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Destaques

Dois meses sem fumar cigarro

Quando eu comecei a parar de fumar cigarro, a primeira coisa que eu tinha em mente era a de que não queria ser o tipo de pessoa que fica contando com frequência há quanto tempo estava sem fumar, até me dar conta da importância disso, pelo menos no início. Aos dois meses sem fumar cigarro, a tentação e a fissura diminuem, tornando mais fácil de lidar com a ausência da nicotina. No início, é normal que haja um estranhamento do horário em que costumava fumar agora estar sendo usado para outra coisa, mas com o passar do tempo, as coisas melhoram. Ao mesmo tempo em que não via a importância de contar o tempo sem cigarro, uma parte de mim não acreditava que conseguiria ficar tanto tempo sem cigarro, como se fosse ficar preso em um constante ciclo de recaídas, mas a verdade era que havia conseguido e tinha como plano continuar longe do cigarro. Então, sim, depois de um tempo sem o cigarro e a nicotina, as coisas realmente melhoram, não é só algo que dizem para inspirar a pessoa a não desi...

A Chave, o Livro e o Cadeado

Ganhei um marcador de páginas de corrente. Quem me conhece sabe que amo livros e que não poderia deixar de gostar de um presente assim. Meu melhor amigo disse que escolheu este marcador por causa de seus pingentes: uma chave e um cadeado. “É como se a cada livro você fosse entrar por uma porta para um mundo desconhecido”. Ele não poderia definir melhor a sensação de uma boa leitura.

Quantas portas eu tenho aberto ultimamente? A cada viagem feita, é como se eu trouxesse novas histórias para contar, novas vivências, novas experiências. Creio que da mesma forma que uma chave te permite adentrar em outro universo, ela também pode ser usada para fechar aquela porta a qualquer momento, caso a leitura não seja agradável ou se torne pesada demais.

A minha corrente de chave e cadeado são minha proteção. Uma maneira de garantir que eu não me perca no meio das centenas de páginas. Também pode significar um convite. O marcador de páginas é tão lindo que já pensei até em usá-lo no meu pescoço – quem sabe deste jeito eu me transforme em um guardião dos livros.

Ler também significa viajar. Fecho os olhos e me lembro das horas no aeroporto aguardando o voo. Enquanto algumas pessoas só tem nestes pequenos momentos a oportunidade de mergulharem na leitura, outras tornam a ação diária em sua vida. Meu amigo está ao meu lado, lendo um livro de bruxaria. A cada página que lemos, contamos o que mais gostamos da história um para o outro. Longe de atrapalhar, aquilo é a nossa maneira de compartilhar nossas vivências, o que estamos aprendendo, o que nos agrada ou desagrada.

Entre cafés e histórias, observo meu amigo balançar o seu livro animadamente. Seu marcador de páginas também é de corrente, porém o seu pingente é um avião que balança, como se estivesse planando. Estávamos viajando dentro de outra viagem. Seria como uma viagem dupla, já que aproveitávamos para ler somente quando estávamos cansados demais para andar pelas ruas do Rio de Janeiro.

De volta à nossa cidade, olho para o pingente e me pergunto se a vida também não é como uma leitura. Quantas portas nós abrimos com nossas chaves e quantas nós deixamos de abrir, seja por que não temos uma chave ou porque ela não se encaixa no cadeado. O livro que alguém gostou, você pode odiar ou não se empolgar. A chave e o cadeado certos te dão o poder de abrir novos caminhos, novas aventuras e emoções, porém quando incompatíveis podem te trazer dor de cabeça e mágoas. Abracei o livro, como se abraçasse a mim mesmo e repeti em minha mente: “Tudo vai ficar bem. Você tem a chave e tem o cadeado. Da mesma forma que pode se abrir para o desconhecido, também pode se fechar quando necessário”.

E talvez, mas só talvez, uma forma de não se decepcionar com uma leitura ou uma viagem, seja não criando tantas expectativas. Deixando-se aberto ao que vem pela frente, é possível se surpreender com tudo, afinal, você está em uma área desconhecida. Inesquecível ou horrível, quem faz a sua jornada é você mesmo.

*Texto: Ben Oliveira

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