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Destaques

Sobre Reler Livros

Reler um livro era como tocar um tecido que você já usou várias vezes, como se fosse pela primeira vez. A textura parecia diferente; o cheiro não era o mesmo; Era impossível não imaginar na palavra que circulava pela mente: diferente.  E por que esperar pelo impossível igual? O leitor não era o mesmo. Um intervalo de tempo considerável havia se passado. O personagem que costumava ser o favorito talvez agora seja outro. O texto que escreveria a respeito do livro talvez jamais fosse igual. Era um diferente leitor, um diferente livro, uma diferente interpretação. Ler pelo mero prazer era diferente de ler pensando na resenha que escreveria em seguida. Escolher o livro de forma aleatória era diferente de já tê-lo em mente. Reler era diferente de ler, mas sobretudo, era uma nova forma de leitura: os detalhes que antes não chamavam a atenção, agora pareciam brilhar nas páginas. Não estava no mesmo lugar em que estava quando o leu pela primeira vez. Sua pele não era a mesma, tampouco seu céreb

Resenha: Pare de se sabotar e dê a volta por cima – Flip Flippen

O livro Pare de se sabotar e dê a volta por cima: Como se livrar dos comportamentos que atrapalham sua vida, do autor Flip Flippen e co-autoria do Dr. Chris J. White, foi publicado pela Editora Sextante, em 2010, com tradução de Carolina Alfaro. Com 224 páginas, a obra possibilita ao leitor buscar o autoconhecimento e transformar elementos que o estejam atrapalhando em suas carreiras, vidas pessoais e demais situações do cotidiano.

Capa do livro Para de se sabotar e dê a volta por cimaAinda há muito preconceito quando se fala em livros de autoajuda e, realmente, alguns deles parecem ser escritos por pessoas que quase nada entendem do assunto ou sabem tanto quanto você. Porém, o interessante na obra é o conhecimento do autor tanto por ser sua área de formação, quanto por fazer parte da sua profissão ter essa atitude de ajudar outras pessoas a melhorarem suas vidas.

Como todo livro de autoajuda ou autoconhecimento, dificilmente o leitor conseguirá transformar os pontos negativos da noite para o dia – quem tem um psicanalista, por exemplo, leva anos para entender o próprio comportamento e poder mudá-lo gradualmente. Todavia, é interessante como através da descrição de algumas limitações pessoais, Flip Flippen torna acessível o conhecimento ao leitor, fazendo com que a pessoa se vigie antes de agir de determinada maneira.

Pare de se sabotar e dê a volta por cima está dividido em três partes. Na primeira, o autor descreve de forma breve as limitações pessoais e a importância de compreendê-las; na segunda, há a identificação de 10 tipos de limitações e na última, ele ensina como é possível superar as limitações pessoais, através de um plano e compartilhando sua própria história de vida.

A obra é bem prática e não possibilita tanto a reflexão do leitor, pelo contrário, praticamente o empurra e o impele a mudar os seus comportamentos. Pergunto-me até que ponto essas transformações são efetivas, já que alguns traços da personalidade permanecem do início até o final de nossas existências. Essa reflexão sobre a busca pelo conhecimento e o entendimento de si mesmo e das pessoas ao seu redor, não é uma maneira de diminuir os livros de autoajuda – você pode ler livros de filosofia e psicologia, e nem por isso poderá mudar seus reflexos, pois muitos desses comportamentos são internalizados durante a infância.

Enfim, acredito que toda leitura seja válida e sempre podemos aprender um pouco, ou ao menos nos informar. A primeira parte do livro é bem óbvia, na qual ele descreve como as pessoas poderiam ter carreiras melhores e alcançarem o sucesso profissional ou pessoal, se não ignorassem suas limitações. Depois, ele descreve Cinco Leis das Limitações Pessoais, o que é mais um fator para quem gosta de coisas prontas, mastigadas, um dos fatores que fazem os livros de autoajuda estarem sempre presentes nas listas de Livros Mais Vendidos do mundo.

Na segunda parte do livro, Flip descreve 10 tipos de limitações pessoais, com as quais os leitores podem se identificar ou as pessoas com quem convive, e saber como lidar com cada um dos seus pontos negativos, sem deixar de ressaltar que cada um desses perfis também têm suas vantagens. São eles: À Prova de Balas, Ostra, Docinho de Coco, Crítica, Iceberg, Catatônico, Rolo Compressor, Tartaruga, Vulcão e Rápido no Gatilho. Este foi o meu ponto favorito do livro, não por me identificar com essas limitações, mas por ver sua similaridade com os arquétipos, informações que podem me ajudar bastante na hora de desenvolver personagens para minhas narrativas. No entanto, é necessário ressaltar que da mesma forma que os humanos não podem ser limitados em perfis, pois extrapolamos estas convenções, personagens também precisam ser bem criados, para que não sejam clichês ambulantes.

Esse enquadramento dos leitores em diferentes perfis de limitações pode ser conveniente para alguns e óbvio para outros. Alguns exemplos: O Docinho de Coco pode ser alguém que está sempre tentando ajudar os outros, mesmo que para isso atrapalhe a sua própria vida, enquanto o Rolo Compressor é alguém que gosta de passar por cima dos outros. Será que nos comportamos da mesma forma com todas as pessoas? Será que todos nós não temos um pouco de cada uma dessas limitações? Será que uma limitação em relação a um amigo não pode ser diferente em relação a sua família?
Bom, o livro acaba ficando na obviedade do início ao fim. Ninguém precisa de um livro para não enxergar o que é claro: Se uma pessoa é mandona, ela precisa aprender a ceder; Se alguém faz tudo pelos outros, precisa aprender a dizer não; Se alguém está sempre atormentando os outros, dificilmente as pessoas se sentem confortáveis perto delas.


Para finalizar, Flip Flippen conta sua própria história, como ele apanhava dos pais quando era pequeno, como nunca teve apoio deles para seguir com a sua carreira e como mesmo quando começou a alcançar sucesso, chegou a um ponto onde ele percebeu que gastava energia desnecessária tentando fazer com que a mãe, por exemplo, se orgulhasse dele, pois ela sempre tinha alguma crítica. Essas experiências da vida do autor podem ajudar a criar uma empatia com o leitor, como se ele dissesse: “Olha, eu tenho uma vida bem-sucedida, mas já estive no seu lugar. Se eu mudei, você também pode”.

É muito fácil estabelecer “regras genéricas” sobre como as pessoas devem se comportar ou não, para melhorarem seus relacionamentos pessoais e profissionais, para alcançarem seus objetivos, porém cabe a cada um estabelecer seus próprios parâmetros de sucesso e refletir sobre o que vale a pena absorver ou não de conhecimento. A ironia dos livros de autoajuda é a de tentar ajudar o leitor, mas dá-lo tudo pronto para ser digerido. As pessoas parecem, cada vez mais, terem perdido a capacidade de pensarem, de formularem suas próprias opiniões sobre as coisas.

Se eu recomendo a leitura? Sim. Qualquer livro pode ajudar um leitor, em um menor ou maior grau a se compreender e ver que pontos podem ser mudados ou não. O que eu proponho não é só uma crítica ao autor e suas propostas de soluções fáceis para transformar a vida, mas ao leitor que precisa ser capaz de entender que cada ser humano é único e complexo. Não existem fórmulas prontas e soluções mágicas para o sucesso, para a felicidade ou para o amor; O que existem são ilusões, maneiras de enganarmos a nós mesmos. O conhecimento verdadeiro, por outro lado, está no reconhecimento de que a vida não é perfeita, os relacionamentos são falhos e todos nós temos limitações, sendo, às vezes, necessário parar de lutar contra a maré e aprender a aceitar as coisas como elas são. Toda essa idealização sobre uma carreira de sucesso, um relacionamento perfeito, e por aí vai, pode ser lindo na fantasia, porém no mundo real, ela é uma das causas de maior sofrimento da humanidade, a eterna busca pelo que não se pode ter, a tentativa de cristalizar aquilo que é efêmero e ignorar que tudo está mudando o tempo todo. O que lhe parece ser certo hoje pode se tornar errado amanhã. A jornada pelo autoconhecimento é individual.

Autor Flip Flippen

Sobre o autor – Flip Flippen é educador, consultor de carreiras e psicoterapeuta. É presidente do The Flippen Group e vem orientando casais, famílias, organizações e indivíduos do mundo inteiro há mais de 30 anos.

Comentários

  1. Falou tudo. Eu leio livros de auto-ajuda, e é uma leitura fácil, mas óbvia. Eu gosto de ler porque tem sempre alguma coisa para aprender em qualquer livro. Mas a gente é muito complexo para seguir um roteiro, é como você disse: o autoconhecimento é uma jornada individual.

    http://www.gotinhasdeesperanca.com

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    1. Olá, Michele! Adoro suas visitas e comentários ^^
      Pois é, sou desses que não costuma ter preconceitos com livros. Gosto de ler. Aliás, acho triste quando criticam algo que nem foi lido antes... É preconceito! Foi como você disse, há sempre algo para aprender e somos muito complexos para seguirmos fórmulas prontas, a cada dia é algo que precisa ser adaptado.
      Abraços!

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  2. Estou iniciando a leitura no momento, não encaro tanto como coisas prontas, mas sim que algumas coisas da nossa vida teriam ou podem ser mais fáceis se tivermos um norte, alguém para dividir o caminho.

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    1. Oi, Leandro! Imagino que toda leitura é bem-vinda. Depende muito do que vamos tirar para nossas vidas. Nada é pronto, acabado... Tudo está sujeito a se transformar. Muito obrigado por sua visita e comentário!
      Muita luz.
      Abraço

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