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Destaques

Sobre Reler Livros

Reler um livro era como tocar um tecido que você já usou várias vezes, como se fosse pela primeira vez. A textura parecia diferente; o cheiro não era o mesmo; Era impossível não imaginar na palavra que circulava pela mente: diferente.  E por que esperar pelo impossível igual? O leitor não era o mesmo. Um intervalo de tempo considerável havia se passado. O personagem que costumava ser o favorito talvez agora seja outro. O texto que escreveria a respeito do livro talvez jamais fosse igual. Era um diferente leitor, um diferente livro, uma diferente interpretação. Ler pelo mero prazer era diferente de ler pensando na resenha que escreveria em seguida. Escolher o livro de forma aleatória era diferente de já tê-lo em mente. Reler era diferente de ler, mas sobretudo, era uma nova forma de leitura: os detalhes que antes não chamavam a atenção, agora pareciam brilhar nas páginas. Não estava no mesmo lugar em que estava quando o leu pela primeira vez. Sua pele não era a mesma, tampouco seu céreb

Amizade e Sex and the City

Terminei de rever a primeira temporada de Sex and the City. Nunca gostei de colecionar DVDs, seja de filmes ou seriados, mas foi durante uma viagem que eu e um amigo combinamos que compraríamos a caixa com todas as temporadas de Sex and the City quando retornássemos.

Depois de uma aventura à procura do box de Sex and the City.
“Olha o que eu encontrei”, ele levantou a caixa com a foto da protagonista da série, Carrie Bradshaw. Fiquei eufórico e logo senti vontade de comprar. Lembranças sobre as inúmeras conversas relacionadas ao seriado dançavam em minha cabeça. Reviramos DVD por DVD até encontrar outro. Perguntamos à vendedora se tinha mais um box e ela respondeu que sim, de acordo com o sistema. Por alguns minutos, fiquei obcecado em encontra-lo, até perceber que não seria naquela tarde.

“Nós podemos ir à loja do centro. Pode ser que lá tenha. Se não tiver, tem outra lá perto”, sugeri. “Vamos esconder este daqui. Depois retornamos para buscar”, ele me respondeu. “Tem certeza? E se nós não voltarmos? E se outra pessoa também quiser a coleção da série e não conseguir encontrar por que nós tínhamos escondido?”. Decidimos deixar o DVD perto dos outros. Desejei que na outra loja estivessem disponíveis duas caixas do Sex and the City.

Entramos na loja e fomos direto à seção de DVDs de séries. Olhamos caixa por caixa. “Olha o que eu encontrei de novo”, meu amigo apontou a caixa. Ficamos eufóricos. Procuramos e procuramos até encontrar mais um exemplar e nada. Perguntamos à funcionária e ela respondeu que se não estava ali, provavelmente não tinha.

Saímos da loja e fomos esperançosos até a outra, sob a chuva que caía pela cidade. As ruas estavam molhadas e as pessoas andavam sem se importar com a água. Entramos na loja e depois de perguntar onde ficavam as séries, o funcionário nos apontou a direção. Reviramos todas as caixas e não encontramos.

“Vamos levar um de uma loja e o outro de outra. O que você acha?”, perguntei torcendo para que o meu amigo dissesse sim. “Pode ser. Você leva a caixa dessa loja e eu a da outra”, respondeu. Voltamos andando com pressa até a outra loja e quando chegamos à seção de DVDs da loja, a caixa ainda estava lá. Não pensei duas vezes e fui logo pagar.

Dirigimos até a outra loja. Estávamos inquietos e só sossegaríamos quando tivéssemos a outra caixa em mãos. Fomos direto à seção de DVDs. “Fica aqui na fila que eu já volto. A fila está enorme”, pediu meu amigo.  Fiquei esperando, com medo de que alguém tivesse comprado o único exemplar da loja. Ele passou por mim com o box de Sex and the City e eu finalmente pude relaxar.

Um dia depois, nós combinamos de começar a assistirmos juntos. Apesar de já ter assistido todos os episódios de todas as temporadas, nunca me canso de aprender e me divertir com os dilemas e experiências das personagens: Carrie, Miranda, Samantha e Charlotte. Há algo bom nos seriados, eles nos mostram pessoas (mesmo que fictícias) que passaram por diversas situações e continuam bem.

Baseada na coluna de Candace Bushnell que foi transformada no livro homônimo, para mim, Sex and the City continua sendo a melhor série de todos os tempos. Que programa televisivo já tratou de forma tão aberta e natural temas relacionados ao sexo e aos relacionamentos?

Estamos sentados no sofá estreando o primeiro CD da caixa. A música tema de abertura já nos leva para dentro da televisão. Nos sentimos próximos dos personagens e de suas vivências. Apesar de cada um ter um personagem favorito, é como se tivéssemos um pouco da essência de cada um. Chega a ser engraçado rir dos dramas e confusões em que elas se metem se imaginando como seria se nós estivéssemos em suas peles.

Depois de assistir sete episódios, estávamos viciados. “Todos deveriam assistir a Sex and the City um dia”, compartilhávamos o mesmo pensamento. Não há nada como essas pequenas reflexões e suas enormes doses de entretenimento para colocar os pensamentos e sentimentos em ordem novamente. Às vezes, precisamos nos enxergar nos outros, para só, então, percebermos o que estamos fazendo de errado. Outras vezes, temos a certeza de que não importa o quanto algo pareça confuso, é necessário ser fiel consigo mesmo e não mudar somente para agradar os outros.

Carrie Bradshaw consegue abordar a sexualidade humana através de sua narrativa, ora como uma mulher madura e cabeça aberta, ora como sua alma adolescente que acredita no amor, ambas tentando sobreviver e entender melhor o mundo dos relacionamentos em uma cidade louca e movimentada como Nova Iorque. Talvez deve ser por isto que eu me identifico tanto com a protagonista e goste tanto do seriado, por manter um pouco do melhor dos dois mundos.

Sex and the City não se trata somente de aventuras sexuais e problemas nos relacionamentos amorosos de quatro mulheres em Manhattan. A série mostra como as amizades podem durar tantos anos, não importa quantos problemas surjam ao longo da vida, ilusões amorosas, desencontros, doenças, crises financeiras. No final nós sempre sobrevivemos e podemos tirar o melhor de cada situação.

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