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Destaques

Ressignificar dia após dia

A linha era tênue entre a verdade e a autoficção, mas a literatura era um espaço para criar e não tinha compromisso com a realidade. Como tinta invisível, personagens às vezes se misturam e podem confundir. Um personagem pode ser vários e a graça não está em descobrir quem é quem, mas de aproveitar a leitura. Escrever em blog poderia não ser a mesma coisa do que escrever um livro de ficção ou de memórias, mas a verdade era que acabava servindo para as duas coisas. Às vezes o passado estava no passado. Às vezes o presente apontava para o futuro. Mas nunca dá para saber sobre quem se está escrevendo e há beleza nisso. A beleza de que personagens não eram pessoas, de que não precisava contar a verdade sempre, que às vezes quatro personagens poderiam se tornar um. Saber quem é quem parecia o menos importante, mas apreciar a beleza das entrelinhas. Ia escrevendo como uma forma de esvaziar a mente e o coração, sentindo o corpo mais leve. Escrevia e continuaria escrevendo sempre que sentisse ...

Preciso ler e escrever

Quanto mais eu leio, sinto como se não tivesse lido nada. Sinto que morrerei sem ter lido metade dos livros que gostaria, sem contar as novas obras criadas a todo instante e histórias que eu nem imaginava. Preciso ler e escrever, como preciso de ar, água e alimento para viver. O tempo passa e ainda me vejo diante de alguns livros como uma eterna criança aprendendo a ler, fascinado com os personagens, lugares, histórias, mensagens. Aprender nunca é suficiente. Desejava ter começado minhas leituras quando ainda era bebê, para não dizer antes de até mesmo existir, e ainda assim não teria tempo para sorvê-las. Queria me alimentar de livros, deixar suas palavras correrem pelo meu sangue, nutrirem o meu cérebro, alma e coração. Sinto-me mais vivo quando folheio uma publicação, iluminando os cantos obscuros da minha mente com o conhecimento. Às vezes, sinto como se a quantidade de luz nunca se equivalera à de sombra. Sou como um livro largado atrás de um armário. Minha capa está cheia de pó. Minhas páginas estão amareladas, sujas, intocáveis. Não sei quando alguém me tirará daqui. Queria viver sob o sol, iluminado, aquecido, vívido, mas a escuridão não me deixa ir. Sou o livro publicado, renegado pelo seu autor, jogado às traças, desesperado por um toque, alguém que me segure e diga que minhas linhas tortas também têm valor. Sou escritor, leitor e obra. Minhas nuances se misturam, se confundem, se iludem. Sou imortal, inerte e animal. Vivo esperando pela hora em que tudo faça sentido, como o leitor entretido que se coloca na pele do personagem, chorando aliviado por ter sobrevivido aos seus desafios, pronto para se levantar e lutar pela própria vida. Então, deito na minha cama e vejo minhas energias sendo sugadas para outro mundo, uma vida que não vivi. Estou cercado por livros. Eles me tem, me entendem e me ensinam, e eu pouco sei sobre eles. São tantos livros e pouco tempo para viver...

“Não seremos nós também um livro que Alguém lê? E não será nossa vida o tempo da Leitura?”, Ernesto Sabato, no seu livro O escritor e seus fantasmas.

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