiros capítulos, por que se dar ao trabalho de forçar algo que não está fluindo?

Então, estar numa biblioteca lendo um livro indesejado é algo que o causa certa ansiedade, sabendo que existem livros mais compatíveis com o seu gosto, livros que fluem desde o início e são como embarcar numa viagem só de ida – sem precisar se preocupar com os próximos capítulos, pois tudo está tão claro e natural que é como poder respirar com tranquilidade e simplesmente se deixar levar pela história.

Foi aí que ele compreendeu as pessoas que deixavam os livros pela metade, que simplesmente partiam para a próxima leitura, sem sentir remorso pela escolha que havia feito – um conceito que antes parecia tão estranho para ele, havia se tornado realidade.

Sabia que havia um preço a se pagar quando se evitava o meio e o fim, mas parte dele estava tranquilo por saber que havia tentado e não estava disposto a lidar com o desconforto e a frustração. O livro que ele buscava era o livro que precisava no momento, aqueles que parecem cair na mão na hora certa. 

Ele fecha um livro, inspira fundo e deixa todo ar sair, sabendo que não havia espaço para a culpa nem para se justificar em excesso. Não, o livro que ele precisava não abria margem para interpretações duvidosas, era claro do início ao fim. E admitia que talvez o problema não estivesse no livro, só havia caído nas mãos erradas, no tempo incerto, de um leitor que não estava disposto a reler a obra nem se perder nas entrelinhas desconhecidas.

*Ben Oliveira é escritor, formado em jornalismo. Autor do livro de terror Escrita Maldita, publicado na Amazon e dos livros de fantasia jovem Os Bruxos de São Cipriano: O Círculo (Vol.1) e O Livro (Vol. 2), disponíveis no Wattpad e na loja Kindle..

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