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Destaques

Sem talvez

Não havia talvez quando se tratava de pôr a própria saúde mental em primeiro lugar, especialmente quando o outro a estava negligenciando. Não havia talvez para continuar sustentando um relacionamento que não ia para frente, no qual o outro se negava a se responsabilizar e se colocava constantemente no papel de vítima. Não havia talvez quando você havia se transformado em uma espécie de terapeuta que tinha que ficar ouvindo reclamações e problemas constantes, se sentindo completamente drenado após cada interação. Já não havia espaço para o talvez. Talvez as coisas seriam diferentes se o outro tivesse o mesmo cuidado com a saúde mental que você tem. Talvez a fase ruim iria passar um dia. Talvez a pessoa ia parar de se pôr como vítima e começar a se responsabilizar. Eram muitos talvez que não tinha mais paciência para esperar. Então, não, já havia aguentado mais do que o suficiente. Não era responsável por lidar com os problemas do outro. Não era responsável por tentar levar leveza diante...

Resenha: Simplesmente Acontece – Cecelia Ahern

O livro Simplesmente Acontece (Where Rainbows End), da autora Cecelia Ahern, é uma daquelas leituras voltadas para quem gosta de histórias românticas. A obra, de 448 páginas, foi publicada no Brasil pela Editora Novo Conceito, em 2014, com tradução de Amanda Moura da Silva Santos e Ivar Panazzolo Júnior.


Como cheguei até o livro? Antes assisti ao filme Love, Rosie, baseado no livro Where Rainbows End. Da mesma forma que acontece com muitos livros românticos, suas adaptações cinematográficas conseguem enxugar a trama e deixar somente as cenas que podem tocar mais o telespectador.

Bom, Simplesmente Acontece conta a história de Rosie (a personagem principal) e Alex. Por ser a protagonista, por mais que tenhamos informações de Alex, o foco permanece em Rosie, seja por ter mais detalhes ou pela possibilidade de se identificar. O romance é todo escrito através de mensagens, sejam e-mails, SMS, cartas e bilhetes, o que em alguns momentos pode se tornar maçante, embora possa ser uma estratégia boa para os leitores que cansam fácil ao longo de leituras mais densas, possibilitando mais pausas.

A linguagem de Simples Acontece é bem simples. Há uma tentativa de tornar verossímeis os diálogos por meio de mensagens, como se os personagens fossem pessoas de carne e osso que estão passando por todas as situações descritas no livro. Outro ponto que pode indicar essa objetividade da escrita é a influência da formação acadêmica da autora: Jornalismo.

Para quem já assistiu ao filme, o livro segue a mesma pegada, porém traz mais personagens, mais conflitos e é consideravelmente mais extenso. Um livro / filme que lembra bastante Simplesmente Acontece é Um Dia (One Day), do escritor David Nicholls – já que ambos apresentam personagens que são melhores amigos e passam, à procura do amor, por uma série de encontros e desencontros.
Rosie e Alex se conhecem desde a infância, onde vivem em Dublin. Alex se muda para Boston e sua melhor amiga que também se mudaria acaba passando por uma transformação, colocando em risco seus planos profissionais, como uma gravidez inesperada. Com o distanciamento geográfico e as peripécias do destino, Rosie e Alex passam por uma série de oscilações em seu relacionamento.

“Ele é o cara mais sortudo do mundo por ter você, Rosie, mas não te merece e você merece algo muito melhor. Merece alguém que te ame com todo o coração, alguém que pense em você a todo momento, alguém que passe cada minuto do dia se perguntando o que você deve estar fazendo, onde você está, com quem está e se está bem. Precisa de alguém que te ajude a realizar os seus sonhos e que possa protegê-la dos próprios medos. Alguém que te trate com respeito, que ame cada parte de você, especialmente os seus defeitos. Você deveria estar com uma pessoa que possa te fazer feliz, muito feliz, andando nas nuvens de tanta felicidade”.

Os amigos e a família dos dois personagens compõem o quadro de personagens secundários, bem como as pessoas com quem eles se envolvem. Da ingênua e doce Rosie que acaba deixando muitas coisas de lado e se vê presa na Irlanda para o confuso e ambicioso Alex, o leitor confronta diversas situações, afinal, imagine quantos eventos podem acontecer durante mais de 40 aniversários?

Não tem como falar muito sobre o livro sem estragar nenhuma surpresa. Como acontece com grande parte das histórias românticas adaptadas, o recomendável seria ler antes, pois mesmo o roteiro tendo muitas alterações, a essência permanece a mesma. Neste caso, o filme acabou me ganhando mais do que o livro.

Levando em conta o gênero e a proposta da autora, creio que ela conseguiu conquistar seu objetivo ao longo da leitura, mas não é o tipo de livro que, pessoalmente, eu releria. O formato da narrativa, as descrições e demais estratégias utilizadas pela autora podem ser ótimas para facilitar sua tradução para diversos idiomas sem a perda de sentido, porém mesmo tentando fugir do lugar-comum, a história acaba caindo nos clichês românticos. Esperava um pouco mais de intertextualidade, estranhamento e aprofundamento, mas talvez eu não seja o leitor-ideal para a obra. Ainda assim, Simplesmente Acontece proporcionou alguns momentos de entretenimento e cabe a cada um escolher a leitura que mais lhe agrada. Para quem gosta de histórias leves sobre amor e amizade.

Sobre a autora – Cecelia Ahern é irlandesa e formou-se em Jornalismo e Meios de Comunicação antes mesmo de começar a escrever. Aos 21 anos escreveu seu primeiro romance, PS. Eu Te Amo, que se tornou best-seller imediatamente e foi adaptado para o cinema. Seus romances posteriores, O Livro da Amanhã, A Vez da Minha Vida e O Presente, também são best-sellers em todo o mundo. Os livros de Cecelia Ahern são publicados em 46 países e já venderam, ao todo, mais de 13 milhões de cópias. Ela vive em Dublin com sua família.

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