Esta semana terminei de ler o
livro O Armário: Vida e Pensamento do Desejo Proibido, do psicólogo e escritor
Fabrício Viana. Atualmente em sua terceira edição, a obra tem um tom
autobiográfico, mas também traz conhecimentos sobre
psicologia e
sexualidade ajudando o leitor a compreender mais a questão da
homossexualidade, por que alguns gays ficam no armário por anos e quais as vantagens de poder ser quem você é. A primeira edição foi lançada em 2006 e esgotou em um ano.
Na primeira parte do livro, o autor relata suas experiências. Para quem é gay assumido ou não, este é o momento em que escritor e leitor trocam confidências, intimidades e compartilham a identificação com as fases de desenvolvimento e descobertas dos homossexuais. Fabrício descreve desde o primeiro contato com outro rapaz quando era adolescente, até suas descobertas sexuais, saídas para noite gay, namoros, saída do armário e o seu casamento com Alex França.
É impossível ler o livro e não se identificar com as atitudes de quem está se descobrindo, o papel da internet em ajudar os jovens gays a conhecerem outras pessoas, a auto aceitação quando existe o convívio com outros homossexuais, o preconceito interno e o machismo tanto com os comportamentos nos meios sociais quanto dentro de quatro paredes com a questão de quem é ativo ou passivo, como as expectativas, os ciúmes e o excesso de convivência podem afetar os relacionamentos.
Dividido em várias partes, o livro aborda desde o significado do armário na vida de um homossexual até pontos que podem ajudar em sua saída. “O armário torna-se um símbolo importantíssimo para representar o local de nossa personalidade em que escondemos e trancamos – para que os outros não possam ver – nossos desejos proibidos. Nossos desejos homossexuais”, define o autor Fabrício Viana.
Ao abordar por que muitos gays sentem necessidade se fecharem, o autor comenta que esta repressão dos desejos pode causar uma série de problemas para a saúde, principalmente mental. Depois de falar sobre O Armário, Fabrício Viana explica um pouco sobre a condenação da homossexualidade ao longo dos tempos, passando por desde os primórdios da humanidade, Grécia, Roma, transformação do sexo em pecado até a época em que a ciência considerada esta orientação sexual como uma doença, até sua remoção da lista de patologias.
Com o entendimento dos mecanismos de repressão impostos pelas religiões, pela ciência e pela sociedade, fica mais fácil entender por que muitos homossexuais entram no armário. O próprio autor do livro permaneceu algum tempo sem coragem de se assumir. Após ouvir a vida inteira pensamentos negativos sobre a homossexualidade, segundo Fabrício Viana, o gay acaba internalizando a homofobia, o que acontece de forma gradual e que mesmo após a auto aceitação, ainda permanece dentro da própria comunidade gay.
O Armário também aborda as falsas curas gays impostas pelas religiões, nas quais muitas pessoas reprimem os seus desejos, mas depois de determinado tempo ou elas se rendem e revelam que o tratamento não deu certo ou passam a vida toda vivendo uma mentira e manifestando alguns sintomas de problemas neurológicos.
Depois de descrever o processo de entrada e permanência no armário, o autor Fabrício Viana explica que é possível sair do armário, remar contra a maré e enfrentar os seus medos. Todos os conhecimentos obtidos nas primeiras partes do livro facilitam para o leitor entender por que é importante não ter vergonha de se assumir. Segundo Viana, por exemplo, quando a pessoa é mal resolvida, é como se ela gastasse energia escondendo sua segunda vida, mentindo, entre outras ações, que poderia ser usada para ter uma vida saudável e equilibrada.
Aceitar a própria sexualidade, como lembra o autor do livro, possibilita viver em paz consigo mesmo e não contribuir para o aumento da homofobia, já que muitos homofóbicos, na verdade, são assim porque reprimem os próprios desejos. Para Fabrício Viana, não existe uma forma fácil e nem uma receita para sair do armário, porém buscando autenticidade, o indivíduo pode juntar coragem para revelar para a família, amigos, colegas de trabalho.
Em um capítulo de O Armário, Fabrício Viana argumenta como a homofobia está relacionada ao machismo. Da mesma maneira que o machismo inferioriza as mulheres, quando se trata da homofobia, o autor comenta que existe o preconceito contra gays afeminados, transexuais, drag queens, homossexuais passivos, travestis, enfim, imagens que tenham relação com o lado feminino, enquanto o lado masculino ou macho é sempre valorizado.
No último capítulo do livro é abordado como mudar o mundo através da militância e disseminação de informações corretas sobre a homossexualidade. Há muitos textos de religiosos na internet, por exemplo, que contribuem para o preconceito contra homossexuais e ao invés de orientar quem está tentando se descobrir, acaba atrapalhando e, muitas vezes, fazendo com que muitos jovens gays cometam suicídio, sentam-se culpados, alimentem pensamentos negativos e internalizem a homofobia. Logo, iniciativas como o livro do Fabrício Viana, o seu site, obras de literatura LGBT, pesquisas, portais e atitudes de cada um, podem contribuir para que a homossexualidade deixe de ser vista como um bicho de sete cabeças.
Ao final do livro Fabrício Viana traz uma bibliografia comentada com os livros sobre sexualidade e psicologia utilizados como pesquisa para escrever O Armário, apresenta informações sobre o autor, além de recomendar links com temática LGBT, como portais, jornais e revistas, igrejas inclusivas e ONGs.
Sobre o autor do livro O Armário – Fabrício Viana é formado em Psicologia pela Universidade Camilo Castelo Branco e concentrou seus estudos na área de sexualidade e homossexualidade durante anos. Além de escrever para portais e revistas, ministras palestras e workshops, o militante também já participou de projetos sociais voltados para a causa LGBT.
Site do Fabrício Viana: http://fabricioviana.com/.
O livro O Armário está disponível para compra no seu site oficial: http://www.oarmario.com
*Texto: Ben Oliveira
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