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Destaques

A difícil arte de encerrar ciclos

A difícil arte de encerrar ciclos. Ciclos que já não funcionavam. Às vezes, não importa o quanto você tente, as coisas simplesmente não vão funcionar. Então, você decide que não quer para o seu próximo ano, as mesmas coisas que aguentou no ano passado e atual, você deseja mudanças. Só que falar em mudanças é fácil. Difícil é colocar em prática. Ver você se dando conta de que é capaz de coisas que antes sequer imaginaria. Deixar alguém para trás. Deixar alguém que não faz parte mais do seu presente. Deixar alguém que não faz parte dos pensamentos no futuro. Deixar alguém. Ia encerrando ciclo após ciclo, na esperança de ter um ano mais leve, sem repetições dos mesmos erros. Ia só então se dando conta de que o amanhã poderia ser mais leve quando se realmente deixava pra trás o que estava pesando e parasse de ignorar. Não, algumas coisas deveriam ser encaradas de frente.  *Ben Oliveira é escritor, formado em jornalismo . Autor do livro de terror  Escrita Maldita , p ublicado na Am...

A Chave, o Livro e o Cadeado

Ganhei um marcador de páginas de corrente. Quem me conhece sabe que amo livros e que não poderia deixar de gostar de um presente assim. Meu melhor amigo disse que escolheu este marcador por causa de seus pingentes: uma chave e um cadeado. “É como se a cada livro você fosse entrar por uma porta para um mundo desconhecido”. Ele não poderia definir melhor a sensação de uma boa leitura.

Quantas portas eu tenho aberto ultimamente? A cada viagem feita, é como se eu trouxesse novas histórias para contar, novas vivências, novas experiências. Creio que da mesma forma que uma chave te permite adentrar em outro universo, ela também pode ser usada para fechar aquela porta a qualquer momento, caso a leitura não seja agradável ou se torne pesada demais.

A minha corrente de chave e cadeado são minha proteção. Uma maneira de garantir que eu não me perca no meio das centenas de páginas. Também pode significar um convite. O marcador de páginas é tão lindo que já pensei até em usá-lo no meu pescoço – quem sabe deste jeito eu me transforme em um guardião dos livros.

Ler também significa viajar. Fecho os olhos e me lembro das horas no aeroporto aguardando o voo. Enquanto algumas pessoas só tem nestes pequenos momentos a oportunidade de mergulharem na leitura, outras tornam a ação diária em sua vida. Meu amigo está ao meu lado, lendo um livro de bruxaria. A cada página que lemos, contamos o que mais gostamos da história um para o outro. Longe de atrapalhar, aquilo é a nossa maneira de compartilhar nossas vivências, o que estamos aprendendo, o que nos agrada ou desagrada.

Entre cafés e histórias, observo meu amigo balançar o seu livro animadamente. Seu marcador de páginas também é de corrente, porém o seu pingente é um avião que balança, como se estivesse planando. Estávamos viajando dentro de outra viagem. Seria como uma viagem dupla, já que aproveitávamos para ler somente quando estávamos cansados demais para andar pelas ruas do Rio de Janeiro.

De volta à nossa cidade, olho para o pingente e me pergunto se a vida também não é como uma leitura. Quantas portas nós abrimos com nossas chaves e quantas nós deixamos de abrir, seja por que não temos uma chave ou porque ela não se encaixa no cadeado. O livro que alguém gostou, você pode odiar ou não se empolgar. A chave e o cadeado certos te dão o poder de abrir novos caminhos, novas aventuras e emoções, porém quando incompatíveis podem te trazer dor de cabeça e mágoas. Abracei o livro, como se abraçasse a mim mesmo e repeti em minha mente: “Tudo vai ficar bem. Você tem a chave e tem o cadeado. Da mesma forma que pode se abrir para o desconhecido, também pode se fechar quando necessário”.

E talvez, mas só talvez, uma forma de não se decepcionar com uma leitura ou uma viagem, seja não criando tantas expectativas. Deixando-se aberto ao que vem pela frente, é possível se surpreender com tudo, afinal, você está em uma área desconhecida. Inesquecível ou horrível, quem faz a sua jornada é você mesmo.

*Texto: Ben Oliveira

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