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Destaques

Dois meses sem fumar cigarro

Quando eu comecei a parar de fumar cigarro, a primeira coisa que eu tinha em mente era a de que não queria ser o tipo de pessoa que fica contando com frequência há quanto tempo estava sem fumar, até me dar conta da importância disso, pelo menos no início. Aos dois meses sem fumar cigarro, a tentação e a fissura diminuem, tornando mais fácil de lidar com a ausência da nicotina. No início, é normal que haja um estranhamento do horário em que costumava fumar agora estar sendo usado para outra coisa, mas com o passar do tempo, as coisas melhoram. Ao mesmo tempo em que não via a importância de contar o tempo sem cigarro, uma parte de mim não acreditava que conseguiria ficar tanto tempo sem cigarro, como se fosse ficar preso em um constante ciclo de recaídas, mas a verdade era que havia conseguido e tinha como plano continuar longe do cigarro. Então, sim, depois de um tempo sem o cigarro e a nicotina, as coisas realmente melhoram, não é só algo que dizem para inspirar a pessoa a não desi...

Barganha

O silêncio da última vez em que se falaram era tudo o que restava. O som de passos se afastando, sem saber que seria a última vez, acompanhado de uma leve fantasia de que algum dia iriam se reencontrar, ainda que em um contexto diferente.

Ao lidar com a luta contra o vício, também vinha revivendo memórias e, agora, duas semanas sem fumar cigarro, estava pensando em como a mente estava tentando barganhar. Quem sabe trocar por um cigarro mais barato? Quem sabe finalmente vou conseguir fumar menos? Muitas possibilidades que sabia que não deveria ceder.

A ausência que alguém causava na vida não era tão diferente. Muitas vezes, ficávamos presos em um ciclo de “E Se”, alimentado por nostalgia, desejo e fantasia, mas nem sempre com os pés no chão. Mas assim como o vício que sabia barganhar, a mente também dava seus próprios meios de iludir de alguma forma.

A aceitação radical de que algo não vai mais acontecer, muitas vezes, é tudo o que é necessário para conseguir seguir em frente. Estava exausto das fantasias, preferia a realidade que o machucara, consciente de que talvez as coisas fossem melhores assim.

Então, assim como o velho fantasma do passado que tentava se manter vivo no presente, ia dizendo não ao cigarro, aceitando que uma vez que havia se libertado, não queria que fizesse mais parte da sua vida. Talvez fosse um pouco parecido com a dependência emocional que sentia, a parte lógica do cérebro sabia que já não fazia sentido há anos, mas a parte emocional ainda se alimentava de esperança.

Assim como o vício que era negado dia após dia e não era agradável viver sem, precisava que o cérebro entendesse de uma vez por todas que o outro jamais voltaria. Era doloroso, mas realista. Era o que precisava para voltar a viver o momento presente, deixar de esperar que o passado fosse mudar e que ainda havia tempo de reescrever a história. Eram um livro encerrado, que para o outro já havia passado da hora da doação. Um livro que não importava o quanto tentasse, não teria continuação. Aceitação era tudo o que restava.

*Ben Oliveira é escritor, formado em jornalismo. Autor do livro de terror Escrita Maldita, publicado na Amazon e dos livros de fantasia jovem Os Bruxos de São Cipriano: O Círculo (Vol.1) e O Livro (Vol. 2), disponíveis no Wattpad e na loja Kindle.

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