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Destaques

Sem talvez

Não havia talvez quando se tratava de pôr a própria saúde mental em primeiro lugar, especialmente quando o outro a estava negligenciando. Não havia talvez para continuar sustentando um relacionamento que não ia para frente, no qual o outro se negava a se responsabilizar e se colocava constantemente no papel de vítima. Não havia talvez quando você havia se transformado em uma espécie de terapeuta que tinha que ficar ouvindo reclamações e problemas constantes, se sentindo completamente drenado após cada interação. Já não havia espaço para o talvez. Talvez as coisas seriam diferentes se o outro tivesse o mesmo cuidado com a saúde mental que você tem. Talvez a fase ruim iria passar um dia. Talvez a pessoa ia parar de se pôr como vítima e começar a se responsabilizar. Eram muitos talvez que não tinha mais paciência para esperar. Então, não, já havia aguentado mais do que o suficiente. Não era responsável por lidar com os problemas do outro. Não era responsável por tentar levar leveza diante...

Resenha: A Crônica na Mídia Impressa – Ana Maria Gottardi

Texto: Ben Oliveira

O livro "A Crônica na Mídia Impressa", escrito por Ana Maria Gottardi, da Unimar – Universidade de Marília, está disponível para download no site da instituição e aborda alguns cronistas brasileiros, como Luís Fernando Veríssimo, José Simão, Diogo Mainardi e Arnaldo Jabor, o perfil da crônica, suas ambiguidades e diversidades.

A crônica na mídia impressa
A autora conta sobre o início da crônica no Brasil, o texto utilizado para registrar a história do país, retratar as situações e imaginários da época, acontecimentos de importância local e boatos.

As crônicas, segundo Ana Maria Gottardi, trazem críticas por meio da ironia e da sátira, da desconstrução da realidade, metáforas e da subjetividade, deixando de lado aquele caráter jornalístico da veracidade.

Para a autora, o texto das crônicas é leve, breve, descompromissado com o conteúdo, de fácil compreensão, não exige muito do leitor e possui estratégias persuasivas, como a catarse entre quem escreve e lê, gerando interação, expectativas e ideias do mundo.

Ana Maria Gottardi aponta algumas características gerais utilizando diversos trechos de crônicas como exemplo e se aprofunda na análise de alguns dos principais cronistas do Brasil. Luis Fernando Veríssimo e José Simão são destaques quando se trata da ironia e sátira como mira a classe política; Diogo Mainardi e seu tom agressivo e sarcástico, sendo considerado ofensivo por alguns e Arnaldo Jabor com sua “visão apocalíptica” e crítica-satírica da situação político-social brasileira.
Através das crônicas o leitor consegue interpretar o que está acontecendo no dia-a-dia. A voz do cronista é reflexo das vozes de quem está lendo, e nesta característica reside a importância da crítica aos problemas da sociedade.

Mesmo com a falta de tempo, a crônica consegue despertar no leitor intuições das mazelas. O texto cria um elo entre cronista e eleitor, um clima de afetividade e acontece a identificação por meio dos comentários da realidade e a maneira que enxergamos as coisas.

“Talvez a crônica seja um texto que absolutamente não se lê por obrigação, pelo valor artístico, pela importância intelectual do autor, mas pelo prazer absoluto do texto”, observa Ana Maria Gottardi.

Dois pontos da crônica abordados são a sátira, uma forma de “dizer a verdade brincando” e a ironia – contradições, escrita de uma maneira que o leitor perceba o real sentido na comunicação.

Seja pelo puro prazer de aprender mais sobre as crônicas – gênero híbrido do jornalismo e da literatura –, compreender mais o estilo de escrita dos cronistas comentados acima ou pela simples curiosidade, A Crônica na Mídia Impressa é uma ótima opção de leitura para quem deseja entrar em contato com este texto, sucesso no jornal impresso e que tem migrado para as mídias digitais, relacionado ao cotidiano, questões sociais e consegue conciliar a verdade com o lirismo.

Leia o livro na íntegra: A Crônica na Mídia Impressa  

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