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Destaques

Ressignificar dia após dia

A linha era tênue entre a verdade e a autoficção, mas a literatura era um espaço para criar e não tinha compromisso com a realidade. Como tinta invisível, personagens às vezes se misturam e podem confundir. Um personagem pode ser vários e a graça não está em descobrir quem é quem, mas de aproveitar a leitura. Escrever em blog poderia não ser a mesma coisa do que escrever um livro de ficção ou de memórias, mas a verdade era que acabava servindo para as duas coisas. Às vezes o passado estava no passado. Às vezes o presente apontava para o futuro. Mas nunca dá para saber sobre quem se está escrevendo e há beleza nisso. A beleza de que personagens não eram pessoas, de que não precisava contar a verdade sempre, que às vezes quatro personagens poderiam se tornar um. Saber quem é quem parecia o menos importante, mas apreciar a beleza das entrelinhas. Ia escrevendo como uma forma de esvaziar a mente e o coração, sentindo o corpo mais leve. Escrevia e continuaria escrevendo sempre que sentisse ...

A falta que o yoga faz

Inspirava e exalava se lembrando do tapete de yoga. Nos dias de recesso, se lembrara da promessa não cumprida que voltaria a praticar diariamente. Havia falhado, mas ainda restava tempo suficiente para retomar a prática. Eram em momentos como aquele em que mais precisava do yoga em sua vida, buscar flexibilidade e desapego, criar espaço para o novo e deixar ciclos para trás.

Ia se alongando lentamente, sentindo cada parte do corpo e deixando a mente se soltar. Quanto mais conseguia relaxar o corpo, a mente acompanhava o movimento em uma forma de união. Os desconfortos davam lugar ao prazer de estar conectado com o momento presente, no aqui e agora. O que havia acontecido antes temporariamente ganhava um lugar de desimportância e começava a enxergar as coisas com mais clareza.

No tapete de yoga, nada importava e tudo importava, criando um movimento como ondas do mar e se deixando arrastar, às vezes, lentamente, outras vezes, de forma mais rápida. Uma dose de paz era tudo o que precisava: yoga não era terapia, mas era terapêutico e cada segundo em cima do tapete fazia toda diferença.

Poucos espaços eram tão sagrados e seguros como numa sala de yoga. Havia uma certa sensação de conforto, de ser acolhido do jeito que era e, ora em momentos de paciência, ora em momentos com mais energia, desafiado a explorar os limites do corpo e da mente. Do início ao final da prática, a pessoa vai se transformando, de forma que ao final da aula, você está diferente.

A magia acontecia em questão de segundos, minutos. Mesmo quando a aula era puxada, ao final, ficava com aquela sensação de ter recarregado as energias, pronto para seguir mais um dia, mais uma semana. 

Desenrolou o tapete de yoga, se deitou e se permitiu sentir o que quer que estivesse sentindo, deixando os pensamentos livres e se entregando ao momento presenta, se soltando lentamente dos fios que estavam o prendendo ao passado e das expectativas que tinha para o futuro. Seguro no aqui e agora, tudo era possível, tudo era impossível, tudo seria como antes, nada seria igual como era antes.

*Ben Oliveira é escritor, formado em jornalismo. Autor do livro de terror Escrita Maldita, publicado na Amazon e dos livros de fantasia jovem Os Bruxos de São Cipriano: O Círculo (Vol.1) e O Livro (Vol. 2), disponíveis no Wattpad e na loja Kindle.

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