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Destaques

Redescobrindo o prazer de correr

Após um tempo pensando na possibilidade, firme na sua caminhada diária, decidiu que estava na hora de voltar a correr. Não corria há anos e a iniciativa o enchia de prazer. Precisava retomar hábitos saudáveis para conseguir abandonar aqueles que já não serviam mais e não eram saudáveis. Foi, então, lentamente voltando a correr, respeitando o ritmo do próprio corpo e percebendo uma melhora quase que instantânea em sua saúde mental. A sensação poderia durar pouco tempo, mas, sem dúvidas, fazia toda diferença. Tentou se lembrar da última vez em que havia corrido e uma memória de anos saltou na mente. Sabia quando havia começado seus hábitos ruins, tudo tinha começado em uma crise, mas já havia passado tempo suficiente para se dar conta de que não precisava mais deles. Voltar a correr era como convidar o corpo e a mente para uma meditação em movimento, lembrava um pouco da sensação prazerosa que sentia no yoga. Agora, se sentia um pouco mais seguro para continuar construindo hábitos saudáv...

Resenha: A Arte de Amar - Erich Fromm


Texto: Ben Oliveira

Escrito em 1956, pelo psicanalista alemão, filósofo e sociólogo Erich Fromm, A arte de Amar (The Art of Loving) aborda um dos temas que sempre despertou interesse nas pessoas, o amor. O livro não é um guia, como muitos podem imaginar pelo nome, muito menos auto-ajuda, apesar de proporcionar o auto-conhecimento. O psicanalista considera o amor uma arte, pois acredita na importância de conhecer sua teoria e prática.

Como toda arte, Erich Fromm argumenta que o amor precisa ser trabalhado, exigindo prática e concentração, além de maturidade, desenvolvimento de personalidade, capacidade de amar ao próximo, humildade, coragem, fé e disciplina. Diferente do que se acredita, o psicanalista ressalta que o amor não é obra do acaso, sorte ou uma simples sensação agradável.

“O amor é a única resposta sadia e satisfatória para o problema da existência humana”, comenta Erich Fromm. Segundo o autor, existem diferentes tipos de amor, como o amor romântico, o amor fraternal, amor de pais, amor erótico, amor próprio e amor de Deus, e todos eles ajudam de alguma forma o ser humano a lidar com a separação e solidão.

Fromm também analisa o amor nos tempos atuais, comparando-o à necessidade de consumo e busca pelo atraente física ou mentalmente – fator que muda de acordo com a moda da época. De acordo com o psicanalista, o que existe é uma relação de troca, na qual duas se pessoas se apaixonam ao sentirem que encontraram o que estava de melhor disponível no mercado. Logo, o amor segue o mesmo padrão dos mercados de utilidade e de trabalho.

O autor fala sobre a diferença entre paixão (cair em amor) e amor (permanecer amando). No primeiro caso, as pessoas se tornam íntimas e a partir do momento em que se conhecem melhor, acontece a morte da excitação inicial. “Dificilmente haverá qualquer atividade e que, contudo, fracasse com tanta regularidade, quanto o amor”, analisa Erich Fromm.

Como o homem não consegue desistir do amor, o psicanalista recomenda que o mesmo passe a entendê-lo e descobrir as razões que levaram ao fim.

Erich Fromm comenta sobre a necessidade do homem de realizar a união com outras pessoas, como uma tentativa de fugir da loucura (pânico do isolamento), transcender a própria vida individual e encontrar sintonia.

O psicanalista comenta diversas maneiras paliativas de fugir dessa separação, como os estados orgíacos (estado transitório de exaltação, na qual o mundo externo desaparece – drogas, transe, orgasmo sexual), união com grupos (obtendo a sensação de pertencer e se salvar da solidão), as rotinas e atividades pré-fabricadas e a atividade criadora (o homem cria algo representando o mundo exterior). Todavia, Erich Fromm explica que o amor ainda é a resposta completa para o problema da existência.

“Sem amor, a humanidade não poderia existir um dia”, justifica Erich Fromm. Para o psicanalista, o  homem precisa se conectar com outras pessoas e este fracasso pode significar a loucura e destruição de si mesmo e dos outros.

De acordo com Erich Fromm, o amor pode ser visto de duas formas: uma união simbiótica, por exemplo, como a necessidade que um bebê tem da sua mãe, e vice-versa, ou psíquica, onde mesmo estando em corpos independentes, eles estão ligados psicologicamente; e o amor amadurecido, na qual mesmo unidos, as pessoas preservam suas integridades próprias.

“No amor, ocorre o paradoxo de que dois seres sejam um, e, contudo, permaneçam dois”, define Erich Fromm. Para o psicanalista, o amor ainda é visto como uma atividade, e não um afeto passivo.

Existe uma maneira produtiva e uma não-produtiva de enxergar o amor. Segundo Fromm, algumas pessoas veem o amor como um sacrifício, um abandono e se recusam a dá-lo, enquanto outras enxergam como algo que é melhor dar do que receber, uma experiência elevada e que sua ausência seria dolorosa.

Psicologicamente, Fromm acredita que quem tem medo de perder alguma coisa é pobre; e quem é capaz de dar de si é rico. As pessoas dão vida sem se sacrificarem, alegria, interesse, compreensão, conhecimento, humor e até mesmo tristeza. “Dar implica fazer da outra pessoa também um doador e ambos compartilhar da alegria de haver trazido algo à vida”, ensina.

Cuidado e responsabilidade são necessários para que o relacionamento amoroso dê certo. Se preocupar com o outro, não tratá-lo como objeto e saber deixá-lo livre são alguns dos pontos levantados.

Os diferentes tipos de amor são abordados, como o amor de mãe (passivo, incondicional); amor paterno (condicional, deve ser merecido); amor fraterno (entre iguais); amor erótico (anseio de fusão completa, união com outra pessoa); amor próprio (diferente do egoísmo) e o amor de Deus.

Para o relacionamento amoroso funcionar, Fromm fala que o amor erótico deve vir acompanhado do amor fraterno, caso contrário será algo transitório. Ainda segundo o psicanalista, mesmo que haja uma união, ela é ilusória.

O homem moderno também é um dos motivos pelos quais é tão difícil encontrar o amor nos dias de hoje, pois, para Fromm, ele é “alienado de si mesmo, de seus semelhantes e da natureza”. As pessoas tentam ser próximas, mas no fundo são inseguras, ansiosas e se culpam por não conseguirem. “Ele vive no passado ou no futuro, mas não no presente”, Erich Fromm caracteriza o homem moderno.

Com o sistema capitalista, segundo o psicanalista, o amor é cada vez mais exceção, e, portanto, é preciso fazer algo para mudar isto. “O amor só é possível se duas pessoas se comunicam mutuamente a partir do centro de suas existências e, portanto, se cada uma o experimenta a partir do centro de sua própria experiência”, argumenta.

Até o amor de Deus foi transformado nos dias atuais. Para Erich Fromm, Deus é visto como um “parceiro de negócios”, um meio para aumentar a capacidade de obter sucesso.

Para finalizar este texto, acredito na importância de livros, como a Arte de Amar, para o entendimento de si mesmo e do outro, já que ambos os fatores estão relacionados. E segundo Erich Fromm, é ilusão imaginar que o amor não existe conflitos – ele é um desafio constante, porém possibilita crescer e o trabalho em equipe. “Amar é uma experiência pessoal que cada qual só pode ter por si e para si”, com esta frase do Erich Fromm, concluo com o pensamento do psicanalista de que para amar o outro é preciso antes amar a si mesmo e vice-versa.

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