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Professor e ex-aluno da Casa de Ensaio, Eduardo Ribeiro
conta como a organização mudou sua vida e a de
muitos jovens.
Foto: Ben Oliveira |
Imagine a cena: dez adolescentes em uma ciranda de roda cantando, enquanto um dos jovens está dentro da roda com os olhos vendados. Incapaz de enxergar, o adolescente tem que tocar em algum dos jovens e descobrir quem é. Você poderia pensar que voltou no tempo ao observar este momento, já que atualmente é muito difícil enxergar as crianças e adolescentes brincando desta forma, mas a imagem relatada realmente aconteceu nos dias de hoje.
A Casa de Ensaio é uma organização fundada por Lais Doria e Artur Monteiro de Barros, em 1996, com um projeto social de proporcionar uma transformação social e cultural às crianças e adolescentes, por meio da transmissão de valores e ao despertar em cada um dos indivíduos os seus talentos e sonhos. Com apenas um ano e meio de participação no projeto, para a estudante Luana Carolina, de 17 anos, a experiência está sendo maravilhosa. “Nós aprendemos a ser cidadãos aqui. Nós aprendemos valores, temos diversas aulas e diálogos sobre princípios. É para formar jovens que vão mudar o mundo”, relata.
O ex-aluno e atual professor da Casa de Ensaio, Eduardo Ribeiro, de 21 anos de idade, entrou em 2002 e está há 9 anos dentro da instituição. Aos 11 anos, o jovem entrou como aluno para fazer o curso, “Nessa rua tem talento”, em uma época em que as aulas aconteciam somente aos finais de semana. “Eu aprendi aqui a me relacionar com as pessoas. Eu comecei a aprender a conviver com todos os tipos de pessoas possíveis. Autonomia também foi uma coisa que veio para a minha vida. Comecei a ter acesso a mais bens culturais”, narra.
O projeto criado por Lais Doria era voltado aos meninos de rua e oferecia aulas de teatro, dança e música. Em 2006, a Casa de Ensaio começou a funcionar durante a semana. “Nós não tínhamos sede. O projeto emprestava uma sala durante os finais de semana. Tudo o que a gente tem é doado”, conta o jovem. Neste mesmo ano, Eduardo Ribeiro, o professor que começou como aluno e está há mais tempo participando da Casa de Ensaio, passou por um processo chamado de aluno-monitor, um treinamento recebido para trabalhar como professor do lugar. “Eu fiquei um ano sendo preparado. Eu parei de fazer as aulas, para assisti-las”, lembra.
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Jovens da Casa de Ensaio se preparando para as brincadeiras de infância
Foto: Ben Oliveira |
Após virar curso, foram montadas várias salas dentro da Casa. Além das aulas de teatro, dança e música, foram acrescentadas literatura, artes visuais, cinema e também webarte. “O que eu acho mais legal do curso, que é como se fosse na escola ou faculdade, cada ano eles aprendem uma coisa”, narra Eduardo Ribeiro. O professor explica que no primeiro ano é trabalho bastante a cultura da infância, por exemplo, com jogos tradicionais, que hoje em dia, as crianças quase não brincam mais; Na literatura, os jovens lêem os contos infantis; Na música, aprendem as cantigas de roda; Na dança, os primeiros movimentos. Já no segundo ano, são aprendidos os jogos teatrais, as músicas de raíz, diversos estilos de dança, na literatura as poesias e clássicos tomam o lugar dos livros infantis.
“O objetivo maior da brincadeira infantil na Casa é que eles brinquem, divirtam-se com o coletivo sem criticas, sem julgamento e tenham acesso a uma brincadeira de infância que eles não conheciam. Nós mantemos a criança viva dentro de todo mundo o tempo inteiro, até para eles ficarem mais soltos no palco”, conta Eduardo Ribeiro. Ele ministra aulas de cultura da infância, que é a área que mais gosta, além de coordenar o teatro e os eventos, seja levando os alunos para assistir espetáculos, trazer artistas e palestrantes para se apresentarem ou ajudando com a seleção de elenco e cenas.
Com tanto incentivo a cultura e apresentação de espetáculos, pode-se imaginar erroneamente que a função da Casa de Ensaio é a de formar artistas. “A idéia da Casa não é formar atores e bailarinos. Nós não temos esse foco. Nós plantamos a sementinha para eles buscarem o sonho deles, mas eles não saem daqui formados”, conta Ribeiro. A Casa de Ensaio também tem outros programas, como a Trupe da Casa, um grupo profissional formado por ex-alunos, que estudam e montam os espetáculos; O programa Abre a Roda, em que a idéia é sempre trazer pessoas para ministrar oficinas ou apresentar espetáculos; Uma biblioteca que é ponto de leitura e tem um trabalho legal de incentivo à leitura; O programa Iluminando, com oficinas que são oferecidas a professores e outras pessoas, que não são só alunos da Casa; O Cine Casa, um cine clube que acontece uma vez por semana, onde os alunos têm acesso a conhecimentos, por meio de filmes mais culturais e legendados e aprendem a se expressar melhor sobre o enredo, o cenário e figurino.
Com duração de no mínimo cinco anos, os alunos entram na Casa de Ensaio e são divididos em turmas com idades parecidas e de acordo com o nível no projeto. “Nós usamos o curso, o teatro, as oficinas artísticas, para que os alunos aprendam a viver em grupo. Nós temos um cuidado aqui dentro da Casa, em que eles aprendem muitos valores. Muitos alunos chegam muito violentos. É uma coisa que acontece de mais. Nós percebemos que as escolas estão muito violentas, então usamos a arte para sensibilizar essas crianças”, relata Eduardo.
Atualmente a Casa de Ensaio tem 100 alunos em média, com uma faixa etária de 10 a 17 anos. As inscrições são abertas anualmente e são abertas no máximo 130 vagas, com foco nos alunos de 10 a 13 anos, pois a idéia é de que os adolescentes passem essa fase turbulenta e trabalhem através das oficinas artísticas estas transformações. “Nós não formamos cidadãos, porque todos nascem cidadãos, o nosso maior foco é que eles sejam pessoas melhores e comecem a ajudar a ter um mundo melhor, com menos violência e mais generosidade”, justifica Eduardo Ribeiro.
Nathalia Valdez, de 16 anos, está há 6 na Casa de Ensaio e contou que é muito bom fazer parte do projeto, pois faz muitos amigos e aprende várias oficinas legais, inclusive a de canto, que é a sua favorita. “Quando eu entrei era meio tímida, eu me enturmo fácil agora. Eu mudei o meu jeito de ser. Aqui nós aprendemos sobre coisas que não aprendemos na escola, fazemos amigos que vamos levar para a vida inteira e acrescentamos muito na nossa vida”, admite. "Tudo o que eu sou hoje, eu devo à Casa de Ensaio, a todas as pessoas que eu conheci aqui dentro e principalmente a Laís, que é minha grande mestre e me ensinou tudo", declara Eduardo Ribeiro.
Ben querido! Mais uma vez parabéns pelo texto, você soube falar claramente sobre a essência do trabalho desenvolvido pela Casa. Obrigado mais uma vez, sucesso!!
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