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Destaques

Sem talvez

Não havia talvez quando se tratava de pôr a própria saúde mental em primeiro lugar, especialmente quando o outro a estava negligenciando. Não havia talvez para continuar sustentando um relacionamento que não ia para frente, no qual o outro se negava a se responsabilizar e se colocava constantemente no papel de vítima. Não havia talvez quando você havia se transformado em uma espécie de terapeuta que tinha que ficar ouvindo reclamações e problemas constantes, se sentindo completamente drenado após cada interação. Já não havia espaço para o talvez. Talvez as coisas seriam diferentes se o outro tivesse o mesmo cuidado com a saúde mental que você tem. Talvez a fase ruim iria passar um dia. Talvez a pessoa ia parar de se pôr como vítima e começar a se responsabilizar. Eram muitos talvez que não tinha mais paciência para esperar. Então, não, já havia aguentado mais do que o suficiente. Não era responsável por lidar com os problemas do outro. Não era responsável por tentar levar leveza diante...

Sentir as emoções e deixar ir

Sentir as emoções e deixar ir nem sempre é uma tarefa fácil. Muitas vezes, é importante reconhecer o gatilho para então processar as emoções. A tentação de tentar ignorar a emoção é algo forte, mas tudo aquilo que não lidamos, volta a se repetir de alguma forma, seja como um sintoma ou não. Às vezes, você precisa segurar as mãos da emoção e lentamente ir soltando cada um dos dedos, até que esteja livre dela.

Não é preciso ser um psicólogo, psiquiatra ou neurocientista para entender a importância de escolher boas companhias. Se você tem algum ou vários transtornos mentais, segue todas orientações, faz atividade física, cuida do sono, enfim, segue orientações oficiais e não oficiais de como levar os seus dias, mas de repente se dá conta que um amigo não faz o mesmo e ainda te usa como uma lixeira emocional, sempre reclamando e contando os problemas, muitas vezes você precisa rever a relação.

Até que ponto vale a pena manter alguém que está sempre reclamando por perto? Consigo estabelecer limites de forma que a pessoa entenda que também tenho meus próprios problemas para lidar? Sou capaz de dizer não, ainda que isso vá desagradar? Há uma série de coisas que você pode tentar fazer antes de chegar ao limite da exaustão emocional.

No entanto, quando esse limite da exaustão emocional é cruzado e você percebe que nem mesmo são causados por seus próprios problemas, mas pela constante carência, necessidade de desabafar e falta de limites do outro, muitas vezes, se for algo recorrente, tudo o que resta é dizer adeus, consciente de que você fez o possível e o impossível para ajudar e ainda assim não era suficiente.

Sentir frustração, culpa, raiva, tristeza, enfim, uma mistura de emoções é algo completamente comum no fim de um relacionamento. Muitas vezes, há uma culpa de ter deixado as coisas chegarem a este ponto, quando muitas vezes você poderia ter respondido que não estava disposto a responder. Mas se você chegou ao limite, é bem provável que para preservar a sua paz, tudo o que você deseja é distância.

“Não posso te ajudar. Acredito que uma profissional de saúde mental poderia te ajudar”. Mesmo você repetindo tantas vezes, o outro continua te usando como uma espécie de terapeuta, só que mesmo profissionais de saúde mental tem um tempo estabelecido para atender: você acorda, passa a tarde e chega a hora de dormir com mensagens do outro.

Independente de empatia e compaixão, especialmente quando você sabe como é estar no lugar do outro, muitas vezes, a melhor forma de ajudar e se ajudar é deixando ir. Se você se sente constantemente pesado por causa do outro, piorando seus sintomas e, por fim, completamente drenado, você percebe que independente de tantas atividades diárias para cuidar da própria saúde mental, não vale a pena manter o outro por perto.

É triste quando uma amizade chega ao fim, mas há momentos em que temos que pesar os benefícios e o lado negativo. Quando há, literalmente, mais negatividade e você se vê sempre como o ouvinte do outro que está tão cego pelos próprios problemas, que se esquece de que você tem suas próprias demandas, você sabe que por mais difícil que seja, além de não estar conseguindo ajudar o outro, ele tem te colacado para baixo e você precisa saber como vai lidar com isso.

Somos pessoas de fases e talvez o que antes vocês tinham em comum, se torna algo bem distante. Você sabe que não é egoísmo se colocar em primeiro lugar. Você teve empatia suficiente para escutar tantos problemas e também teve cuidado com o que falar ou deixar de falar. Há momentos em que você precisa apenas sentir as emoções, sejam as mais fáceis, sejam as mais difíceis, e deixar o outro para trás. 

Afinal, um relacionamento assimétrico além de pesar, pode se tornar tóxico e uma dinâmica na qual, você está sempre lidando com os problemas do outro, você vai se apagando e quando se dá conta, acaba se deixando de lado e invisibilizado pelo outro.

*Ben Oliveira é escritor, formado em jornalismo. Autor do livro de terror Escrita Maldita, publicado na Amazon e dos livros de fantasia jovem Os Bruxos de São Cipriano: O Círculo (Vol.1) e O Livro (Vol. 2), disponíveis no Wattpad e na loja Kindle.

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