Texto: Ben Oliveira
Na semana de apresentação do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) tudo pode acontecer. É como se por alguns dias uma maré de má sorte, insegurança e ansiedade afogasse os acadêmicos que estão prestes a apresentar uns dos trabalhos mais importantes desenvolvidos durante os anos de graduação.
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Eu e Maria Izabel Costa apresentando nosso TCC. Foto: Hygor Benevides. |
Nervos à flor da pele. Não bastando o nervosismo, durante os dias de bancas de TCC é como se o acadêmico estivesse preso no seu inferno astral ou estivesse em uma Sexta-Feira 13 prolongada, para os mais supersticiosos. Apresentar o trabalho é como tentar escapar do Gato Preto, mas ficar hipnotizado por aqueles olhos que brilham no escuro. É matar ou morrer. Ou o estudante enfrentava a criatura ou ela o paralisava e devorava.
Era manhã do primeiro dia de apresentação e ele estava tão tranquilo. Faltavam apenas dois dias para a sua banca, e ele sentia-se imune aos efeitos da maldição do TCC. "É só mais um trabalho como qualquer outro", o jovem repetia as palavras na sua cabeça tentando se convencer daquela suposta verdade. Não havia nenhum mistério em apresentar um TCC, afinal, foi algo que ele produziu durante vários meses, teve que pesquisar, entrevistar, escrever, organizar, colocar em prática.
O acadêmico foi responsável por todo o processo, desde o começo até o final do trabalho, mas mesmo assim não conseguiu evitar o pânico crescendo dentro dele hora após hora como um câncer. "Você já apresentou o seu TCC?", os curiosos perguntavam fazendo ele pensar em algo que não queria. "Não. Só depois de amanhã!", ele respondia. "Boa sorte!", alguém dizia. E esse diálogo se repetiu até o dia em que ele finalmente ia se livrar daquele tumor.
Sabe quando você diz tanto uma coisa para alguém, quando na verdade é você próprio quem está tentando acreditar naquelas palavras? Durante os dias anteriores, ele tentou em vão convencer e tranquilizar os colegas sobre a apresentação. Esqueceram de avisá-lo que nem sempre uma mentira tornava-se uma verdade quando contada várias vezes, como costumavam acreditar. Quando faltavam menos de 24 horas para o grande dia, o rapaz passou por uma metamorfose. Seu humor estava diferente, o seu corpo estava fora de controle, a sua mente agitada.
Mãos suadas e frenéticas, pontadas no peito, borboletas no estômago, dor de cabeça, mau humor, insônia, irritação, olhos piscando sem parar, língua enrolada, coração acelerado, nó na garganta, vontade de chorar e gritar, pés balançando, pernas tremendo... Esses eram algumas das sensações que ele teve na manhã daquele dia. Como um espírito que se alimentava de medo, o rapaz estava dando cada vez mais importância para aquela apresentação e a ansiedade o estava consumindo.
"E se eu esquecer o que eu tenho que falar?", o rapaz disse para o professor no auditório antes da sua parceira e dos espectadores chegarem. "Relaxa. Vai ser tranquilo", o orientador tentou acalmá-lo. Enquanto testava a apresentação, ele ficava tentando se lembrar do que que tinha anotado em um papel. O estudante estava tão apavorado que se imaginava falando o nome errado do projeto e ficar afônico naqueles poucos minutos em que precisava explicar, mas que pareciam durar uma vida toda.
Segurou o microfone e mesmo não se lembrando exatamente do que tinha anotado para dizer, ele conseguiu improvisar. Sua parceira estava tão nervosa quanto ele. Aqueles tinham sido os 60 minutos mais aterrorizantes de sua vida. Dentro daquele auditório, o rapaz sentia-se como alguém que deveria ter aprendido algumas lições de como falar melhor em público. Mesmo com suas limitações, o acadêmico aguentou firme até o final.
Uma conversa que ele teve antes da apresentação fez sentido após todo aquele estresse. Ele se lembrava de ter comentado com uma colega sobre como cada osso do seu corpo estava tremendo de excitação por conta do TCC e o quanto desejava estar tranquilo. "Se você estivesse tranquilo, não teria nenhuma graça quando fosse aprovado", lembrou a garota. E ela estava certa. Após os jurados da banca tecerem os comentários e darem a nota, o rapaz desmoronou de felicidade. Lágrimas teimavam em escorrer pelo seu rosto. Naquele momento ele não sentiu vergonha, mas orgulho de si mesmo e de cada esforço, aulas, trabalhos e provas realizados durante aqueles anos de graduação.
Para o rapaz, não importava quantas vezes ele apresentasse o trabalho. Como uma paixão mal resolvida, todas as vezes ele ficaria afetado daquele jeito. Nem desistir, nem lutar contra o inevitável, tudo o que ele precisava fazer era aceitar as próprias inseguranças e seguir em pé até o último minuto da apresentação.
Ben, que delícia de texto! Estou fazendo minha monografia e desconfio que passarei pelo mesmo "perrengue" na hora da apresentação.
ResponderExcluirAbraço!
Cris.
Cris, acredito que todos nós passamos esse aperto quando se trata de trabalhos importantes! Com o texto, tentei captar um pouco sobre como é sentir toda essa ansiedade de TCC, mas ainda penso que é impossível compartilhar todas as sensações de apresentá-lo.
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