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Destaques

O Círculo das Invalidações

O círculo das invalidações. É difícil estar em um lugar onde cada pessoa tem uma expectativa sobre você, mas pouco importa o que você pensa ou sente. Escolhas são feitas, independente da sua opinião e cada pessoa te empurra em uma direção diferente, te deixando preso em uma nuvem de confusão. Às vezes, assim é a vida. Há momentos em que você precisa aprender a se posicionar, a dizer não e aceitar que nem tudo precisa ser como os outros querem, impor limites sinceros. A vida era feita de escolhas e sabia o custo de cada uma delas e nem sempre estava disposto a receber críticas que não condiziam com sua realidade. Então, às vezes era necessário quebrar o círculo, encarar o quadrado, observar o triângulo, quebrar a linha para então descobrir como realmente queria. Entre conselhos indesejados e comentários invalidantes, precisava se lembrar do mais importante: da auto-validação. Era ao silenciar as vozes que os outros tinham sobre ele, que poderia aprender a se escutar mais. Nem sempre é f...

Resenha: O Menino Que Desenhava Monstros – Keith Donohue

Originalmente publicado em 2014, o livro de terror O Menino que Desenhava Monstros (The Boy Who Drew Monsters), do autor Keith Donohue, de 260 páginas, chegou ao Brasil em 2016, publicado pela editora DarkSide Books, com tradução de Cláudia Guimarães. O romance explora a história de uma família e como a condição de seu filho os transportam para uma atmosfera sombria e cheia de mistérios.

Livro O Menino Que Desenhava Monstros, de Keith Donohue

“Ultimamente, os monstros vinham persegui-lo dentro dos sonhos. Eles pousavam suavemente a mão em seus ombros. Sussurravam em seus ouvidos enquanto ele dormia. E o menino acabava acordando, mas não encontrava nada nem ninguém” – Keith Donohue

Desde o prólogo, Keith Donohue dá um gostinho do que vem a acontecer na narrativa. Um garoto que vive em uma casa que era um sonho dos pais, na qual ele é atormentado pelos monstros e pesadelos. São esses comportamentos repetitivos que movimentam a história e nos levam para flashbacks, permitindo entender algumas ações do presente e o contexto dos personagens principais.

Jack Peter é um garotinho que tem Síndrome de Asperger, uma condição psicológica (com algumas semelhanças do autismo) que desde a manifestação dos primeiros sintomas provocou uma ruptura em sua família, seja pelas expectativas frustradas dos pais ou pelas dificuldades de como eles devem reagir diante das crises do filho. Ele acorda com pesadelos, passa maior parte do seu tempo sozinho e, por vezes, tem comportamentos agressivos – o terror psicológico e o terror sobrenatural andam de mãos dadas em O Menino que Desenhava Monstros, combinação que torna a trama mais excitante à medida que a história vai desenrolando.

“Não tenha tanta certeza sobre as coisas que não pode ver. A mente conjura o mistério, mas é o espírito que fornece a chave”Keith Donohue

O romance é narrado em terceira pessoa, dividido em cinco partes e os capítulos intercalam os pontos de vista dos personagens principais, proporcionando diferentes olhares e experiências sobre os mesmos acontecimentos contados. Essa repetição de cenas, no entanto, não se torna cansativa, já que a cada fragmento, além de apresentar outra perspectiva, também possibilita ao leitor juntar as peças e tentar captar melhor o que se passa com a família Keenan. É como se pudéssemos acompanhar diferentes câmeras seguindo os personagens, gravando e reproduzindo e estes movimentos de idas e vindas aumentam a tensão e o suspense da narrativa.

Leitura O Menino Que Desenhava Monstros, de Keith Donohue

Tim Keenan é o pai de Jack ou Jip, como ele costuma chamar o garoto. O homem tem suas próprias frustrações e, muitas vezes, parece incapaz de aceitar a condição do filho, sempre torcendo para que um dia Jack acorde melhor, mas sem tomar decisões práticas necessárias para a melhora dele. Mas a mãe, Holly sabe que a cada dia que passa Jack está perdendo o controle e quanto mais velho ele vai se tornando, também fica mais forte e isso a deixa preocupada em relação às futuras crises. Esses desencontros entre as opiniões dos pais levam a outros conflitos secundários, que dão mais densidade ao romance e uma apimentada.

“Os ossos estavam dançando em sua imaginação desde a véspera do Natal. De onde vinham aquelas imagens insistentes, Jack Peter não sabia. Às vezes, uma imagem surgia do nada, e ele se sentia obrigado a colocá-la no papel o mais rapidamente possível. Outras vezes, ele desenhava coisas apenas porque queria, e essas eram as imagens que controlava. Mas, nos últimos tempos, essas imagens surgiram sem ser convidadas”.Keith Donohue

Outro personagem-chave da história é Nicholas ou Nick, filho de Fred e Nell Weller, que são amigos da família Keenan. Com pouquíssimos amigos, Nick e Jack cresceram juntos e quanto mais mergulhamos no passado dos dois, mais vemos que não há coincidências nestes jogos e brincadeiras. O destino da família Keenan está traçado e ligado ao da família Weller – alguns esqueletos não conseguem ficar para sempre no armário. Fantasmas, monstros, criaturas... Os planos se entrecruzam e diante do perigo, o ceticismo é desafiado.

Stephen King já dizia que monstros são reais. O Menino Que Desenhava Monstros explora o medo. O que provoca terror em mim nem sempre pode não ser tão assustador para você, mas todos somos tocados pelos horrores do inexplicável. Quando coisas estranhas começam a acontecer e ninguém mais sabe o que é imaginação, alucinação, pesadelos ou realidade, o leitor é levado para o universo de Jack Peter – se em alguns momentos pode parecer confuso para a gente, imagina para o personagem. Não chega a ser algo que atrapalha a nossa imersão. Para quem gosta dos fantasmas da mente humana e sua ponte com o terror fantástico, assim como em A Menina Submersa, essas especificidades do personagem que acabam influenciando a narrativa, como uma lente, só vem a enriquecer e moldar a linguagem, ditar o ritmo e proporcionar uma experiência de imersão.

“Amigos imaginários costumam partir sem se despedir. No outro travesseiro, à sua frente, jazia deitada a cabeça de Nicholas Weller. Jack Peter queria esticar a mão e cutucar a bochecha do amigo com o medo, mas, se aquele fosse Nick de verdade, ele poderia ficar bravo. Por outro lado, até amigos imaginários podem perder a paciência” – Keith Donohue

Keith Donohue escreveu um romance de terror que envolve o leitor de forma que, assim como Jack fica preso dentro de sua própria mente – ou pelo menos é o que seus pais acham –, difícil é não se deixar seduzir pelas sereias que cantam em nossos ouvidos e guiam nossas mãos dos próprios desenhos que fazemos da vida. Alguns monstros são mais monstros do que outros? Entre criaturas que escutam nossos medos e sussurram coisas que não queremos ouvir, em O Menino que Desenhava Monstros percebemos que os humanos ainda são os mais assustadores.

Keith Donohue, autor do livro O Menino Que Desenhava Monstros

Sobre o autor – Keith Donohue é o autor do best-seller The Stolen Child, além de The Angels of Destruction e Centuries of June. Seus livros já foram traduzidos para mais de doze idiomas. O Menino que Desenhava Monstros chamou tanto a atenção do público que rapidamente teve seus direitos vendidos para o cinema. O autor, que tem Ph.D. em Inglês pela Catholic University of America, vive em Maryland. Saiba mais em keithdonohue.com.

Garanta o seu exemplar de O Menino que Desenhava Monstros, de Keith Donohue!  

*O livro foi enviado pela editora DarkSide Books, parceira do Blog do Ben Oliveira, para que eu pudesse ler e resenhar para os leitores.

PS: Para quem acompanha as outras publicações da DarkSide Books, é possível estabelecer um diálogo delicioso entre as leituras.

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