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Destaques

Sobre Reler Livros

Reler um livro era como tocar um tecido que você já usou várias vezes, como se fosse pela primeira vez. A textura parecia diferente; o cheiro não era o mesmo; Era impossível não imaginar na palavra que circulava pela mente: diferente.  E por que esperar pelo impossível igual? O leitor não era o mesmo. Um intervalo de tempo considerável havia se passado. O personagem que costumava ser o favorito talvez agora seja outro. O texto que escreveria a respeito do livro talvez jamais fosse igual. Era um diferente leitor, um diferente livro, uma diferente interpretação. Ler pelo mero prazer era diferente de ler pensando na resenha que escreveria em seguida. Escolher o livro de forma aleatória era diferente de já tê-lo em mente. Reler era diferente de ler, mas sobretudo, era uma nova forma de leitura: os detalhes que antes não chamavam a atenção, agora pareciam brilhar nas páginas. Não estava no mesmo lugar em que estava quando o leu pela primeira vez. Sua pele não era a mesma, tampouco seu céreb

Mary e Max: Adulto autista, solidão e amizade

Mary e Max (2009) é o título de uma animação de longa-metragem que conta a história de dois personagens que se correspondem por trocas de cartas. Mary é uma garotinha solitária que acaba se comunicando com Max. O que esperar dessa história entre uma menina da Austrália e um homem dos Estados Unidos? Mais do que você imagina.


A animação em stop motion foi escrita e dirigida pelo australiano Adam Elliot, com produção de Melanie Coombs. Em uma entrevista, Adam Elliot revelou que Max foi inspirado em um colega com quem ele trocava mensagens durante 20 anos que vive em Nova Iorque. “Como o Max, ele é ateu, judeu e tem Síndrome de Asperger. Há várias semelhanças, mas o filme não é baseado na vida dele. Eu disse que foi inspirado nele”, afirma Adam Elliot

Unidos pela solidão e pela curiosidade, Mary e Max apresenta uma história sobre como duas pessoas bem diferentes podem se conectar através das palavras e como mesmo com a distância, essa sensação de proximidade pode ser diminuída quando encontramos alguém disposto a nos entender.

“Ele sentia o amor, mas não conseguia articulá-lo” – Mary e Max

É interessante observar que, embora pessoas com Síndrome de Asperger (autistas) tenham dificuldade com a comunicação ao vivo, muitas dessas limitações são reduzidas em outras formas de interação, como é mostrado na animação: troca de cartas, mas se trazermos para o nosso contexto, a internet facilitou e muito a vida de aspies, possibilitando que eles conhecessem outras pessoas no universo virtual sem que precisassem sair de casa.

O que começa como uma troca de curiosidades culturais acaba se transformando em uma amizade. A história mostra o desenrolar de cada um deles e de que forma os acontecimentos influenciam suas cartas. Enquanto Mary está tentando juntar dinheiro, Max descobre que mesmo na fase adulta, ainda há tanto que ele não sabe sobre si mesmo.

“As pessoas geralmente pensam que eu sou indelicado e grosseiro. Não consigo entender como ser honesto pode ser considerado impróprio. Talvez seja por isso que não tenho amigos” – Mary e Max

Uma história sobre diagnóstico tardio de Síndrome de Asperger na fase adulta e de como o autismo influencia não só os próprios comportamentos de Max, mas também a maneira que ele é percebido pelos outros. Entre aproximações e distanciamentos, Mary e Max passam por diversas situações transformadoras.

“A razão pela qual eu te perdoo é porque você não é perfeita. Você é imperfeita. E eu também sou. Todos os humanos são imperfeitos” – Mary e Max

A animação é muito mais dramática que eu esperava e tem um toque melancólico. Torcemos para que os personagens se realizem, se desenvolvam e possam ser felizes, porém a dose de realismo da produção nos leva uma jornada inesperada. Angustiante e imprevisível como a existência, mesmo tentando adivinhar quais serão os destinos de Mary e Max, somos arrebatados pelo final.

Mary e Max nos faz refletir sobre a importância das amizades, mesmo quando temos dificuldades de encontrar pessoas por perto e mesmo quando as circunstâncias de vida não são as mais favoráveis. Embora Mary não seja autista, ela carrega marcas da infância que afetam completamente sua autoestima e sua estabilidade emocional; já Max luta com os desafios do dia a dia e com a dificuldade de ser entendido pelos outros, especialmente quando se mora em uma cidade grande, barulhenta e repleta de estímulos sensoriais e situações que podem causar crises autísticas.

Um filme sobre autoaceitação e amor próprio que nos mostra os desafios de uma amizade à distância e de como por mais finas que sejam as linhas que ligam as pessoas, elas podem fazer a diferença. Uma narrativa repleta de humor, ironia e tristeza, que embora a intenção não seja educar, acaba levando conscientização sobre o Síndrome de Asperger (autismo) e nos faz pensar em como nossa identidade e encontrar nosso lugar no mundo importam.

Assista ao trailer da animação Mary e Max:



*Ben Oliveira é escritor, blogueiro e jornalista por formação. É autor do livro de terror Escrita Maldita, publicado na Amazon e dos livros de fantasia jovem Os Bruxos de São Cipriano: O Círculo (Vol.1) e O Livro (Vol. 2), disponíveis no Wattpad e na loja Kindle.

Comentários

  1. Quero ver esse longa por inteiro..eu tenho conhecimento de causa...a sociedade precisa aprender e compreender as pessoas que tem essa síndrome...sofrem demais se não encontram apoio!!

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    Respostas
    1. Olá, anônimo!
      Obrigado pelo comentário. É uma animação bem bonita e triste!

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  2. Obrigada pela maravilhosa dica de Mary & Max

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