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Scoop: Jornalistas da BBC e uma entrevista polêmica com príncipe Andrew

Quando um escândalo internacional envolvendo a Família Real estoura, uma jornalista tenta ser a primeira a conseguir uma resposta do príncipe Andrew para a BBC. Scoop é um filme de 2024 sem grandes surpresas para quem acompanhou a cobertura midiática da época, que mostra a importância do jornalismo não se silenciar quando se faz relevante. Um caso que havia sido noticiado há nove anos sobre a amizade de Andrew e Jeffrey Epstein estoura com a prisão do milionário e suicídio. Enquanto jornais de diferentes partes do mundo fizeram cobertura, o silêncio de príncipe Andrew no Reino Unido incomoda a equipe de jornalismo, que tenta persuadi-lo a dar uma entrevista. Enquanto obtém autorização para fazer a entrevista, a equipe de jornalismo mergulha nas informações que a Família Real não gostaria que fossem divulgadas sobre as jovens que faziam parte do esquema de tráfico sexual e as vezes em que príncipe Andrew estava no avião particular de Epstein. O filme foca mais na equipe de jornalismo do

Resenha: Para Ler Romances Como Um Especialista – Thomas C. Foster

Dando continuidade às minhas leituras e recomendações de livros para quem deseja aprender mais sobre o universo da escrita literária, minha dica do dia é a obra Para Ler Romances Como Um Especialista, do professor de literatura e escrita criativa Thomas C. Foster, publicada pela Lua de Papel (Leya Editora), em 2011, de 288 páginas.

Com a proposta de ensinar o leitor a aprender a ler nas entrelinhas dos maiores clássicos da literatura, o livro é bem prático e é uma boa dica de leitura para estudantes de Letras, escritores e pessoas interessadas em reconhecer os diferentes elementos das narrativas, entender porque alguns são tão encantadores e como o gênero romance é difícil de ser enquadrado, já que ele sofre uma série de transformações ao longo dos anos.

Na introdução do livro, Thomas C. Foster aborda de forma geral o poder de sedução do romance e sua natureza colaborativa – o escritor não é o único que precisa narrar a história, cabendo ao leitor seguir uma série de ‘regras’ que o permite viajar pelas páginas do livro e se tornando participantes no processo de criação de significado. Sobre a questão da morte do romance, do fim do autor, o autor dá uma pincelada no assunto, mostrando como com tantas especulações durante os diferentes séculos de que o gênero narrativo estava fadado ao fracasso, os escritores vão sempre adaptando de acordo com suas necessidades, as dos leitores e do mercado editorial.

“O romance está sempre morrendo, sempre perdendo seu gás, e sempre sendo renovado, reinventado”.

Cada capítulo do livro debate um diferente elemento presente no romance que faz o leitor se envolver com as obras clássicas e contemporâneas. No capítulo 1, Thomas C. Foster fala sobre as frases presentes nas primeiras páginas, comentando a importância delas para que o romancista exerça sua magia e convença o leitor a entrar para o jogo. Segundo o autor, logo no começo de um livro de ficção é possível reconhecer algumas coisas, como o estilo, o tom, o lugar, o tema, o ritmo e por aí vai... Thomas cita 18 pontos, dando uma breve explicação sobre cada um deles.

Depois do aprendizado inicial, no capítulo 2 é discutida a realidade do romance. Thomas C. Foster comenta sobre a necessidade do leitor não tentar comparar o universo do livro com o do mundo real, ressaltando que desde os personagens até os lugares, tudo é inventado. Ainda uma dica aos escritores iniciantes, por mais que os lugares não sejam reais, o leitor precisa sentir como se fosse, já que ele é tão importante no processo de criação desses mundos quanto os narradores.

No capítulo 3 são descritos o ponto de vista, a escolha do narrador e como o leitor é influenciado. Thomas lista os diferentes tipos de narração (Terceira pessoa onisciente, Terceira pessoa limitada, Terceira pessoa objetiva, Fluxo de consciência, Segunda pessoa, Primeira pessoa central, Primeira pessoa secundária), depois cita algumas vantagens e desvantagens. Já no capítulo 4, Thomas se aprofunda na questão do narrador em primeira pessoa, afirmando que ele nem sempre pode ser confiável e citando alguns casos em que este ponto de vista é empregado.

A voz narrativa é abordada no capítulo 5. Thomas C. Foster fala sobre como o romance pode empregas múltiplas vozes e a dificuldade de fazer isso, assim como a necessidade de se ter uma voz, mesmo que o narrador seja onisciente.

“Voz é significado. O que um narrador diz e como ele diz muda a história que está sendo contada”.

Entrando na questão dos personagens, apesar de ser algo óbvio, o autor fala no capítulo 6 sobre como os leitores têm suas próprias maneiras de enxergarem estas ‘pessoas’ e independente deles parecerem reais, eles são uma construção linguística e o escritor não deve sobrecarregar de informações inúteis. Ainda sobre este assunto que desperta bastante interesse em quem se interessa por literatura, no capítulo 7 é criticada aquela visão de que todo protagonista precisa ser um mocinho. Segundo o autor, a ficção permite a transgressão, e mesmo quando o leitor não gostaria de ser como o anti-herói, ele se vê envolvido na narrativa, pois esses personagens dão algo em troca (emoção, charme etc.).

Outra dúvida comum de quem está começando é sobre a divisão dos capítulos nos romances. Não existe um jeito certo ou errado. O leitor e o escritor verão diversas maneiras que as narrativas são quebradas, mas de acordo com Foster, no capítulo 8, essas divisões são mais do que uma área de descanso e servem para indicar que algo significante aconteceu, cabendo ao autor saber sua razão.

Um elemento que confunde bastante quem está começando a escrever é o lugar. Thomas C. Foster alerta para o risco de se querer incluir nas narrativas todos os lugares, lembrando que no universo da ficção não existe CEP. Uma das sugestões do autor é a de que se comece por uma pessoa, em um lugar, fazendo alguma coisa, ao invés de cair na cilada de produzir algo malfeito e que não envolva o leitor.

“O trabalho do escritor é oferecer uma história que envolve, fascina, prova e, acima de tudo registra-se como única”

Antes do capítulo 10, há um interlúdio no livro sobre os diferentes estilos de romances, com destaque para a descrição de como eram as publicações dos fascículos e como os autores faziam para conquistar a fidelidade do público, quando os capítulos do livro eram publicados mensalmente ou semanalmente, antes de sua impressão na íntegra. Com o desenvolvimento da tecnologia, Foster explica que o romance também sofre uma série de transformações, abrindo espaço para o experimentalismo.

Voltando para a importância do personagem bem escrito, no capítulo 10, Thomas ensina que os objetos também ajudam a dar sentido e significado para os seres da ficção. Já no capítulo 11, o autor fala sobre o jeito que cada escritor tem de escrever sua história, possibilitando reconhecê-lo pelas escolhas de palavras, por exemplo. Pulando para o capítulo 12, o leitor descobre que cada autor deve criar suas próprias regras de comprimento e estruturas das sentenças para os seus romances, podendo variar de livro para livro do mesmo escritor.

O capítulo 13 foi um dos que mais me interessou no livro, pois é abordado o Fluxo de Consciência, técnica que permite ao leitor viajar pelas memórias e impressões dos personagens, sem a mediação do narrador. Ainda que essas representações da consciência sejam envolventes, como todas as estruturas da ficção, Foster relembra que elas são artificiais. No capítulo 14, o leitor aprende que uma das maneiras de se conectar com o personagem é entender os seus desejos mais profundos – mais um ponto que o escritor iniciante tem dificuldade e pode prestar atenção ao ler romances, já que a leitura atenta é uma ótima forma de aprender.

Existe ficção sobre ficção? As intervenções dos escritores e narradores dentro dos romances são possíveis em algumas obras, embora de acordo com Foster, no capítulo 15, elas podem atrapalhar alguns leitores, tirando um pouco do encanto da magia e invisibilidade dos fios que mantêm as coisas ligadas. Mesmo que incomuns em alguns livros, o autor afirma que não existem regras até que ponto se pode ir e que a metaficção pode ajudar o leitor a aprender mais sobre o processo de criação e psicologia.

As fontes utilizadas para o escritor produzir suas histórias são levantadas no capítulo 16. Para Foster, é impossível que o autor não seja influenciado por suas próprias experiências pessoais, além de poder buscar outras fontes de inspiração e criação, como a leitura, observação da sociedade e a história. No segundo interlúdio da obra, Foster explica que se o leitor ler com o ouvido, ele perceberá que existem semelhanças entre romances, seja por meio da intertextualidade e dialogismo (conversa entre livros, mesmo que o autor não tenha lido a obra mais antiga).

As improbabilidades são parte do que os romances permitem ao leitor conhecer lugares que nunca foram (ou não existem no mundo real), fazer coisas que nunca tinha feito, viver outra vida. Mesmo que os personagens sejam bem escritos, Thomas C. Foster faz um alerta tanto ao escritor quanto ao leitor: são os leitores que escolhem o grau de identificação com os personagens. Logo, se não há afinidade com o protagonista, dificilmente o leitor vai gostar da obra.

No capítulo 18, Foster fala sobre os escritores que tentam incluir elementos filosóficos no romance, mas ensina que antes é preciso se pensar na narrativa e no envolvimento com o leitor, caso contrário de nada adianta ter uma boa filosofia se a ficção é ruim. Ainda na questão de acertos e erros, no capítulo 19 são abordadas as adaptações cinematográficas de livros e suas limitações.

Como deve ser a organização de um romance? Este é o ponto do capítulo 20, no qual, mais uma vez, Foster afirma que cada livro tem sua maneira particular. Voando para o capítulo 21, o autor fala sobre as pontas soltas e finais de romances, argumentando que como a história termina, geralmente, é influenciada pela ânsia do romancista de agradar ao público, e que mesmo diante da noção de que ficção é ficção, alguns escritores concluem de forma artificial demais.

Os dois últimos capítulos do livro falam sobre a influência da história no romance (romance histórico) e sobre a apropriação do escritor de leituras prévias antes de escrever, assim como da necessidade do leitor se envolver a ponto de interpretá-la, viver a história também, interagir com o romance – metade do trabalho é do escritor, outra é do leitor que vai conferir sentido e significado ao que foi escrito.

“Os escritores fazem os romances; Os leitores os fazem viver”.

Na conclusão do livro, Thomas C. Foster explica que a jornada do aprendizado sobre a literatura, leitura e escrita nunca acaba, podendo sempre aprender mais sobre essas interações, já que livros levam a mais livros. Ainda no final, o autor recomenda uma lista de leituras sobre a crítica do romance, para aqueles que desejam se aprofundar seus conhecimentos sobre o assunto.

Sei que a resenha ficou um pouco grande, mas não poderia de dar esta pincelada ao leitor que possa se interessar pelo livro. Minha leitura foi bem produtiva! Dentro da Jornada do Escritor é preciso sempre aprender. Nem sempre o escritor vai ter tempo de ler todos os livros recomendados, sejam clássicos, contemporâneos, técnicos, ensaios, cartas, críticas ou teorias sobre a arte da ficção. Obras como Para Ler Romances Como Um Especialista servem como aulas de Literatura. Se o leitor vai buscar mais conhecimento sobre determinados elementos narrativos, cabe a ele decidir. O importante é que após ler o livro, o escritor iniciante aumenta sua bagagem cultural e aprende a ler com mais atenção e descobrir que ele também pode ousar e escrever um romance único, porém antes precisa aprender com os grandes autores.

Sobre o autor – Thomas C. Foster leciona Inglês na Universidade de Michigan, Flint, e também ministra cursos sobre ficção contemporânea, teatro, poesia, escrita criativa e composição. Escreveu diversos livros sobre literatura e poesia inglesa e irlandesa do século XX, e mora em East Lansing, Michigan.

Comentários

  1. Oi Ben. Terminou o livro já?
    Adorei a sua resenha e claro, que me interessei bastante. E infelizmente é verdade, a gente nem sempre tem tempo para ler tudo o que poderíamos. Resta ir lendo sempre e sempre buscando novas dicas, novas técnicas.
    Acredita que não consegui nem ver aquelas aulas ainda?
    Acho que o dia devia ter 40 horas :(
    Abraços
    http://profissao-escritor.blogspot.com.br/

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    1. Oi, Gih! Já terminei sim. Eu super te entendo. Esse lance de ser escritor é meio complicado. Quando escrevemos muito, quase não temos tempo para ler, e vice-versa. Sem contar o blog e outras obrigações do dia-a-dia. Há dias em que é preciso se forçar escrever, porque energia mesmo, a mente já gastou praticamente toda na metade do dia.
      Preciso me organizar para voltar a assistir uns documentários. Também estou dando uma última revisada nos meus textos que vão ser publicados. Tem essa também: há meses em que nada acontece e meses em que tudo acontece ao mesmo tempo.
      Abraços e obrigado por sua visita!

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  2. Poxa, realmente os romances são tão envolventes, não?
    Hm, tava pensando, é mesmo sempre no começo que nos envolvemos com as histórias e somos puxados para continuar. Esta parte de levar a história para uma realidade (mesmo que alternativa) ocorre de verdade, vejo isso nas histórias fantásticas em si, como HP, Sr. dos Anéis, etc. Ah, curto ler quando está na primeira pessoa, me sinto ali presente de verdade. Mas gosto de ver diferentes pontos de vista ao ler na terceira pessoa. Sempre tento entender mais sobre a tal voz narrativa, hehe, mas ainda mal entendo... :/
    Sobre as regras dentro do texto, descrição e como separar as partes, acho que o autor deve fazer da forma que se torne mais natural na transição dos personagens dentro da história, não?
    Fluxo da consciência é algo incrível, dá para o leitor facetas boas dentro da leitura!
    Concordo que o escritor é sempre influenciado quanto ao que viveu, já li muito sobre "história de mundo" do autor ao escrever, o mesmo ocorre até com tradutores! :D
    Amei a resenha, muito boa!
    Abraços, Yasmin - http://qualeoseuladob.blogspot.com.br/

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    1. Oi, Yasmin! Fiquei muito feliz com o seu comentário. É tão bom quando o blogueiro se dá ao trabalho de ler o texto, antes de comentar. Também gosto de narrativas na primeira pessoa, mas nem sempre este é o melhor ponto de vista, tudo depende da história que quer se contar. Muitos escritores iniciantes acabam confundindo os focos narrativas, seja começando a contar em primeira pessoa e do nada passando para a terceira pessoa ou vice-versa.
      A leitura de Para Ler Romances Como um Especialista foi uma aula para mim! Levando em conta que o autor é professor de Literatura de uma universidade norte-americana e que no Brasil os cursos voltados para esta área ainda não são tão valorizados, valeu super a pena ler. Sem falar que encontrei o livro numa mega promoção, estava por apenas R$ 9,90.
      Abraços e volte sempre!

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  3. Respostas
    1. Olá, Paulo!
      Fico muito feliz que tenha gostado do blog. Espero ter ajudado.
      Abraços. Volte sempre =)

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