O círculo das invalidações. É difícil estar em um lugar onde cada pessoa tem uma expectativa sobre você, mas pouco importa o que você pensa ou sente. Escolhas são feitas, independente da sua opinião e cada pessoa te empurra em uma direção diferente, te deixando preso em uma nuvem de confusão. Às vezes, assim é a vida. Há momentos em que você precisa aprender a se posicionar, a dizer não e aceitar que nem tudo precisa ser como os outros querem, impor limites sinceros. A vida era feita de escolhas e sabia o custo de cada uma delas e nem sempre estava disposto a receber críticas que não condiziam com sua realidade. Então, às vezes era necessário quebrar o círculo, encarar o quadrado, observar o triângulo, quebrar a linha para então descobrir como realmente queria. Entre conselhos indesejados e comentários invalidantes, precisava se lembrar do mais importante: da auto-validação. Era ao silenciar as vozes que os outros tinham sobre ele, que poderia aprender a se escutar mais. Nem sempre é f...
Escritores e leitores no Brasil: entre o prazer e o estranhamento
Visão subjetiva. Quem não gosta de ler não entende a importância dos livros para quem escreve e/ou é leitor. Muita gente vê o contato com os livros como uma perda de tempo. É triste. Isso me faz pensar sobre a importância do escritor se permitir. Não importa qual caminho escolhido, temos que confiar no que estamos fazendo. Nem sempre é uma tarefa fácil prosseguir em uma jornada que muitas vezes está associada a uma visão negativa dos outros ou à indiferença, mas são aqueles que sabem que os livros nos proporcionam viagens mágicas que nos dão força para seguir em frente.
A relação com a literatura é muito cultural. Em alguns países os livros são mais apreciados do que em outros. No Brasil, ainda há uma longa caminhada pela frente. Se ser leitor provoca estranhamento e até mesmo julgamentos de quem desconhece o prazer de se perder em um bom livro, ser escritor é como nadar contra a maré. A tensão entre a validação do que faz – muitas vezes procurada nos lugares errados – e a necessidade da criação literária é o que nos move.
Não chega a ser estranho para um escritor entrar em uma espiral de questionamentos existenciais. Para o leitor brasileiro, a atividade pode ser bem solitária e a comunidade literária na internet ajuda a conectar pessoas com afinidades parecidas. Para o escritor, no entanto, há uma cobrança esmagadora de si mesmo. Por que escrever quando existem milhares de livros? Qual o propósito de escrever romances que jamais serão publicados por editoras ou se tornar um sucesso de vendas? Por que ser um escritor em um país em que a leitura é tão desvalorizada? Entre tantas questões que podem nos aprisionar, levando a estados mistos de ansiedade e depressão e consequente desconexão consigo mesmo. Escrevemos porque existimos e isso deveria bastar.
A paixão pela escrita vai além do seu lado comercial, embora para um escritor, não seja nada mal ganhar dinheiro por seu ofício e não há nada de errado nisso, afinal, há todo um investimento de tempo, energia, entre outros recursos. Histórias e livros não se escrevem do nada. Da perspectiva daqueles que ignoram a literatura e destilam preconceito, artistas deveriam fazer algo ‘útil’. Parece até algo do passado, mas mesmo com as mudanças tecnológicas e gradativa abertura de escritores para o mercado, alguns escritores são vistos como criaturas perdidas, amaldiçoadas.
Relendo o livro Escrevendo com a Alma, da Natalie Goldberg, é impossível não lembrar de que se pensarmos demais pelo viés de quem não dá a mínima para a literatura, teremos motivos de sobra para não escrever. Mesmo sabendo de todos os desafios, a autora norte-americana incentiva a escrita frequente. Para algumas pessoas, escrever pode ir além da compulsão e também se transformar em uma prática de meditação, um espaço para se conhecer melhor e entrar em contato com suas emoções, sonhos, desejos e conflitos.
“Os escritores vivem duas vezes [...] Estão mais interessados, enfim, em reviver a vida ao escreverem do que em ganhar dinheiro [...] Ao contrário do que diz a crença popular, os artistas gostam de comer. Só que o dinheiro não é a principal motivação. Sinto-me riquíssima quando tenho tempo para escrever e paupérrima quando recebo regularmente meu contracheque, mas não tenho tempo de me ocupar do meu trabalho de verdade. Pense nisso. Os empregadores pagam salários em troca de tempo. É esse o bem mais valioso que o ser humano pode negociar”– Natalie Goldberg, Escrevendo com a Alma
O preconceito não é unilateral. Da mesma forma que os amantes dos livros são julgados por quem não lê, há um estranhamento com quem sabe ler, mas não demonstra o mínimo interesse pela leitura – sem mencionar o preconceito linguístico e o preconceito com determinadas obras. A distância das perspectivas seria mais agradável se houvesse mais respeito. As pessoas são diferentes. Contamos nossas vidas com o tempo e cabe a cada um saber a melhor maneira de administrar o seu. Seja escrevendo, lendo ou fazendo qualquer outra atividade, uma das lições universais deixadas pela literatura é a de que existem vários mundos dentro de cada um de nós e de que inevitavelmente coexistimos. Para quem odeia livros, nós, sonhadores, podemos parecer desperdiçadores de tempo, sempre com a cabeça na lua. Para quem ama ler e escrever, a vida parece curta demais para a quantidade de livros que gostaríamos de ter lido ou escrito.
Não há nada de errado em parecer estranho aos olhos do outro. Diante de um universo de possibilidades e de uma crise existencial, vale se questionar: Se você pudesse fazer o que tem vontade, o que faria?