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Destaques

Scoop: Jornalistas da BBC e uma entrevista polêmica com príncipe Andrew

Quando um escândalo internacional envolvendo a Família Real estoura, uma jornalista tenta ser a primeira a conseguir uma resposta do príncipe Andrew para a BBC. Scoop é um filme de 2024 sem grandes surpresas para quem acompanhou a cobertura midiática da época, que mostra a importância do jornalismo não se silenciar quando se faz relevante. Um caso que havia sido noticiado há nove anos sobre a amizade de Andrew e Jeffrey Epstein estoura com a prisão do milionário e suicídio. Enquanto jornais de diferentes partes do mundo fizeram cobertura, o silêncio de príncipe Andrew no Reino Unido incomoda a equipe de jornalismo, que tenta persuadi-lo a dar uma entrevista. Enquanto obtém autorização para fazer a entrevista, a equipe de jornalismo mergulha nas informações que a Família Real não gostaria que fossem divulgadas sobre as jovens que faziam parte do esquema de tráfico sexual e as vezes em que príncipe Andrew estava no avião particular de Epstein. O filme foca mais na equipe de jornalismo do

Resenha: A Hora da Tormenta – Luis Maldonalle

Demorei, mas consegui terminar de ler A Hora da Tormenta. O livro do autor Luis Maldonalle foi enviado para mim no final de abril, mas devido ao excesso de leituras teóricas, tive que ler aos poucos, ou minha mente ficaria sobrecarregada (mais do que já está). Depois de algumas leituras maçantes, nada como uma boa dose de entretenimento para relaxar! A obra de ficção tem 306 páginas e foi publicada em 2015, pela Editora Autografia.


Desde que recebi A Hora da Tormenta, já estava curioso. A partir do seu título e da sinopse, o nome de um dos meus escritores de ficção favoritos piscou na minha mente: Stephen King! Há outros elementos presentes na narrativa que me fizeram continuar com esta associação do início ao final do livro.

Para começar, a história se passa em Brave Rock, em uma cidade dos Estados Unidos. Logo, todo o universo ficcional criado por Luis Maldonalle traz um pouco da aura de Stephen King – quando ele buscava retratar cidades interioranas. Os personagens, obviamente, têm nomes de cidadãos norte-americanos e suas características psicológicas e sociais são mais destacadas do que as características físicas. Cada personagem tem suas peculiaridades, mas pelo contexto regional há alguns traços fortes.
“... A tendência era que o medo, pontual como a volta do ponteiro no relógio, sobrepujasse qualquer inércia ou dúvida que os impedissem de estar vivos, mesmo que fosse cada um a seu modo”.

Logo no início do romance, o autor traz um boletim do tempo e de notícias de diferentes tornados que já atingiram a região, introduzindo o leitor no que os moradores de Brave Rock podem esperar. O escritor Luis Maldonalle dedica o livro às vitimas e aos sobreviventes da tragédia em Moore, Oklhahoma – para quem não se lembra, em 2013, mais de 50 pessoas morreram por causa da passagem de tornados no Meio Oeste dos Estados Unidos, além de outros registrados na região em diferentes épocas.

Por se tratar de um romance com influências da Literatura de Terror e Literatura Fantástica e por causa da temática de A Hora da Tormenta, há uma série de conflitos internos de personagens que a todo instante tentam se materializar. Entre o ceticismo e a religiosidade, os moradores de Brave Rock têm suas próprias cotas de segredos e demônios interiores. Cria-se um clima de mistério e misticismo sobre um tornado que chegaria à região, cujo nome dado é Sodoma – aqui há uma relação com o mito bíblico de que a cidade teria sido destruída por causa dos atos imorais praticados pelas pessoas.

“Súbito, os punhos cerrados apertavam, quase cravando a unha contra a própria carne. Os olhos, antes assustados diante da paixão velada, espocavam em ódio. Na garganta, sentia o amargo fel do amor. O coração fatiado escorrendo por suas entranhas: ÓDIO!”.

Entre os personagens da obra, um dos que se destacam é Flack, filho do ex-xerife de Brave Rock. No primeiro capítulo do livro o leitor descobre que ele está retornando à cidade natal e o narrador o descreve como o herói através de um dos ditados da região. “Heróis sentem o cheiro de encrenca primeiro do que os outros”. O que mais gosto nessas narrativas sombrias, é que mesmo diante do sobrenatural, até os personagens heróicos são realistas e têm seus próprios vícios, como Flack que não chega a ser um anti-herói, mas não é romantizado. Estas personalidades com virtudes e defeitos contribuem para a relação de identificação entre leitor e personagem, embora pela quantidade de personagens presentes em A Hora da Tormenta, é como se o fenômeno roubasse a cena e, ao mesmo tempo, se tornasse o protagonista e o vilão do romance.

Flack tem um relacionamento do passado mal resolvido com Moyra. Mas engana-se quem pensa que o foco todo do livro é o reencontro destes dois personagens. O romance está dividido em várias partes e capítulos. Narrado em terceira pessoa, o leitor tem a sensação de navegar pelos diferentes ‘quadros’. As descrições são bem gráficas, de forma que se torna fácil imaginar o que está sendo narrado e navegar pelas diferentes histórias que se entrecruzam – como num filme, no qual somos levados para onde a câmera direciona nossos olhares. Por se tratar de uma obra de entretenimento, as críticas à sociedade, a exploração dos conflitos humanos e a universalidade, tudo é retratado nas entrelinhas e cabe a cada leitor saber como aproveitar, lembrando sempre que se trata de ficção – já que há uma dose de humor negro, niilismo e exposição de preconceitos em suas diversas formas.

Eu, particularmente, fico encantado por obras como A Hora da Tormenta, pois gosto de narrativas que incomodam e mostram que diante do imprevisível, seres humanos costumam revelar suas verdadeiras faces e abrir mão das máscaras sociais nos momentos de crise. Também gosto da crítica implícita (ou explícita) em relação à religiosidade cega, à hipocrisia religiosa e social, à tentativa de ter poder sobre as outras pessoas (seja por meio da política ou da opressão), aos preconceitos raciais (elemento forte em algumas cidades interioranas dos Estados Unidos), entre tantas outras que basta querer enxergar.

Um dos pontos que prendem o leitor à narrativa e o deixa angustiado para saber o que vai acontecer é o conflito principal estar circunscrito à cidade de Brave Rock, de forma que independente do caráter dos personagens, não há como não se ver diante do olho do furacão. Neste ponto, lembrei do filme O Nevoeiro, adaptação de uma narrativa do Stephen King, na qual os moradores de uma cidade ficam presos em um supermercado, quando um misterioso nevoeiro surge na cidade. Quando este espaço é limitado, assim como acontece em A Hora da Tormenta, o medo, o instinto de sobrevivência, a raiva e demais emoções acabam influenciando e intensificando os problemas.

“O horror e o medo, travestidos em rajadas de ventos a mais de duzentos quilômetros por hora, crocitavam como se uma legião de demônios cobrisse os céus. A árvore, o alicerce onde se encontravam, não resistiu ao ataque implacável daquele vil exército da natureza. E abraçados, sentiram a vertigem da queda, a casa sendo arrastada, os corações disparados, enquanto os gritos espremidos de medo saíam de suas bocas. Logo a seguir, a enorme escuridão os engoliu”.

O tornado chega à cidade no dia em que Brave Rock completaria 128 anos. Apesar de o local ser fictício, ele fica na região dos Estados Unidos que já sofreu com diferentes fenômenos meteorológicos, tornando a narrativa mais verossímil. Há um cuidado do autor com os diferentes modos de falar de cada personagem, referências à cultura contemporânea e com as metáforas relacionadas aos elementos climáticos. Apesar de o herói da narrativa ser definido desde o início, as histórias paralelas têm tanto peso quanto, nos fazendo imaginar quem conseguirá sobreviver diante do caos e como estes personagens vão reagir diante das dificuldades.

Ah, e quanto à escolha do país, Luis Maldonalle não deixou a desejar. Há uma polêmica sobre brasileiros quererem criar narrativas parecidas com histórias norte-americanas. Não sou a favor de ‘regras’ ou modismos. Acredito que quando a intenção do autor é alcançada e o leitor rompe a barreira entre ficção e realidade, pouco importa onde a narrativa se passa, quais são os nomes dos personagens, desde que não atrapalhe esta imersão por falhas de descrição. Cada autor sabe o que é melhor para suas próprias histórias e quais elementos utilizar ou não, embora seja discutível quando não há um amadurecimento da escrita ou falta de polimento – o que não é o caso de A Hora da Tormenta.  

Esta mistura de tantos personagens diferentes acaba despertando o melhor e o pior de cada um: o mocinho que retorna à cidade em busca de mais uma chance com o amor de sua juventude, o paranóico sobrevivente da guerra, a jovem que abriu mão de sua vida para cuidar da irmã, o pastor com um passado de vícios, o rapaz que se sente traído, entre tantas outras personalidades... Luis Maldonalle cria um narrador onisciente (que tudo vê e tudo sabe) que consegue conduzir bem a trama, equilibrando bem a narrativa com os diferentes núcleos.

Em alguns instantes, tive que me lembrar que o livro não era do Stephen King. Para quem é aficionado pela temática, como eu – e gosta de escrever narrativas no mesmo estilo –, creio que a leitura só vem a acrescentar tanto para minha bagagem, como para poder viajar pelas páginas do livro, usando minha imaginação e lidando com tantos personagens. Seja por provocar o estranhamento, mostrar coisas que muitas vezes são ignoradas em nossos cotidianos e nos transportar para este universo, é impossível não imaginar como seria sobreviver diante deste enorme parafuso negro enquanto precisamos lidar com tantos egos diferentes (alguns mais problemáticos e sombrios do que os outros).


Não vou me prolongar para não correr o risco de soltar algum spoiler. Só não posso deixar de ressaltar como Luis Maldonalle consegue amarrar todas as pontas, de forma que nenhum personagem aparece por simples capricho – como todo bom contador de histórias, ele soube quais elementos destacar, quais deixar de fora e quais deixar nas entrelinhas para que o próprio leitor fizesse suas conexões. Sou suspeito, mas não poderia deixar de recomendar a leitura de A Hora da Tormenta... Espero que algum dia a Literatura de Horror e Literatura de Fantasia sejam mais valorizadas! Só tenho a agradecer pelo autor ter me enviado um exemplar para poder resenhar para vocês, leitores... Afinal, há coisa melhor do que recomendar algo que você gostou?

Sobre o autor – Luis Maldonalle é guitarrista há quase trinta anos, é considerado um dos grandes expoentes da cena do Centro-Oeste. Atualmente, é membro da banda Bella Utopia e colunista dos blogs “Página de Ferro” e “Maldonalleblog”. Luis sempre foi um aficionado das clássicas histórias de terror e literatura fantástica.

No livro A Hora da Tormenta aborda uma intrínseca trama de sobrevivência e conflitos humanos, com uma detalhada narrativa instigante. Seu livro de estreia, Sete Noites em Claro figurou entre os 100 mais vendidos na Amazon, no gênero Terror.

O que acharam do livro? Espero que tenham gostado da resenha! A Hora da Tormenta já está presente no Skoob – a maior rede social para leitores do Brasil.  Curte a página do livro no Facebook: https://www.facebook.com/ahoradatormenta

Comentários

  1. O que me fascina em qualquer livro é o fator humano, os dramas pessoais, como cada pessoa reage em determinada situação, os conflitos entre pessoas numa situação tensa e acho que esse livro tem tudo isso. Como se a catástrofe fosse só um pretexto pata dissecar a alma humana. Parece ser um livro ao mesmo tempo movimentado e profundo.

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    1. Oi, Ronaldo! Você que, como eu, também gosta de Stephen King, vai se amarrar em A Hora da Tormenta. A linguagem é bem parecida e há um diálogo com as narrativas do King. Foi super prazeroso ler! Estava precisando de uma pausa de leituras teóricas pesadas... Foi como um sopro de vida.
      Abraços!

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