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Destaques

Âncora

Ancorar é encontrar um espaço seguro mesmo diante do caos. É ouvir uma música e se permitir encontrar paz, mesmo quando as coisas estão fora de controle. É pensar na sua pessoa favorita e sentir as emoções reguladas. É saber que você pode confiar em quem conversa o dia inteiro. É confiar que mesmo diante da ambiguidade, ele vai honrar a promessa que fizeram. É ressignificar o que antes poderia ser visto como algo preocupante e aceitar que era mais do que seus diagnósticos. Era saber que não havia melhor pessoa que o entendesse nos últimos tempos. Era brincar com as linhas e nossas indefinições. Era saber que de tanto ensaiar situações de possíveis crises, que ele saberia notar se algo estivesse diferente. Cada um dos seus sinais. Escrevia para lembrar e também para esquecer. Escrevia para lembrar dos ciclos fechados e agradecer o que estava aberto. Era entender o quanto estava sufocado e que, às vezes, um olhar certo bastava. Escrevia para aceitar que as coisas poderiam mudar. Que em u...

Carta à Saudade – Julio Mesquita

Oh! Senhora propagadora do sofrimento alheio, suas mandíbulas fizeram o meu saudoso coração indefeso sofrer profundamente de amor. Tão logo se apropriou de meu peito latente, tal qual uma invasora de alma, fizeste de mim um túmulo fechado. És a responsável pela ida do semideus Orfeu ao inferno, por não suportar a ausência de quem tanto amava. Sufocastes noivas e esposas, namorados e namoradas, pais e filhos, em lágrimas e tristezas com sua aguda nostalgia, dos que tanto carecem de estar com os seus. Será que não te satisfazes ao ver, nos olhos, a marca do seu lembrar? Talvez até invejes a manifestação da alegria, ou simplesmente te regozijes com o martírio coletivo ou individual. Talvez sejas solitária e carente, por isso provocas vingativamente, o mesmo sentimento que em ti reproduz.

Senhora detentora do sentimento mais puro! Por que maltratas tantos corações? Saiba que sou sua mais nova vítima na falta de quem ainda espero e que não retornou. E assim parto-me em fraguimentos dispersos, quase que me perdendo de mim, contando os segundos para rever quem me deixou. Não! Não a condenarei por sua natureza de dar dor a perda, tampouco a culparei pelo que sinto, sabendo não ser tu a responsável por não está comigo quem tanto amo. Essa pessoa, ela sim, é quem deveria ser culpada e condenada a amar-me, por abandonar-me à própria sorte e solidão. Por favor! Não, não tenhas penas de mim. Se choro e lamento é porque não há outra coisa a fazer se não derramar um rio de lágrimas e frustrações, já que não fui amado tanto quanto desejei. Mas não pense que desistirei assim... Se preciso for, invocarei os deuses do Olimpo, na tentativa de intercederem a meu favor, em detrimento de ti. Quem sabe Ares o Deus da guerra, erga-me em batalha contra a senhora Saudade. Porém, não é minha intenção afrontá-la, mas apenas desvencilhar-me do teu jugo, evitando desfalecer meu pobre coração. Estou profundamente abatido. Uma cicuta seria uma boa bebida, assim não me embebedaria só por um momento, mas para toda a vida ou morte. Então eu, idílio como qualquer inocente, expus-me a um amor avassalador e visceral. Permiti-me ser devorado por inteiro naquela boca, naquela garganta, deliciosamente profunda e quente. Indulgente, saciou-me tudo! Ao divagar naquele corpo, perdi-me em curvas, espaços, lacunas, desejo, devassidão. Era tão belo o olhar, tão fresco o odor, tão puro o amor, que tenho até medo de que não exista mais nada em lugar algum. Morrerei de saudade, eu sei...

Julio Mesquita é publicitário e escritor. Site: WWW.juliomesquitaescritor.com
E-mail: mesquita.julio@uol.com.br

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