Por mais simples que alguns escritores façam parecer quando vemos seus livros prontos e nos deliciamos a cada virar de página, escrever nem sempre é fácil. Não se trata somente de rabiscar o papel, mas de ter a intenção clara na hora da escrita, para que a mensagem não se perca. Nesta hora, é preciso foco e, é claro, muita disciplina. Porém, no dia-a-dia, se esperamos pelas condições ideais para a criação literária, acabamos procrastinando e caindo num ciclo de negação, nos tornando escritores que não escrevem.
Algo que ajuda bastante antes de iniciar a escrita, é esvaziar a mente e prepará-la para que os pensamentos fluam. Até nossas pequenas vitórias, que se tornam motivo de orgulho – muitas vezes só para nós mesmos –, acabam nos deixando ansiosos e perdemos a concentração, pois nossas mentes estão tão agitadas e não conseguem se desprender das idealizações.
Cada um tem o seu próprio processo criativo. Não existem fórmulas mágicas. Às vezes, a solução mais eficaz é a mais simples. Como assim? Basta uma olhada rápida nas discussões de escritores iniciantes para notar o quanto eles sofrem com o bloqueio criativo. Muitos deles dizem que começaram com boas ideias, mas simplesmente não sabem como continuar, deixando o projeto do livro parado durante semanas, meses ou anos. E qual seria a solução para esses malditos brancos? Escrever.
Estar focado na Jornada do Escritor envolve se conectar consigo mesmo, para entender as coisas que te motivam a continuar escrevendo e as que te atrapalham. Uma boa organização pode ajudá-lo. Faça uma coisa de cada vez. É por isto que o escritor não pode escrever, revisar e editar o texto ao mesmo tempo, para não interromper o fluxo. São processos diferentes. Aliás, a revisão e edição do manuscrito de seu livro, quando você está tão íntimo com ele, podem ser afetadas, fazendo com que erros de estrutura, ortografia e outros elementos da narrativa passem despercebidos.
Antes de começar a escrever, é preciso estabelecer várias coisas: Por que você quer escrever? Qual é a sua intenção com o livro? Qual é o seu potencial público-leitor? Quem será o seu protagonista? Qual será o gênero e a temática? Qual será o foco narrativo? Ou seja, é preciso construir qual será a linguagem de sua história. Quanto mais informações você tiver, mais fácil será organizar. Você precisa estar focado no que está fazendo, caso contrário sua história ficará diluída, desconexa, entre uma série de problemas que podem acontecer, como personagens que estão diferentes a cada capítulo, alternância de pontos de vista não intencional, não existência de conflitos, diálogos que poderiam ser cortados, personagens que não acrescentam nada à narrativa, protagonistas óbvios, desenvolvimentos clichês (o leitor decifra o livro inteiro no primeiro capítulo) etc.
Ainda sobre a importância de ter foco, se você é escritor iniciante vai encontrar uma série de dificuldades pelo caminho. Há um texto em que a editora e especialista em produção editorial, Laura Bacellar afirma: "Escrever é um ato solitário. Assuma responsabilidade por suas escolhas e não dê ouvidos a mais ninguém". O que isso significa? Que você precisa ter suas próprias metas e entender que a jornada do escritor, em sua grande parte, é solitária. Seus pais, parceiros, amigos, colegas e outros escritores vão te apoiar até certo ponto, mas só você vai saber como é felicidade de ter suas histórias publicadas, a dor de ter seus originais recusados por uma editora, os esforços e sacrifícios que fez para se dedicar à escrita, pesquisa e revisão de suas produções e mais situações que acontecem constantemente na vida do escritor iniciante ou veterano.
Sobre o apoio, o escritor precisa tentar separar as coisas. O ofício é desvalorizado por muitas pessoas, principalmente por quem não se interessa por livros, leia-se “para a maioria dos brasileiros”. Então, quando você finalmente colecionou algumas vitórias, como a publicação de alguns contos e romances, lá vem outro desafio: O de ter apoio para que você consiga vender seus livros. Acredite, dificilmente todos seus amigos irão apoiá-lo e comprar a obra não é garantia de que ela será lida. Esqueça as aparências, como o alto número de curtidas e de comentários elogiosos, pois esses só vão encher o seu ego e quase nunca correspondem à realidade.
De onde tirar o apoio necessário para seguir em frente? A primeira pessoa que precisa confiar em sua escrita é você mesmo. A falta de autoconfiança e o excesso de autocrítica são motivos responsáveis pela desistência de muitos autores iniciantes. É preciso bom senso e não se achar o máximo, quando você ainda tem muito a aprender, porém se você nunca achar nada bom do que escreve, em vez de ficar se lamentando, uma boa opção é correr atrás do conhecimento. É possível aprender a escrever melhor? Muita leitura, prática da escrita, estudo de linguagens e literatura, cursos sobre a arte da ficção. São inúmeras as oportunidades.
Ouvi num seriado a seguinte frase: “Ser escritor é estar acostumado com a rejeição”. Muitas pessoas não estarão presentes em sua jornada e com exceção de seus melhores amigos e familiares, com os quais você deveria contar com o apoio – nem sempre acontece, mas não se desanime! Você pode ficar choramingando que ninguém entende o seu sonho de se tornar escritor e publicar seus livros, ou pode começar a aprender um pouco de marketing e conquistar leitores que se interessem de verdade pelo que você escreve. É bom receber elogios de pessoas próximas, mas dificilmente elas vão dizer o que você não quer escutar, como “O seu livro é uma droga!” ou “Por que você não arranja outra profissão? Você não tem talento!”, e quando elas elogiam suas obras, elas estão fazendo isso porque acreditam ser o certo a se fazer – novamente, pode acontecer de alguém destruir o seu sonho, mas cabe a você procurar sempre melhorar ou fazer como a maioria faz e desistir.
Gostoso é nos surpreendermos com o apoio de pessoas que, muitas vezes, nem nos conhecem ao vivo, mas admiram nossas escritas. Estou participando de um projeto do livro chamado
Remetente N15, e fico decepcionado por não ter tantos apoiadores próximos de mim, porém me surpreendi quando uma blogueira reservou o exemplar dela, antes até mesmo dos meus amigos. Sonhos são muito pessoais, não é mesmo? O livro que você escreveu, seja sozinho ou com outros autores, pode te proporcionar alegria e orgulho, enquanto para outras pessoas será só mais uma obra publicada.
Uma das maneiras de se manter sempre firme nos seus propósitos é fazendo amizade com outros escritores. Alguns irão te apoiar, trocar informações bacanas e ajudá-lo a se desenvolver no meio literário, outros vão se aproximar somente para inflarem seus egos e divulgarem seus próprios trabalhos. Mesmo que a escrita em si exija criatividade e solidão, ter quem torça pelas suas vitórias, o levante do chão diante das crises e leia seus manuscritos, entre outras coisas, ajudam a tornar a Jornada do Escritor mais agradável. Assim como os protagonistas de nossas histórias que enfrentam uma série de conflitos e antagonistas, sofrem com os sacrifícios e derrotas, também precisamos de nossos aliados e de muito foco para continuar escrevendo.