Pular para o conteúdo principal

Destaques

Sobre Reler Livros

Reler um livro era como tocar um tecido que você já usou várias vezes, como se fosse pela primeira vez. A textura parecia diferente; o cheiro não era o mesmo; Era impossível não imaginar na palavra que circulava pela mente: diferente.  E por que esperar pelo impossível igual? O leitor não era o mesmo. Um intervalo de tempo considerável havia se passado. O personagem que costumava ser o favorito talvez agora seja outro. O texto que escreveria a respeito do livro talvez jamais fosse igual. Era um diferente leitor, um diferente livro, uma diferente interpretação. Ler pelo mero prazer era diferente de ler pensando na resenha que escreveria em seguida. Escolher o livro de forma aleatória era diferente de já tê-lo em mente. Reler era diferente de ler, mas sobretudo, era uma nova forma de leitura: os detalhes que antes não chamavam a atenção, agora pareciam brilhar nas páginas. Não estava no mesmo lugar em que estava quando o leu pela primeira vez. Sua pele não era a mesma, tampouco seu céreb

Dia do Leitor deveria ser todo dia: O desafio do baixo índice de leitura no Brasil

Nesta quarta-feira, 07 de janeiro, comemora-se o Dia do Leitor no Brasil. Para quem é apaixonado por livros, depois que o hábito de ler é desenvolvido, dificilmente é possível parar. Manias são criadas. Ler se torna um prazer, uma necessidade, um vício. Nossos mundos internos acabam sendo divididos entre aqueles que se aventuram pelas páginas de uma obra, seja de ficção ou não ficção, e aqueles que inventam dezenas de motivos para não ler.
No Dia do Leitor este trecho do livro O Prazer de Ler, da escritora Heloisa Seixas define bem o prazer da leitura.

Uma das principais dificuldades de todos os profissionais envolvidos com o mercado editorial no nosso país é o baixo índice de leitura. Segundo a edição de 2011 da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, promovida pelo Instituto Pró-Livro, apesar de o número de leitores não ter diminuído com o passar dos anos, o que já seria demais, também não se desenvolveu como o esperado.  Foram considerados leitores somente as pessoas que haviam lido pelo menos um livro nos últimos três meses da pesquisa. Entre os dados levantados estão o de que dos 88,2 milhões de leitores, 57% são do sexo de feminino e 43% estão no Sudeste, além de a grande maioria morar em capitais e municípios com mais de 100 mil habitantes.

Ainda de acordo com a pesquisa, o índice de leitura está fortemente relacionado com o nível de escolaridade e condições econômicas, sendo aproximadamente 56,6 milhões de leitores que estudam. Mesmo com a melhoria da renda do brasileiro nos diferentes anos de realização da pesquisa, apesar do maior consumo de automóveis e eletrônicos, não foram notados um aumento do consumo de livros. A classe média consumiu aproximadamente 1/3 dos livros comprados pela Classe A.

"A mudança no padrão de consumo depende de mudanças culturais que são mais lentas e envolvem a valorização e interesse desses consumidores", afirma Zoara Failla, organizadora da 3ª edição do livro Retratos da Leitura no Brasil.

Não se trata somente do preço do livro ser mais acessível e do aumento das variedades de lançamentos. O Instituto Pró-Livro afirma a necessidade de despertar o interesse através de um processo educativo de formação cultural de novos leitores e de outras produções artísticas. De 2007 a 2011, por exemplo, aumentou o interesse das pessoas por filmes, televisão (maior crescimento na população brasileira) e internet, mas atividades culturais como a leitura de jornais, revistas, livros e textos na internet, bem como a escrita tiveram uma queda. Não é possível afirmar sem as pesquisas mais recentes, porém pode-se deduzir que as redes sociais, aplicativos e jogos estariam entre os hábitos queridinhos deste ano, enquanto a leitura, mesmo com o aumento de plataformas digitais, não teria uma diferença significativa, pois não se trata somente da acessibilidade, e sim da influência cultural.

A Bíblia foi o livro mais lembrado pelos leitores (42%). Não se trata somente do alto consumo, mas como é apontado pelos pesquisadores, da vergonha daqueles que não se lembram de outros títulos, muitas vezes por não ler outras obras. É interessante notar que quanto maior o nível de desenvolvimento econômico da região do leitor pesquisado, maior foi o número de livros e autores citados. Após o livro sagrado, os cinco gêneros mais lidos pelos brasileiros foram:

  • Livros didáticos (32%) 
  • Romance (31%) 
  • Livros religiosos (30%) 
  • Contos (23%)
  • Livros Infantis (22%)

Vivemos em um país onde a profissão do professor não é tão valorizada quanto deveria ser, não somente pela questão salarial, mas também cultural. Todavia, de 2007 a 2011, o Retratos da Leitura no Brasil apontou o crescimento da influência do professor no estímulo a leitura (de 33% para 45%) e a diminuição da influência dos pais. Os autores da pesquisa ressaltam a importância do investimento na formação do professor-leitor, como mediador da leitura, e do investimento em acervos com obras de ficção. Mesmo com este papel importante do professor, a pesquisa revelou a forte influência dos livros de autoajuda e a maioria deles não soube citar nenhum autor, registrando a dificuldade de despertar o interesse da leitura nos estudantes, quando o próprio educador não sente tanto prazer na atividade.

A pesquisa também registrou que só o aumento do número de bibliotecas no Brasil não fez tanta diferença na hora de conquistar novos leitores. Segundo os dados, a maioria dos leitores tem preferência por comprar os livros. Os autores do retrato do leitor brasileiro acreditam que é fundamental convidar a comunidade a frequentar mais a biblioteca, oferecendo diversas atividades culturais, e incentivando à leitura, pois muitas pessoas a enxergam como um lugar para estudar.

O principal motivo citado pelas pessoas pesquisadas que não gostavam de ler é a dificuldade (leitura devagar, dificuldade de interpretar o texto, falta de paciência, tem problemas de visão ou outras limitações físicas e analfabetismo). Por causa da incapacidade de ler, muitos brasileiros são incapazes de ter acesso ao conhecimento e serem mais atuantes na sociedade. Uma das estratégias recomendadas pelos autores da pesquisa é a redução do número de analfabetos funcionais.

“Diante da complexidade dessa realidade da educação brasileira, melhorar os indicadores de leitura é um grande desafio. Não basta conhecer o comportamento leitor e medir os indicadores de leitura, é preciso identificar o que necessita ser transformado ou melhorado para se reverter esses números. Trata-se de conhecer e escolher caminhos e eles seguem em muitas direções, pois a origem dos baixos índices de leitura está em muitos lugares. O desafio é gigante e deve ser assumido pelo governo e sociedade civil. Mas é urgente!”, justificam os autores da pesquisa.

O que pode explicar a baixa média de livros lidos no ano pelo brasileiro? De 2007 a 2011, o número de 2,7 livros por ano diminuiu para 1,85. Nos tempos modernos, com inúmeras distrações e excesso de informações, creio que uma das justificativas alegadas seria a falta de tempo. Será mesmo que essas pessoas não têm tempo para ler ou não sabem administrá-lo? Se consegue encontrar alguns minutos ou horas do dia para assistir televisão, se entreter na internet (58% dos entrevistados) e bater papo com os amigos, com um pouco de disciplina pode-se encontrar uma brecha para ler (76% dos entrevistados que usam a internet não acessam qualquer site ligado a livros ou à literatura). O tempo dentro do transporte público, por exemplo, pode ser aproveitável, principalmente nas metrópoles, onde as pessoas passam quase metade do dia se locomovendo da casa para o trabalho.

"Ler deve ser entendido como muito mais do que apenas uma etapa na aquisição e transmissão de conhecimentos acumulados pela espécie – embora também englobe esse aspecto, nada desprezível. Mas é muito mais que isso: é uma oportunidade de se ter contato com a literatura, arte das palavras" – trecho do artigo Sangue nas Veias (presente no livro Retratos da Leitura no Brasil 3, org. Zoara Failla), da escritora Ana Maria Machado.

No Dia do Leitor é preciso comemorar o aumento do número de jovens que se interessam pela literatura. As preocupações sobre os livros digitais (eBooks) predominarem sobre os livros impressos não deveriam ser tão fortes no Brasil, onde o principal desafio é o de conquistar os leitores. Independente da plataforma ou formato, meio online ou off-line, ainda é necessário o incentivo à leitura. Preconceitos literários justificáveis ou não, é preciso começar por algum lugar. Com as febres dos best-sellers juvenis, há uma série de debates sobre se o leitor de literatura comercial se interessará por livros de literatura de qualidade ou não. Aliás, o número de temáticas não para de crescer.
Uma dose de leitura pelos metrôs de São Paulo. Mesmo viajando, não consigo desgrudar dos livros.

A relação entre o leitor e o livro é única. O que me serve pode não lhe servir e vice-versa. Mais do que uma válvula de escape, uma oportunidade de desenvolver a imaginação e se colocar na pele dos personagens, a literatura também possibilita a reflexão sobre a própria vida, a sociedade e a compreensão sobre a condição humana. Contamos histórias para encontrar significados. Lemos para existir, para viver, para não enlouquecer, para não adoecer, para aprender, para sorrir, para chorar, para nos transformarmos. Neste dia, debates à parte sobre literatura menor e cânone literário, fico feliz em ver uma gama de leitores compartilhando sua paixão pelos livros. O desafio da leitura no Brasil é enorme, mas é bom ver o interesse de muitos leitores que compartilham seus livros favoritos, recomendam leituras e tentam passar esse vírus adiante. Como seria boa uma epidemia de leitores no país... Que esse amor pela literatura se espalhe e seja celebrado sempre.

Por um mundo com mais leitores... Feliz Dia do Leitor para quem acha que esta data deveria ser comemorada todos os dias! 

*Os dados da pesquisa citados acima e muitos outros podem ser conferidos no livro Retratos da Leitura no Brasil 3, organizado por Zoara Failla, promovido pelo Instituto Pró-Livro e disponível gratuitamente no site: http://prolivro.org.br/

Comentários

  1. Realmente, o Brasil ainda precisa melhorar muito no que se refere a leitura. Espero que isso mude e que as pessoas descubram como é maravilhoso estar envolvido com um livro.
    Ótimo post!
    amor-e-melancia.blogspot.com.br

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi, Amor e Melancia!
      Também gostaria de ver mais pessoas se encantando pelos livros. Seria lindo!
      Os escritores seriam mais valorizados, assim como os leitores.
      Abraços! Obrigado pelo comentário.
      Volte sempre ;-)

      Excluir
  2. "Por um mundo com mais leitores... Feliz Dia do Leitor para quem acha que esta data deveria ser comemorada todos os dias!" Final perfeito Ben. Camarada, salvo algum engano, no ano passado minha cidade natal, Natal/RN, foi realizada uma pesquisa e descobriram que os natalenses leem em média 4 livros por ano. Um número bem pífio na minha opinião. Mas considerando a média nacional apresentada no seu texto, até que estamos bem. Rsrs. É melhor rir para não chorar.

    Link da pesquisa: http://g1.globo.com/rn/rio-grande-do-norte/noticia/2014/07/natalense-le-em-media-4-livros-por-ano-diz-pesquisa.html

    Abraços.
    eaijl.blogspot.com.br

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi, Felipe! Fiquei muito feliz com seu comentário. É tão bom quando o leitor acrescenta mais informações. Gostei muito do link compartilhado. Estou curioso para saber quando sai outra edição do Retratos da Leitura no Brasil. A última edição foi em 2011, com publicação em 2012. De lá para cá, alguns dados devem ter mudado, embora não dá para ser tão otimista – ao mesmo tempo em que aumentou o número de opções de plataformas de leitura, também aumentou o número de distrações (jogos, aplicativos, mídias sociais e por aí vai...).

      Em relação à media nacional, os leitores de Natal estão de parabéns! E que este número só venha a aumentar.

      Muito obrigado por sua visita.

      Abraços!

      Excluir
  3. Simplesmente não consigo entender pessoas que não gostam de ler. Tudo bem, nem todo mundo vai ser um leitor maníaco, mas pessoas que não consideram, não sabem nem quem é Agatha Christie, JK Rowling (sim, apesar de os filmes de HP terem ficado tão famosos, tem pessoas que não sabem nem sequer que a autora dos livros é ela). Só fico na torcida para que o desafio proposto pelo dono do facebook consiga mudar um pouco esse quadro no Brasil. 1, 85 livros? Esse número é ridículo. Vamos ficar na torcida e mais ainda, como blogueiros e leitores, vamos incentivar nossos leitores, nossa família e nossos amigos a aderir a esse hábito tão bom!
    Abraços!
    http://resenhandoaarte.blogspot.in/

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi, Aliscia!
      Acredito que independente do autor ser best-seller ou mais literário, o importante é ler. Muitas pessoas não gostam de ler, pois pegaram 'trauma' de alguns livros durante a adolescência (aquelas leituras obrigatórias de colégio). É preciso reverter esta situação.
      Muito obrigado por sua visita e comentário!!
      Volte sempre!
      Abraços

      Excluir

Postar um comentário

Obrigado pelo comentário. Volte sempre!

Mais lidas da semana