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Destaques

Fora de Sincronia

Conectados, mas fora de sincronia. Era como os dois estavam. Não sabia como resolver a situação, antes que se tornassem dois completos estranhos. No meio de tantos ciclos terminando, tinha acreditado que um novo ciclo se manteria.  As horas que passavam conversando se transformaram em minutos, e então, em segundos. Já sabia que isso ia acontecer e tentara antecipar o fim várias vezes, então por que estava tão incomodado? Sentia saudades e não sabia como verbalizar? Não importava. Foi deixando o outro cada vez mais livre, até que as mãos que um dia tinham se tocado se voltaram para os dedos que haviam deslizado pela última vez. Parte de seguir em frente era também como deixar as coisas irem, seguirem seu ciclo natural. Não adiantava criar qualquer forma artificial de manter o contato vivo, só precisava aceitar as coisas como elas eram. Cansado de aceitar que tudo tinha sua finitude, foi cada vez menos se abrindo a novos inícios – se todos estavam fadados ao fim, por que se dar ao tr...

A falta que o yoga faz

Inspirava e exalava se lembrando do tapete de yoga. Nos dias de recesso, se lembrara da promessa não cumprida que voltaria a praticar diariamente. Havia falhado, mas ainda restava tempo suficiente para retomar a prática. Eram em momentos como aquele em que mais precisava do yoga em sua vida, buscar flexibilidade e desapego, criar espaço para o novo e deixar ciclos para trás.

Ia se alongando lentamente, sentindo cada parte do corpo e deixando a mente se soltar. Quanto mais conseguia relaxar o corpo, a mente acompanhava o movimento em uma forma de união. Os desconfortos davam lugar ao prazer de estar conectado com o momento presente, no aqui e agora. O que havia acontecido antes temporariamente ganhava um lugar de desimportância e começava a enxergar as coisas com mais clareza.

No tapete de yoga, nada importava e tudo importava, criando um movimento como ondas do mar e se deixando arrastar, às vezes, lentamente, outras vezes, de forma mais rápida. Uma dose de paz era tudo o que precisava: yoga não era terapia, mas era terapêutico e cada segundo em cima do tapete fazia toda diferença.

Poucos espaços eram tão sagrados e seguros como numa sala de yoga. Havia uma certa sensação de conforto, de ser acolhido do jeito que era e, ora em momentos de paciência, ora em momentos com mais energia, desafiado a explorar os limites do corpo e da mente. Do início ao final da prática, a pessoa vai se transformando, de forma que ao final da aula, você está diferente.

A magia acontecia em questão de segundos, minutos. Mesmo quando a aula era puxada, ao final, ficava com aquela sensação de ter recarregado as energias, pronto para seguir mais um dia, mais uma semana. 

Desenrolou o tapete de yoga, se deitou e se permitiu sentir o que quer que estivesse sentindo, deixando os pensamentos livres e se entregando ao momento presenta, se soltando lentamente dos fios que estavam o prendendo ao passado e das expectativas que tinha para o futuro. Seguro no aqui e agora, tudo era possível, tudo era impossível, tudo seria como antes, nada seria igual como era antes.

*Ben Oliveira é escritor, formado em jornalismo. Autor do livro de terror Escrita Maldita, publicado na Amazon e dos livros de fantasia jovem Os Bruxos de São Cipriano: O Círculo (Vol.1) e O Livro (Vol. 2), disponíveis no Wattpad e na loja Kindle.

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