Pular para o conteúdo principal

Destaques

Sem talvez

Não havia talvez quando se tratava de pôr a própria saúde mental em primeiro lugar, especialmente quando o outro a estava negligenciando. Não havia talvez para continuar sustentando um relacionamento que não ia para frente, no qual o outro se negava a se responsabilizar e se colocava constantemente no papel de vítima. Não havia talvez quando você havia se transformado em uma espécie de terapeuta que tinha que ficar ouvindo reclamações e problemas constantes, se sentindo completamente drenado após cada interação. Já não havia espaço para o talvez. Talvez as coisas seriam diferentes se o outro tivesse o mesmo cuidado com a saúde mental que você tem. Talvez a fase ruim iria passar um dia. Talvez a pessoa ia parar de se pôr como vítima e começar a se responsabilizar. Eram muitos talvez que não tinha mais paciência para esperar. Então, não, já havia aguentado mais do que o suficiente. Não era responsável por lidar com os problemas do outro. Não era responsável por tentar levar leveza diante...

A Caixa

Dentro de cada um de nós há uma caixa repleta de coisas que não dizemos e gostaríamos de ter dito. Essa caixa pode estar organizada por nomes, datas e acontecimentos ou completamente bagunçada sem critérios, gerida pelo caos. 

Há quem consiga manter essa caixa tão escondida de si mesmo, que é como se ela deixasse de existir. Mas há também quem mantenha sempre consciente de que a caixa não para de expandir a cada vez que se engole palavras e sentimentos.

A caixa pode ser pesada ou leve, tudo depende de como se passou a vida. De tanto engolir as coisas pode-se ficar com indigestão. O peso das palavras não ditas é esmagador e por vezes parece intolerável, como se o simples ato de se dar conta dele, fosse capaz de provocar uma terrível ressaca moral.

Mas não são só as coisas não ditas que se acumulam na caixa. A caixa também traz aquelas coisas que dizemos e gostaríamos de não ter dito. Todas emoções mal digeridas vão criando ondas arrebatadoras que uma vez aberta a caixa é praticamente impossível de fechar.

A pergunta que fica é como você está cuidando da caixa: está deixando ela crescer de forma monstruosa ou está reorganizando as notas e tentando tirar algumas lições para a vida? Sem a caixa, ficamos mais leves, mas também podemos nos esquecer de coisas que foram importantes um dia. Cabe a cada um ter mais cuidado com as coisas ditas e não ditas, com as expectativas que criamos e situações que projetamos. 

*Ben Oliveira é escritor, formado em jornalismo. Autor do livro de terror Escrita Maldita, publicado na Amazon e dos livros de fantasia jovem Os Bruxos de São Cipriano: O Círculo (Vol.1) e O Livro (Vol. 2), disponíveis no Wattpad e na loja Kindle.

Comentários

Mais lidas da semana