Pular para o conteúdo principal

Destaques

Às vezes...

Tudo o que nunca fomos. Tudo o que nunca seríamos. Tudo o que não éramos. Havia um espaço dentro de mim que não poderia ser preenchido por todas palavras que representávamos um para o outro. Ia, então, se soltando lentamente, de quem havia se soltado de forma brusca. Ia dando tempo ao tempo e espaço para as coisas voltarem ao eixo. Escrevia para lembrar, escrevia para esquecer. Esquecer o quê? Nunca tinham passado de dois personagens cujas histórias jamais se cruzariam. Sequer poderiam ser definidos como colegas ou amigos, tampouco eram amores. Eram quase alguma coisa e nesse mundo de indefinições, às vezes era melhor não saber. Perdeu a conta de quantos dias o outro havia ficado sem responder. Perdeu a conta de quanto tempo havia se passado. De quando limites foram cruzados e quando promessas foram quebradas. Escrevia para dizer que a dor também fazia parte do processo de se sentir vivo. Escrevia para nomear as emoções e encontrar clareza em um universo de indefinições. Escrevia para ...

Nossa Versão Editada

Na nossa versão editada tudo era diferente. Em vez de partir, os dois ficavam mais próximos, conscientes de que mesmo diante do amor, teriam suas diferenças. Mesmo sabendo que quando o outro estava pedindo para ir, na verdade, estava pedindo para ficar e nos momentos difíceis estariam um para o outro como um lembrete de que não estavam sozinhos.

É incrível como a mente tem a capacidade de editar nossas memórias. Esquecemos a parte triste, tentamos nos agarrar na parte feliz. Todas as pequenas brigas parecem sem sentido. Tudo o que a mente quer é reviver aquele momento que sabe que nunca será igual com outra pessoa.

E de tanto mentir para si mesmo e engolir as emoções, certo dia elas vêm à tona, como um furacão.  Então, como alguém num barco afundando que se enche de água, você pega o balde e vai tentando esvaziar a mente pouco a pouco, até que as memórias voltem a descansar, mas consciente de que elas vão voltar novamente.

Os dias, as semanas, os meses, os anos passam, mas algumas coisas nunca mudam. Tudo perto, tudo longe. Tudo certo, tudo errado. Tudo igual, tudo diferente. Tudo intenso demais, tudo indiferente demais. O coração continuava pulsando, mesmo nos dias mais sombrios em que achava que não daria conta.

Então, eram as memórias que mais amava que eram sua salvação, mas também sua condenação. Um simples nome era capaz de fazer o corpo inteiro tremer e a mente ser inundada por tantas memórias, que seja por felicidade ou frustração, o faziam entrar em colapso. Era o tipo de emoção que o queimava, mas queria mais e mais, até deixar o fogo consumi-lo por completo e inundá-lo com novas memórias editadas, desta vez, juntos em um multiverso de personagens, onde não importava quem eles fossem, sempre estariam juntos.

*Ben Oliveira é escritor, formado em jornalismo. Autor do livro de terror Escrita Maldita, publicado na Amazon e dos livros de fantasia jovem Os Bruxos de São Cipriano: O Círculo (Vol.1) e O Livro (Vol. 2), disponíveis no Wattpad e na loja Kindle.

Mais lidas da semana