Texto: Ben Oliveira
Qual é a relação entre a
psicanálise e a
criação literária? Muitas pessoas tem curiosidade sobre a produção literária, tanto para descobrirem mais sobre seus escritores favoritos, quanto para encontrarem alguma fórmula de escrita.
Psicanalista e escritora,
Ana Cecília Carvalho publicou em 1994, na revista
Psicologia: Ciência e profissão, o artigo
"O processo de criação na produção literária: um depoimento", no qual a autora aborda um pouco deste tema tão complexo e que desperta o interesse nos leitores.
Ana Cecília Carvalho explica a criação literária vista através da psicologia, sendo a primeira a arte que possibilita a invenção e reinvenção do mundo, fantasiando e inventando pessoas, situações e realidades.
Segundo a autora do artigo, o escritor criativo tem a capacidade de "recriar a partir do caos, dando forma ao que não tem forma".
Ao escrever, a psicanalista acredita que o escritor precisa lidar com a sensação do vazio, do desprendimento, de luto, e por isto, muitos deles buscam o distanciamento físico e geográfico, uma forma de entrarem em contato consigo mesmo. Carvalho justifica que a escrita tem o poder de restauração, algo perdido é transformado por meio das palavras e ganha um significado.
Portanto, segundo o artigo, a produção literária consegue dar sentido para coisas sem sentido, resultante do distanciamento interno do escritor – uma maneira de se buscar os silêncio, explorar questões profundas da alma e proporcionar alívio das tensões de quem está lendo.
Quando se está escrevendo é preciso romper consigo mesmo. Porém, ao mesmo tempo em que a produção literária representa o rompimento, Ana Cecília Carvalho afirma que ela tem o poder de reparação, no momento em que ela está pronta e é entregue ao mundo. A psicanalista compara o texto pronto aos filhos, comentando que um dia ele vai embora.
A autora ainda fala sobre a capacidade do escritor se desnudar e se disfarçar no texto literário, produzindo inúmeras possibilidades. "Ao falar de todos, o escritor criativo fala de um, e ao falar de um, todos os outros se reconhecerão", ressalta Ana Cecília Carvalho.
Além de aliviar tensões, o texto literário também tem seu caráter agressivo. Ana Cecília Carvalho dá como exemplo o conto, gênero literário no qual o leitor é pego de surpresa e leve uma espécie de "soco no estômago" no final do texto.
Mais do que repetir, o escritor transforma, e ao mesmo tempo em que aproxima, ele limita. "Escrever é tornar possível a impossibilidade", justifica.
Confira o artigo na íntegra: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S1414-98931994000100002&script=sci_arttext
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