Pular para o conteúdo principal

Destaques

Scoop: Jornalistas da BBC e uma entrevista polêmica com príncipe Andrew

Quando um escândalo internacional envolvendo a Família Real estoura, uma jornalista tenta ser a primeira a conseguir uma resposta do príncipe Andrew para a BBC. Scoop é um filme de 2024 sem grandes surpresas para quem acompanhou a cobertura midiática da época, que mostra a importância do jornalismo não se silenciar quando se faz relevante. Um caso que havia sido noticiado há nove anos sobre a amizade de Andrew e Jeffrey Epstein estoura com a prisão do milionário e suicídio. Enquanto jornais de diferentes partes do mundo fizeram cobertura, o silêncio de príncipe Andrew no Reino Unido incomoda a equipe de jornalismo, que tenta persuadi-lo a dar uma entrevista. Enquanto obtém autorização para fazer a entrevista, a equipe de jornalismo mergulha nas informações que a Família Real não gostaria que fossem divulgadas sobre as jovens que faziam parte do esquema de tráfico sexual e as vezes em que príncipe Andrew estava no avião particular de Epstein. O filme foca mais na equipe de jornalismo do

Resenha: Memórias de uma Gueixa – Arthur Golden

Memórias de uma Gueixa (Memoirs of a Gueisha) é o título do romance do escritor norte-americano Arthur Golden. O livro, de 460 páginas, foi traduzido pela escritora brasileira Lya Luft e publicado pela Editora Imago, em 2006. Uma narrativa emocionante sobre uma menina japonesa, suas transformações e o destino de se tornar uma gueixa, que nos transporta para parte da história e cultura do Japão.

Livro Memórias de uma Gueixa, autor Arthur Golden

O livro é narrado em primeira pessoa por Sayuri. Antes mesmo de o primeiro capítulo, somos fisgados pela nota de um tradutor fictício, Jakob Haarhuis, um Professor de História Japonesa na Universidade Arnold Russoff de Noiva Iorque, recurso utilizado pelo autor para nos deixar mais próximos ainda da personagem principal e aumentar a verossimilhança, dando um tom memorialístico ao romance: “Quando pedi a Sayuri a permissão de usar um gravador, pretendia fazer isso apenas como segurança contra possíveis erros de transcrição de parte de sua secretária [...] Às vezes ainda toco suas fitas em meu estúdio à noite, e acho muito difícil acreditar que não vive mais”.

Desde que lemos as palavras do tradutor e temos contato com as primeiras narrações de Sayuri, somos levados a acompanhar a trajetória da protagonista. Ao rememorar um diálogo sobre Yoroido, a cidade em que ela nasceu, a narradora passa a contar sobre sua infância na aldeia de pescadores, em 1929. Criada em um lugar sem perspectivas de crescimento, sua infância, como a de muitas outras meninas, acaba sendo determinada pelos costumes da época. Se eu pudesse definir a trajetória de Sayuri em uma palavra seria Sobrevivência.

“Só metade de mim vivia em Gion; minha outra metade vivia em meus sonhos de voltar para casa. É por isso que sonhos podem ser coisas tão perigosas: queimam como fogo, e às vezes nos consomem completamente”

Em determinada parte do livro, a gueixa descreve a vida dos japoneses um período sombrio da história do Japão, no período pós-Segunda Guerra Mundial, como “vida de cebola”, fazendo menção às camadas que lhes eram retiradas e ao choro constante. Não tem como não pensar na protagonista da mesma maneira, pois do primeiro ao último capítulo, acompanhamos tantas mudanças, tantas camadas da garotinha que foram arrancadas e se não a fizeram chorar externamente, ao menos inundaram sua alma de lágrimas.

Cena do Filme Memórias de uma Gueixa

Há diversos elementos que tornam Memórias de uma Gueixa um livro envolvente. Arthur Golden desperta a curiosidade do leitor ocidental para muitos dos mistérios das tradições do Japão – apesar de se tratar de um livro de ficção, o escritor mergulhou neste universo das gueixas e no período histórico em que a história de Sayuri se passa. Além dos termos em japonês, o autor também utiliza figuras de linguagem que envolvem muitas das referências  do cotidiano de quem mora no país e tornam a leitura mais prazerosa.

“A dor é uma coisa muito esquisita; ficamos tão desamparados diante dela. É como uma janela que simplesmente se abre conforme seu próprio capricho. O aposento fica frio, e nada podemos fazer senão tremer. Mas abre-se menos cada vez, e menos ainda. E um dia nos espantamos porque ela se foi”.

Com uma atmosfera marcada pela melancolia e nostalgia, Sayuri nos faz pensar sobre a liberdade, escolhas e o destino. Para sobreviver, uma garota destinada a ser gueixa precisa ser bem treinada, mas o sucesso do seu futuro envolve tantas variáveis, como o leitor pode acompanhar: nada é certo, apenas o sofrimento. A cada vez que Sayuri recebe um nome diferente é como se ela estivesse se reinventando, desde a garotinha Chiyo que precisou deixar a vida com a família, mesmo que contra a sua vontade, até a gueixa que impressionou centenas de homens com seu olhar, sua dança, sua aparência.

Apesar de grande parte da história ser triste, a personagem também é movida pela esperança, mesmo durante os tempos mais difíceis. Para sobreviver, ela não só precisa aprender mais sobre a arte de seduzir e entreter os homens, mas entender como funcionam os jogos de poderes. De tanto ser vítima, Sayuri aprende a congelar o próprio coração para seguir em frente, mas nunca deixa de acreditar que pode haver algo a mais para o qual ela foi destinada – o que salvou de se tornar tão amargurada e sombria como outras gueixas que passaram pelo seu caminho e tentavam manipular e ferir os outros.

“A adversidade é como um longo vento forte. Não quero apenas dizer que ela nos afasta de lugares aonde poderíamos ir, mas também arranca de nós tudo, menos as coisas que não podem ser arrancadas, de modo que depois nos vemos como realmente somos, e não apenas como gostaríamos de ser”. 

Arthur Golden Autor do livro Memórias de uma GueixaArthur Golden deu tanta voz para sua personagem, que ao longo do livro nem mesmo nos lembramos do autor ou do fato que ele é norte-americano. Memórias de uma Gueixa nos faz refletir sobre a escravização das mulheres e como suas sexualidades foram exploradas desde a infância naquele período do Japão. Qual é a linha que separa a prostituta de uma gueixa? Sayuri nos leva por suas memórias e mostra que cada uma tem seus próprios desafios, mas no final, até que alguém possa resgatá-las – e aí, entra a força do homem bem-sucedido para torná-las exclusivas ou presenteá-las – todas são escravas de um sistema em que sempre estarão devendo alguma coisa para alguém e a liberdade é tão intangível, como os sonhos podem ser. Nem toda maquiagem do mundo e sorrisinhos são capazes de esconder as verdades que os olhos de Sayuri observaram, bem como a força dos ciclos e dos fantasmas que sua voz ecoou durante anos.

Sobre o autor – Arthur Golden nasceu no Tennessee. Formado em história da arte em Harvard e em história do Japão pela Universidade de Columbia, trabalhou como jornalista em Tóquio no início da década de 80. Mais tarde, voltou aos Estados Unidos, onde fez outro mestrado, em literatura, na Universidade de Boston. Memórias de uma Gueixa seu primeiro romance, passou por duas versões (de 850 e 750 páginas), até chegar, num formato completamente diferente, ao texto final publicado em 1997 pela editora Knopf.

A versão eBook de Memórias de uma Gueixa pode ser comprada no site da Amazon Brasil: http://amzn.to/1ryAuUF

Já leu Memórias de uma Gueixa? Tem vontade? Comente!


Comentários

  1. já vi o filme e é tufo isso que você escreveu.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi, Wallace!
      Grato pela visita e comentário.
      Acredito que o filme explora bem o lado glamour das gueixas, mas não deixa de ser triste. Memórias de uma Gueixa é emocionante.
      Abraço

      Excluir
  2. Abrindo o comentário com esse trecho:
    "Sayuri nos leva por suas memórias e mostra que cada uma tem seus próprios desafios, mas no final, até que alguém possa resgatá-las – e aí, entra a força do homem bem-sucedido para torná-las exclusivas ou presenteá-las – todas são escravas de um sistema em que sempre estarão devendo alguma coisa para alguém e a liberdade é tão intangível, como os sonhos podem ser. "
    Ben, esse é um dos meus livros favoritos de toda a vida. O li apenas uma vez quando estava no ensino fundamental e nunca mais me esqueci de toda a história. Me marcou profundamente.
    Recomendo muito a leitura, além da sua resenha, que trouxe um texto muito importante pra gente, que foi o que colei bem no início.
    Abraços Ben!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi, Divana!
      Fico muito feliz com sua visita. Obrigado pela leitura. Os trechos que coloquei na resenha foram alguns dos que mais me marcaram durante a leitura de Memórias de uma Gueixa.
      Gratidão pelo comentário.
      Abraços

      Excluir

Postar um comentário

Obrigado pelo comentário. Volte sempre!

Mais lidas da semana