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Destaques

She Said: Filme sobre jornalistas expondo crimes de Harvey Weinstein

O filme She Said é uma ótima indicação de filme para quem gosta de jornalismo investigativo. É sobre duas jornalistas do New York Times responsáveis por uma reportagem investigativa sobre os abusos cometidos por Harvey Weinstein, um produtor poderoso de Hollywood. Disponível na Netflix . Para quem acompanhou o caso ao vivo, talvez não tenha muitas surpresas ao assistir, ainda assim, vale a pena conferir todo o processo de produção da reportagem até que ela fosse publicada, expondo os crimes sexuais cometidos por Harvey Weinstein. Em uma época em que as vítimas já tinham fechado acordos de silêncio e outras pessoas tinham medo de se manifestar, foi graças ao trabalho das duas jornalistas e de outros veículos de comunicação que o caso ganhou visibilidade. She Said poderia facilmente ser um documentário, o filme biográfico narra como foram os dias das jornalistas, suas dificuldades e acertos, bem como o tão esperado momento: quando a reportagem finalmente foi publicada, atraindo todos os...

Pandemia de Desinformação: O desafio de combater informações falsas de saúde

As discussões sobre desinformação nas redes sociais têm ganhado cada vez mais destaque nos últimos anos. Com as crises políticas, ameaças à democracia e com as questões de saúde pública, como as informações falsas sobre a pandemia, vacinação e tratamentos sem comprovação científica, que as grandes empresas de tecnologia estão tendo que lidar com a pressão de todos lados, seja para banir usuários que criam e espalham fake news, excluir perfis falsos, penalizar quem publica discurso de ódio e, uma porção mais conservadora, defendendo que seus posicionamentos fazem parte da liberdade de expressão.

Acompanhar a CPI da Pandemia se tornou algo prazeroso e angustiante para mim. Indignar-se com fake news de saúde e disseminação de tratamentos sem comprovação científica não é algo que surgiu nesses anos de Covid-19 para mim. 

Em abril de 2019, enquanto uma colega jornalista mobilizou uma grande campanha contra o MMS, substância tóxica que era vendida ilegalmente e oferecida para familiares de pessoas no espectro autista como promessa de cura do autismo, eu criei minha própria campanha virtual tentando alertar não só sobre o MMS, mas sobre outros tratamentos sem comprovação que ainda eram, são e provavelmente serão oferecidos para famílias de autistas.

Cheguei a receber agradecimentos nacionais e internacionais, já que a luta contra o MMS é internacional. Muitas pessoas pediram até mesmo para eu voltar a falar sobre o assunto, mas pela natureza de combate à desinformação, foi algo que drenou muita energia minha e deixei de lado, tendo feito o possível, de forma independente e sem recursos financeiros.

Na época, eu fiquei bem irritado ao perceber que tirando a mobilização que se criou contra o MMS, após ganhar o destaque com reportagens grandes, como a do Fantástico, os outros tratamentos sem comprovação científica continuaram no escuro no Brasil – mesmo sendo contraindicados por agências reguladoras de saúde de vários países e instituições sérias de apoio à causa autista.

Para o meu assombro ou nem tanto assim, o que parecia um capítulo encerrado, voltou à tona. O mesmo MMS (Miracle Mineral Supplement/Miracle Mineral Solution) que já havia sido criticado como tratamento falso e sem qualquer eficácia para o autismo e inúmeras outras condições, como resfriados, acne, hepatite viral, malária, HIV – e uma lista sem fim, já que seus vendedores só estão interessados no dinheiro –, estava de volta, desta vez, sendo espalhado como uma cura para o Coronavírus.

Aparentemente, as recomendações do MMS para Covid-19 não se popularizaram tanto no Brasil quanto às ofertas para autismo, cujos vendedores miravam os familiares de autistas em grupos de Facebook e WhatsApp e vídeos publicados no YouTube. Qualquer semelhança com a maneira que esses vendedores agem com os mecanismos de desinformação não são só coincidência: do mesmo modo que algumas famílias de pessoas no espectro autista ficam fragilizadas pelas dificuldades de acesso aos serviços de saúde e direitos e acabam desesperadas por uma solução mágica que não existe, familiares de pessoas com Covid-19 podem ser facilmente influenciadas a aceitar um tratamento que não existe para amenizar a angústia.

Tudo isso para dizer que: as redes sociais precisam, sim, de uma atuação mais firme no banimento e exclusão de quem promove alguns tratamentos que podem ser letais. No caso do MMS, por exemplo, o incentivo ao uso é considerado um crime de saúde pública e pelo mundo todo, já ocorreram prisões e investigações de vendedores e até mesmo familiares de autistas tiveram que responder por usar a substância ilegal, capaz de provocar náusea, vômito, diarreia e até mesmo morte por desidratação.

A quantidade de pessoas que luta para espalhar informações de qualidade e combater informações falsas de saúde é bem menor do que as que promovem curas ‘milagrosas’ e sem comprovação científica. Não dá para competir em um nível humano – nesses momentos, os algoritmos das redes sociais podem fazer diferença. Cada pessoa que acredita no discurso de uso de determinados de substâncias e remédios, sem saber ao certo quais são seus efeitos colaterais, é uma vida que poderia ter sido salva.

Puxando para a questão da pandemia, no Brasil e em outros países, a Hidroxicloroquina, Ivermectina e outras substâncias estão sendo recomendadas como tratamento sem comprovação científica, inclusive por médicos e outros profissionais de saúde. Isso reforça a importância da CPI da Covid, pois acaba sendo também uma forma ampla de informar o público e de mostrar a importância dos fatos e dados quando se trata de Ciência. 

A falta de eficácia da Hidroxicloroquina foi algo amplamente comentado por jornais e especialistas de saúde, mas por conta do viés e da confiança nos discursos de outras pessoas, muita gente acredita falsamente que existe uma conspiração da indústria farmacêutica de não querer vender o remédio como tratamento para Covid-19 por ser barato e também por preferir acreditar em alguns médicos que prescrevem e no próprio presidente, Jair Bolsonaro, do que nas pesquisas científicas sérias.

O que vejo em comum na luta contra o MMS e na luta contra a Cloroquina é a dificuldade de combater a desinformação científica quando o público-alvo não está disposto a encarar a verdade e entra em processo de negação, bem como a já citada utilização da vulnerabilidade do paciente e/ou familiar para induzi-lo a aceitar o tratamento sem comprovação científica e não recomendado por órgãos reguladores de saúde, como a FDA que aprovou o uso da Hidroxicloroquina para Malária e Artrite, mas não recomenda para Covid-19.

Mesmo com a não indicação da Hidroxicloroquina para Coronavírus, alguns veículos espalham informações que confundem mais o público, especialmente a população mais leiga. Nessas horas, o trabalho das agências de checagem de fatos e jornais têm feito bastante diferença, mas não é o suficiente porque por questões ideológicas, políticas e eleitorais, muitos brasileiros preferem ignorar algumas fontes jornalísticas e só consumir conteúdos dos jornais alinhados aos seus posicionamentos ideológicos, o que nem sempre reflete na qualidade jornalística.

Além do FDA, a Anvisa e a Organização Mundial da Saúde (OMS) também são contra o uso da Cloroquina para pessoas com Covid-19. A recomendação de alguns tratamentos sem comprovação científica para pacientes com Coronavírus vêm tanto de alguns profissionais conservadores, como do público antivacina. Uma das pessoas que ajudou a espalhar informações sobre a Cloroquina foi o Donald Trump, ex-presidente dos Estados Unidos.

Vale notar que, do mesmo modo que a luta contra o MMS recomendado para autistas (e muitas condições) é de interesse internacional, cada vez mais a mídia, profissionais de saúde e pesquisadores da pandemia têm revelado que, embora a internet e as mídias sociais servem para informar e educar o público para proteção contra o coronavírus e a importância da vacinação, também se tornaram ferramentas com o potencial de ampliar as vozes de negacionistas, os jogando contra jornalistas, médicos e cientistas e os fazendo questionar sobre a eficácia das vacinas, das medidas de restrições sociais e da real existência de uma pandemia.

Diante do cenário caótico da pandemia, onde milhões de pessoas morreram de Covid-19 pelo mundo, as pessoas não veem a hora disso tudo passar, essa ansiedade alimenta não só a indignação de quem quer mais vacinas, mas também serve como gatilho para o negacinismo e dissonância cognitiva. 

Enquanto alguns países estão relativamente mais tranquilos por causa da vacinação avançada e souberam usar as restrições sociais para diminuir a circulação do vírus, outros, como o Brasil e a Índia estão mergulhados na tragédia humana, na qual além do mortal Coronavírus, a população também tenta sobreviver às inúmeras informações falsas e recomendações de tratamentos sem comprovação científica que circulam pela internet e, claro, o combate à fome, desemprego e colapso do sistema de saúde pela quantidade insuficiente de pessoas imunizadas e desrespeito às recomendações dos órgãos de saúde. 

A cura para a desinformação da saúde de forma ampla (não só no cenário do Covid-19) talvez não exista, pois seria praticamente impossível excluir todo mundo que compartilhe algum tratamento sem comprovação científica para qualquer doença – até porque, entre tantas recomendações, algumas chegam a ser risíveis. Porém, a vacina das redes sociais pode e deve ajudar na diminuição da circulação desses conteúdos, sempre lembrando que, em muitos casos, as substâncias e remédios errados podem provocar tantos danos e até matar, como o vírus.

*Ben Oliveira é escritor, formado em jornalismo. Autor do livro de terror Escrita Maldita, publicado na Amazon e dos livros de fantasia jovem Os Bruxos de São Cipriano: O Círculo (Vol.1) e O Livro (Vol. 2), disponíveis no Wattpad e na loja Kindle.

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