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Destaques

Escrevendo Novos Capítulos

Dezembro chegou e com ele veio a vontade de escrever novos capítulos de sua história. Estava disposto a deixar outubro e novembro para trás, tentar se focar no momento presente e se deixar perder nas novas linhas que se formavam. Era verdade que deixar os capítulos anteriores para trás não era uma tarefa fácil, mas precisava seguir em frente, sempre se movimentando em direção aos seus sonhos. Tentava não criar expectativas sobre que tipos de histórias iria escrever, o papel em branco que antes o paralisava, agora servia como um convite para deixar novas palavras surgirem. Escrevia pra quê, afinal de contas? Para se lembrar? Para esquecer? Para colocar para fora? Para simplesmente praticar o ato de escrever? Não havia uma resposta certa ou errada. Escrevia porque era sua paixão fazer isso e enquanto continuasse respirando, pretendia continuar escrevendo. Escrever capítulos novos poderia ser uma atividade interessante. Diferente do que muitos pensam, nem todos escritores deixam tudo plan...

Um Alguém Sem Coração - Julio Mesquita

Esse jogo poético de minha imaginação não me surpreende, já que sempre se deparou com desdéns sofridos que me tiraram a alegria no passado. Vista à distância, minha vida é como que contraída desses contos trágicos de amores não correspondidos. No entanto, eu amava àquele rapaz.

Vinícius e Lenine foram muitas vezes meus discretos e indispensáveis confidentes. Vi Leonardo em um bar naquela noite com outro, os dois com copos em punho, ambos confabulando suas aventuras amorosas. (Eu olhava).

Confesso que estive a ponto de lançar-me aos seus pés, de dizer-lhe sobre meu amor e sentimento, mas não pude. Como todos os jovens de minha idade, eu aspirava ter um único e verdadeiro amor, Leonardo foi minha primeira aspiração.

Conheci o Léo, é como costumava chamá-lo, em uma rede social. Marcamos um encontro e ficamos. Foi tudo! Minha força de sentimento, meu prazer, meu corpo, minha alma; usei tudo o que eu tinha dentro e fora. Para conhecer um homem, é preciso ao menos entrar no segredo do seu coração, foi esse segredo que entreguei ao Léo. Vivi emoções indescritíveis. Abandonei a mim mesmo para entregar-me a ele, para servi-lo, satisfazê-lo. Quis cobrir-lhe de amor, de alegria, de excessivos carinhos a fim de vê-lo no mais alto grau de satisfação e gozo. Todos os homens resumiam-se em um só: Leonardo.

Ah! Quanta amarga decisão. Acreditei que o verdadeiro amor deixa-se arrastar para onde aquele em quem reside sua vida, sua força, sua realização e felicidade. De fato, dei-me por inteiro sem que mais nada faltasse. Leonardo me fez homem, mulher; amante, profano. Nosso sexo era puro, sujo, ardente e às vezes santo. Enfim, não temi o abismo e fui além do que o corpo poderia alcançar. Outras vezes, me vi esgotar sem nenhuma gota, resumido a nada, totalmente consumido em meio ao músculo. Tive um prenúncio de alucinações, vi projeções estelares, luzes e sombras; reflexos através da neblina, vagando rumo ao cume do quarto em que fazíamos amor. Eu fui prisioneiro desses sentimentos tão sublimes que até a própria vida desconhece. A cada dificuldade vencida, eu beijava-o o rosto, as mãos e os pés desse meu anjo divinal.

Escapei às preocupações do mundo, me aprofundei nessa intensa relação. Tive minha homossexualidade totalmente exposta, rebati críticas de família e enfrentei com atitude e incisão os preconceituosos.

Mas assim como tudo na vida, acabou. Leonardo me traiu. Aliás, nem sei se ele me traiu. Ele apenas voltou para os braços de quem ele sempre pertenceu. Descobri que Léo, havia voltado a se encontrar com seu antigo relacionamento.

Na saída da faculdade alguém me abordou. Esse alguém me entregou um bilhete dizendo: "Até quando viverás das minhas migalhas?" – Assinado: Atílio.

À noite, logo que nos reencontramos, Léo viu meus olhos inchados de tanto chorar. Dei-lhe a carta. Seu rosto corou, sua testa franziu, na mão fez rasgar o que leu. Impus-me, fiz com que escolhesse, e ele realmente escolheu.

Foram meses de dor e sofrimento tentando compreender o significado daquela entrega, tentando ver um pouco de verdade nas falsas promessas e recolhendo as fuligens do que sobrou.

E mesmo depois de tanto tempo, vejo-o repentinamente num bar com a pessoa que me deu a carta. Recordei-me das nossas conversas, das palavras que me fizeram ver estrelas, dos lábios os quais tanto toquei e do quanto juramos viver esse amor que parecia ser eterno.

Julio Mesquita é publicitário e escritor.
Site: WWW.juliomesquitaescritor.com

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