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Destaques

Relaxar

Relaxar era tão importante quanto ficar atento aos sinais de crise. Era um exercício diário. Muito mais fácil na teoria do que na prática. Um exercício de confiar que quem está ao redor saberá reconhecer no tempo certo a necessidade de ajuda. Então, por que mesmo sabendo disso, o corpo e a mente continuavam em alerta? Talvez pelo passado. Talvez por saber que o imprevisível poderia causar danos irreparáveis. Talvez pela dificuldade de aceitar que nem tudo pode ser controlado. Ia, então, se soltando um pouco a cada dia. Se distanciando de sua versão em alerta e voltando a se focar naquela que seria capaz de relaxar, sem deixar cada pequena mudança do dia incomodá-lo. Por mais que tentasse prever o futuro, a verdade era que algumas coisas não poderiam ser previstas. Era necessário confiar no aqui e agora, na noção de que conseguiria pedir ajuda se fosse preciso e que ficar o tempo inteiro esperando uma crise acontecer não ajudava ninguém.  Era ao sair do modo de sobrevivência que se ...

Taça de Cristal - Julio Mesquita


A masculinidade, do ponto de vista do próprio macho, não é objeto de discussão e tampouco um contraponto a argumentações científicas ou pedagógicas. O macho se julga macho por excelência e pronto! Variou disso, é sinal de desvio comportamental, de caráter ou mesmo uma passível afetação de origem biológica que tomou proporções doentias, como a maioria das vezes costumam dizer.

No início deste novo século, o macho se contradiz com a contemporaneidade de suas ações, buscando propostas antes malvistas por ele. E quando imaginamos que já terminou, o mais distinto dos machos vem a público e dá identidade à sua feminilidade. Quem é o macho atual? É natural que o galo cante aprumado no galinheiro, onde sua presença se faz dominar sobre as demais. Mas há tempo que esse ímpeto ejaculatório e bestial vem deixando de ser unilateral para dar lugar ao bilateral, atuação inconcebível quando falamos das funções e prerrogativas inerentes ao reprodutor e promovedor da nossa frágil espécie masculina.

Hoje, portanto, reduzido ao próprio reconhecimento de que o pênis e o coito não são garantia de milhares e milhares de obviedades, ele o macho, a partir de então, perde o protagonismo para o início de uma nova história.

A ilha, uma vez habitada, abre exceções conflitantes para as quais o macho não foi eventualmente preparado. E, diante desse confronto inédito, ele o macho, se pergunta qual é o seu verdadeiro papel atual junto do que se formou e como se adequar a ele sem que se perca a identificação embrionária. O macho continua virial. No entanto, suas tarefas não são mais exclusividades, muito menos as escolhas da natalidade que sempre lhe coube determinar a data e o lugar. Tantas aberturas e renúncias deixam sequelas traumáticas, que logo terá que rever. E na contramão das suas opiniões, o jeito é a adaptação ao que aí está. As metamorfoses do macho ficam evidentes: a depilação corporal, a busca pelo rosto lânguido e fino, os apetrechos da moda, a inversão dos papéis no lar, o diálogo com a fêmea, o sexo compartilhado no prazer, na tentativa de saciar o sexo oposto, o advento refletido em comum acordo, a homossexualidade e a bissexualidade mais assumida e a obrigação de ter que repassar isso claramente às futuras gerações. Sendo assim, fica esclarecido aqui que o macho que todos nós conhecemos não mais existe, Seu (DNA) ficará nos fósseis do passado hostil lembrado por uma nova contemplação humana.

*Julio Mesquita é publicitário e escritor. Site: www.juliomesquitaescritor.com /  E-mail: mesquita.julio@uol.com.br.

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