Pular para o conteúdo principal

Destaques

Born This Way: Hino LGBTQIA da Lady Gaga e sua importante Fundação

Os anos passam mais algumas músicas continuam fazendo sucesso. Neste mês do Orgulho LGBTQIA , Born This Way , da Lady Gaga , permanece sendo reconhecida como um hino LGBTQIA. Mais do que cantar sobre a causa, a importância da própria identidade e aceitação, a cantora da música lançada em 2011 é também co-fundadora de uma fundação que apoia comunidades LGBTQIA. Segundo informações do site da Born This Way Foundation , a missão é: “Empoderar e inspirar os jovens a construírem um mundo mais gentil e corajoso que apoia a saúde mental e o bem-estar deles. Baseado na relação científica entre gentileza e saúde mental e construído em parceria com os jovens, a fundação incentiva pesquisa, programas, doações e parecerias para envolver o público jovem e conectá-los com recursos acessíveis de saúde mental”. Mais do que uma música para inspirar a Parada do Orgulho LGBTQIA ou ser ouvida o ano inteiro, Born This Way deixou esse grande legado que foi a fundação que já ajudou muitos jovens LGBTQIA. E o...

Resenha: Para Ler Romances Como Um Especialista – Thomas C. Foster

Dando continuidade às minhas leituras e recomendações de livros para quem deseja aprender mais sobre o universo da escrita literária, minha dica do dia é a obra Para Ler Romances Como Um Especialista, do professor de literatura e escrita criativa Thomas C. Foster, publicada pela Lua de Papel (Leya Editora), em 2011, de 288 páginas.

Com a proposta de ensinar o leitor a aprender a ler nas entrelinhas dos maiores clássicos da literatura, o livro é bem prático e é uma boa dica de leitura para estudantes de Letras, escritores e pessoas interessadas em reconhecer os diferentes elementos das narrativas, entender porque alguns são tão encantadores e como o gênero romance é difícil de ser enquadrado, já que ele sofre uma série de transformações ao longo dos anos.

Na introdução do livro, Thomas C. Foster aborda de forma geral o poder de sedução do romance e sua natureza colaborativa – o escritor não é o único que precisa narrar a história, cabendo ao leitor seguir uma série de ‘regras’ que o permite viajar pelas páginas do livro e se tornando participantes no processo de criação de significado. Sobre a questão da morte do romance, do fim do autor, o autor dá uma pincelada no assunto, mostrando como com tantas especulações durante os diferentes séculos de que o gênero narrativo estava fadado ao fracasso, os escritores vão sempre adaptando de acordo com suas necessidades, as dos leitores e do mercado editorial.

“O romance está sempre morrendo, sempre perdendo seu gás, e sempre sendo renovado, reinventado”.

Cada capítulo do livro debate um diferente elemento presente no romance que faz o leitor se envolver com as obras clássicas e contemporâneas. No capítulo 1, Thomas C. Foster fala sobre as frases presentes nas primeiras páginas, comentando a importância delas para que o romancista exerça sua magia e convença o leitor a entrar para o jogo. Segundo o autor, logo no começo de um livro de ficção é possível reconhecer algumas coisas, como o estilo, o tom, o lugar, o tema, o ritmo e por aí vai... Thomas cita 18 pontos, dando uma breve explicação sobre cada um deles.

Depois do aprendizado inicial, no capítulo 2 é discutida a realidade do romance. Thomas C. Foster comenta sobre a necessidade do leitor não tentar comparar o universo do livro com o do mundo real, ressaltando que desde os personagens até os lugares, tudo é inventado. Ainda uma dica aos escritores iniciantes, por mais que os lugares não sejam reais, o leitor precisa sentir como se fosse, já que ele é tão importante no processo de criação desses mundos quanto os narradores.

No capítulo 3 são descritos o ponto de vista, a escolha do narrador e como o leitor é influenciado. Thomas lista os diferentes tipos de narração (Terceira pessoa onisciente, Terceira pessoa limitada, Terceira pessoa objetiva, Fluxo de consciência, Segunda pessoa, Primeira pessoa central, Primeira pessoa secundária), depois cita algumas vantagens e desvantagens. Já no capítulo 4, Thomas se aprofunda na questão do narrador em primeira pessoa, afirmando que ele nem sempre pode ser confiável e citando alguns casos em que este ponto de vista é empregado.

A voz narrativa é abordada no capítulo 5. Thomas C. Foster fala sobre como o romance pode empregas múltiplas vozes e a dificuldade de fazer isso, assim como a necessidade de se ter uma voz, mesmo que o narrador seja onisciente.

“Voz é significado. O que um narrador diz e como ele diz muda a história que está sendo contada”.

Entrando na questão dos personagens, apesar de ser algo óbvio, o autor fala no capítulo 6 sobre como os leitores têm suas próprias maneiras de enxergarem estas ‘pessoas’ e independente deles parecerem reais, eles são uma construção linguística e o escritor não deve sobrecarregar de informações inúteis. Ainda sobre este assunto que desperta bastante interesse em quem se interessa por literatura, no capítulo 7 é criticada aquela visão de que todo protagonista precisa ser um mocinho. Segundo o autor, a ficção permite a transgressão, e mesmo quando o leitor não gostaria de ser como o anti-herói, ele se vê envolvido na narrativa, pois esses personagens dão algo em troca (emoção, charme etc.).

Outra dúvida comum de quem está começando é sobre a divisão dos capítulos nos romances. Não existe um jeito certo ou errado. O leitor e o escritor verão diversas maneiras que as narrativas são quebradas, mas de acordo com Foster, no capítulo 8, essas divisões são mais do que uma área de descanso e servem para indicar que algo significante aconteceu, cabendo ao autor saber sua razão.

Um elemento que confunde bastante quem está começando a escrever é o lugar. Thomas C. Foster alerta para o risco de se querer incluir nas narrativas todos os lugares, lembrando que no universo da ficção não existe CEP. Uma das sugestões do autor é a de que se comece por uma pessoa, em um lugar, fazendo alguma coisa, ao invés de cair na cilada de produzir algo malfeito e que não envolva o leitor.

“O trabalho do escritor é oferecer uma história que envolve, fascina, prova e, acima de tudo registra-se como única”

Antes do capítulo 10, há um interlúdio no livro sobre os diferentes estilos de romances, com destaque para a descrição de como eram as publicações dos fascículos e como os autores faziam para conquistar a fidelidade do público, quando os capítulos do livro eram publicados mensalmente ou semanalmente, antes de sua impressão na íntegra. Com o desenvolvimento da tecnologia, Foster explica que o romance também sofre uma série de transformações, abrindo espaço para o experimentalismo.

Voltando para a importância do personagem bem escrito, no capítulo 10, Thomas ensina que os objetos também ajudam a dar sentido e significado para os seres da ficção. Já no capítulo 11, o autor fala sobre o jeito que cada escritor tem de escrever sua história, possibilitando reconhecê-lo pelas escolhas de palavras, por exemplo. Pulando para o capítulo 12, o leitor descobre que cada autor deve criar suas próprias regras de comprimento e estruturas das sentenças para os seus romances, podendo variar de livro para livro do mesmo escritor.

O capítulo 13 foi um dos que mais me interessou no livro, pois é abordado o Fluxo de Consciência, técnica que permite ao leitor viajar pelas memórias e impressões dos personagens, sem a mediação do narrador. Ainda que essas representações da consciência sejam envolventes, como todas as estruturas da ficção, Foster relembra que elas são artificiais. No capítulo 14, o leitor aprende que uma das maneiras de se conectar com o personagem é entender os seus desejos mais profundos – mais um ponto que o escritor iniciante tem dificuldade e pode prestar atenção ao ler romances, já que a leitura atenta é uma ótima forma de aprender.

Existe ficção sobre ficção? As intervenções dos escritores e narradores dentro dos romances são possíveis em algumas obras, embora de acordo com Foster, no capítulo 15, elas podem atrapalhar alguns leitores, tirando um pouco do encanto da magia e invisibilidade dos fios que mantêm as coisas ligadas. Mesmo que incomuns em alguns livros, o autor afirma que não existem regras até que ponto se pode ir e que a metaficção pode ajudar o leitor a aprender mais sobre o processo de criação e psicologia.

As fontes utilizadas para o escritor produzir suas histórias são levantadas no capítulo 16. Para Foster, é impossível que o autor não seja influenciado por suas próprias experiências pessoais, além de poder buscar outras fontes de inspiração e criação, como a leitura, observação da sociedade e a história. No segundo interlúdio da obra, Foster explica que se o leitor ler com o ouvido, ele perceberá que existem semelhanças entre romances, seja por meio da intertextualidade e dialogismo (conversa entre livros, mesmo que o autor não tenha lido a obra mais antiga).

As improbabilidades são parte do que os romances permitem ao leitor conhecer lugares que nunca foram (ou não existem no mundo real), fazer coisas que nunca tinha feito, viver outra vida. Mesmo que os personagens sejam bem escritos, Thomas C. Foster faz um alerta tanto ao escritor quanto ao leitor: são os leitores que escolhem o grau de identificação com os personagens. Logo, se não há afinidade com o protagonista, dificilmente o leitor vai gostar da obra.

No capítulo 18, Foster fala sobre os escritores que tentam incluir elementos filosóficos no romance, mas ensina que antes é preciso se pensar na narrativa e no envolvimento com o leitor, caso contrário de nada adianta ter uma boa filosofia se a ficção é ruim. Ainda na questão de acertos e erros, no capítulo 19 são abordadas as adaptações cinematográficas de livros e suas limitações.

Como deve ser a organização de um romance? Este é o ponto do capítulo 20, no qual, mais uma vez, Foster afirma que cada livro tem sua maneira particular. Voando para o capítulo 21, o autor fala sobre as pontas soltas e finais de romances, argumentando que como a história termina, geralmente, é influenciada pela ânsia do romancista de agradar ao público, e que mesmo diante da noção de que ficção é ficção, alguns escritores concluem de forma artificial demais.

Os dois últimos capítulos do livro falam sobre a influência da história no romance (romance histórico) e sobre a apropriação do escritor de leituras prévias antes de escrever, assim como da necessidade do leitor se envolver a ponto de interpretá-la, viver a história também, interagir com o romance – metade do trabalho é do escritor, outra é do leitor que vai conferir sentido e significado ao que foi escrito.

“Os escritores fazem os romances; Os leitores os fazem viver”.

Na conclusão do livro, Thomas C. Foster explica que a jornada do aprendizado sobre a literatura, leitura e escrita nunca acaba, podendo sempre aprender mais sobre essas interações, já que livros levam a mais livros. Ainda no final, o autor recomenda uma lista de leituras sobre a crítica do romance, para aqueles que desejam se aprofundar seus conhecimentos sobre o assunto.

Sei que a resenha ficou um pouco grande, mas não poderia de dar esta pincelada ao leitor que possa se interessar pelo livro. Minha leitura foi bem produtiva! Dentro da Jornada do Escritor é preciso sempre aprender. Nem sempre o escritor vai ter tempo de ler todos os livros recomendados, sejam clássicos, contemporâneos, técnicos, ensaios, cartas, críticas ou teorias sobre a arte da ficção. Obras como Para Ler Romances Como Um Especialista servem como aulas de Literatura. Se o leitor vai buscar mais conhecimento sobre determinados elementos narrativos, cabe a ele decidir. O importante é que após ler o livro, o escritor iniciante aumenta sua bagagem cultural e aprende a ler com mais atenção e descobrir que ele também pode ousar e escrever um romance único, porém antes precisa aprender com os grandes autores.

Sobre o autor – Thomas C. Foster leciona Inglês na Universidade de Michigan, Flint, e também ministra cursos sobre ficção contemporânea, teatro, poesia, escrita criativa e composição. Escreveu diversos livros sobre literatura e poesia inglesa e irlandesa do século XX, e mora em East Lansing, Michigan.

Mais lidas da semana