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Destaques

Sem talvez

Não havia talvez quando se tratava de pôr a própria saúde mental em primeiro lugar, especialmente quando o outro a estava negligenciando. Não havia talvez para continuar sustentando um relacionamento que não ia para frente, no qual o outro se negava a se responsabilizar e se colocava constantemente no papel de vítima. Não havia talvez quando você havia se transformado em uma espécie de terapeuta que tinha que ficar ouvindo reclamações e problemas constantes, se sentindo completamente drenado após cada interação. Já não havia espaço para o talvez. Talvez as coisas seriam diferentes se o outro tivesse o mesmo cuidado com a saúde mental que você tem. Talvez a fase ruim iria passar um dia. Talvez a pessoa ia parar de se pôr como vítima e começar a se responsabilizar. Eram muitos talvez que não tinha mais paciência para esperar. Então, não, já havia aguentado mais do que o suficiente. Não era responsável por lidar com os problemas do outro. Não era responsável por tentar levar leveza diante...

Ponto final

Não sentia falta das brincadeiras sem graça. Tampouco de como pelo simples fato de gostar, deixava todas bandeiras vermelhas passarem. O que precisava naquele momento era de um ponto final, uma chance de se reajustar e encontrar uma maneira mais saudável de se relacionar.

A saudade deu lugar à indiferença. A paciência foi arrastada pela irritação. Era exaustivo pedir para parar e nunca ser levado a sério. Chegou ao limite de exaustão e a única coisa que conseguia pensar era em distância.

Foi, então, entendendo por qual motivo outros também já haviam se distanciado. Era como se não houvesse mais motivo para ser. Os relógios haviam congelado e jamais bateriam de novo ao mesmo tempo.

Se deixou levar pelos dias. Um dia logo se tornava dois ou três, e quando menos se dera conta já não conversavam mais diariamente. Se havia alguma parte dele que sentia saudade, agora ela estava enterrada e gostava do novo jeito que as coisas estavam: sem precisar agradar, sem precisar ser agradado.

Não fazia sentido em tentar se comunicar com alguém que vivia em um mundo tão diferente, como se falassem idiomas distintos. Não, foi só deixando a natureza se encarregar das coisas, consciente de que havia tentado tantas vezes, mas era simplesmente ignorado. 

As bandeiras vermelhas do outro deram lugar à bandeira branca. Queria paz, tranquilidade e o que antes parecia um espaço seguro, havia se tornado tão desconfortável que as coisas não se encaixavam mais. Era só mais um fim, acompanhado de um recomeço.

*Ben Oliveira é escritor, formado em jornalismo. Autor do livro de terror Escrita Maldita, publicado na Amazon e dos livros de fantasia jovem Os Bruxos de São Cipriano: O Círculo (Vol.1) e O Livro (Vol. 2), disponíveis no Wattpad e na loja Kindle.

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