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Destaques

Ressignificar dia após dia

A linha era tênue entre a verdade e a autoficção, mas a literatura era um espaço para criar e não tinha compromisso com a realidade. Como tinta invisível, personagens às vezes se misturam e podem confundir. Um personagem pode ser vários e a graça não está em descobrir quem é quem, mas de aproveitar a leitura. Escrever em blog poderia não ser a mesma coisa do que escrever um livro de ficção ou de memórias, mas a verdade era que acabava servindo para as duas coisas. Às vezes o passado estava no passado. Às vezes o presente apontava para o futuro. Mas nunca dá para saber sobre quem se está escrevendo e há beleza nisso. A beleza de que personagens não eram pessoas, de que não precisava contar a verdade sempre, que às vezes quatro personagens poderiam se tornar um. Saber quem é quem parecia o menos importante, mas apreciar a beleza das entrelinhas. Ia escrevendo como uma forma de esvaziar a mente e o coração, sentindo o corpo mais leve. Escrevia e continuaria escrevendo sempre que sentisse ...

Apple Cider Vinegar: Série sobre golpista influenciadora e câncer

Até onde você estaria disposto a ir pela fama? Apple Cider Vinegar é uma série da Netflix baseada em acontecimentos reais sobre uma mulher que fingia várias coisas, entre elas, a de que tinha um câncer no cérebro e acaba construindo negócios com base na sua mentira, tentando despertar a empatia dos outros e se colocar no papel de alguém que superou uma doença fatal.

Apesar de não ser um documentário ou série documental, a série que deixa bem claro nos episódios que nomes foram alterados, eventos e personagens foram criados, e não se foca somente na protagonista mentirosa, servindo como um alerta sobre fake news e os riscos dos tratamentos e informações sem comprovação cientifica para pacientes com câncer de uma forma geral.

É uma dessas séries em que a atuação é tão boa que dá para sentir raiva das ações da protagonista. Além disso os alertas de que eventos foram alterados, acabam servindo como um mecanismo de proteção contra processo judicial, visto que já aconteceu algo similar com a série Baby Reindeer (Bebê Rena), em que a série foi ficcionalizada, mas as semelhanças com a mulher que serviu de inspiração para uma personagem acabaram fazendo com que ela decidisse processar a Netflix.

É preciso ter estômago para assistir Apple Cider Vinegar, não só pela protagonista, mas por este universo de tratamentos alternativos sem comprovação científica e ver os personagens colocando a própria saúde em risco, ignorando os avanços da ciência. Chega a ser bem triste assistir sabendo que isto acontece pelo mundo todo.

A série faz refletir sobre como os influenciadores do bem-estar, muitas vezes, acabam ocupando um espaço distante das evidências científicas, popularizando tratamentos sem comprovação e, ao mesmo tempo em que critica os ganhos com medicamentos, se torna um negócio lucrativo.

O roteiro da série é inspirado em um livro chamado The Woman Who Fooled The World, escrito pelos jornalistas Beau Donelly e Nick Toscano. Apesar de mostrar a personalidade um tanto duvidosa e manipulativa de Belle Gibson, uma mulher que fingia seus sintomas e doenças, a série acaba focando nos riscos para a saúde em geral e de como as pessoas acabam acreditando no que está na moda e em quem tem influência, muitas vezes ignorando os conselhos de médicos e abandonando tratamentos convencionais. 

Além das boas atuações, roteiro e como foi produzida, uma coisa que chama a atenção na série é sua trilha sonora. Embora ainda não passamos do primeiro semestre de 2025, dá para dizer que Apple Cider Vinegar tem o potencial de se tornar entre as séries favoritas do ano pelos telespectadores da Netflix. Uma dessas histórias difíceis de esquecer depois que você assiste e lembra que foi baseada em um caso real.

*Ben Oliveira é escritor, formado em jornalismo. Autor do livro de terror Escrita Maldita, publicado na Amazon e dos livros de fantasia jovem Os Bruxos de São Cipriano: O Círculo (Vol.1) e O Livro (Vol. 2), disponíveis no Wattpad e na loja Kindle.

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