*Texto: Ben Oliveira
Em cima do palco, uma obra com livros criada pela artista plástica Ângela Maria Silva, da Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul, iluminada com as luzes do teatro retratava como seria a noite desta terça-feira, 24 de setembro, em que aconteceu a abertura do 14º PROLER – Encontro do Programa do Livro e da Leitura, no Teatro Aracy Balabanian, localizado no Centro Cultural José Octávio Guizzo, em Campo Grande (MS).
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Evento discute como incentivar a leitura e como os livros convivem com as tecnologias no meio digital. Obra da artista plástica Ângela Silva. Foto: Ben Oliveira. |
Os livros e a tecnologia utilizada para a realização da palestra mostravam que conseguiam conviver no mesmo ambiente, marcas de um evento de incentivo à leitura e transmissão do conhecimento. O coral da Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul cantou o Hino Nacional de Mato Grosso do Sul na abertura do Proler, dando início aos pronunciamentos sobre o programa e posteriormente à palestra com o tema Leitura no Mundo Digital.
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O Coral da Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul cantou na abertura do 14º Encontro do Programa do Livro e da Leitura, em Campo Grande (MS). Foto: Ben Oliveira. |
O livro na era digital
A Coordenadora do PROLER de Campo Grande – MS, Neusa Narico Arashiro desejou as boas-vindas a todos os acadêmicos, contadores de histórias, educadores, leitores e autoridades presentes no evento. Segundo Neusa, o Proler oferecerá 15 oficinas e duas palestras, com temas variados relacionados ao livro na era digital, como a literatura regional, estórias em quadrinhos, cinema afro-brasileiro, contação de estórias, redes sociais como ferramenta de ensino e aspectos lúdicos da poesia.
Além das oficinas para adultos, também acontecerá o 2º Prolerzinho, voltado para crianças de escolas públicas de Campo Grande (MS), com três oficinas de histórias em quadrinhos, de brinquedos e contação de histórias e leituras literárias e o 1º Prolerteen, com duas oficinas para jovens do Ensino Médio, de 14 a 17 anos, sobre histórias em quadrinho e cinema e literatura, no Instituto Federal de Mato Grosso do Sul (IFMS).
“Acredito que nós teremos boas e frutíferas discussões”, afirma Neusa Arashiro em relação ao tema leitura na era digital. A coordenadora do Proler citou os esforços de Ziraldo e Maurício de Sousa para transformar o Brasil em um país de leitores e ressaltou a necessidade de se investir no incentivo à leitura e das políticas públicas. De acordo com Neusa, apesar de Salvador (BA) ter sido a primeira capital do Brasil, existem poucas edições de Bienais do Livro em comparação à Porto Alegre (RS), por exemplo, onde o índice de leitores é maior.
O prazer da leitura e a formação de leitores
Presidente da Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul, Américo Calheiros esteve presente na abertura do Proler e recordou o seu encantamento ao entrar em contato pela primeira vez com o projeto, em 1995. “Foi a primeira vez em que eu vi se tratar a leitura como uma fonte de prazer”, lembra. Américo gostou de ver a ideia da leitura de livros não como um hábito, mas como uma satisfação plena.
Não foi só o fato do Proler estar relacionado ao incentivo da leitura que chamou a atenção de Américo Calheiros, mas também enxergá-la como algo agradável. Para o Presidente da FCMS, a leitura associada ao professor como uma tarefa, uma obrigação. “A leitura não é uma tarefa apenas da escola. Enquanto ela ser assim, nós teremos um número reduzido de leitores”, critica. Há 17 anos em Campo Grande, esta é a 14ª edição do Proler na capital sul-mato-grossense e a Fundação de Cultura apoia o evento por acreditar na importância dos mediadores da leitura.
“Nós temos municípios do Brasil em que a média de leitura é de 4 livros por habitantes, enquanto o índice nacional é de 1,8”, compara Américo Calheiros. A distribuição de livros, segundo ele, ajuda a transformar vidas. Para o presidente da FCMS, é preciso fazer uma Revolução do Conhecimento. “Vamos fazer deste Brasil um país de leitores, e aí, com certeza, nós vamos transformar esta realidade”, incentiva.
Leitura no Mundo Digital: Possibilidades e Relações
Professora do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Católica Dom Bosco (UCDB), de Campo Grande (MS), Maria Cristina L. Paniago Lopes ministrou a primeira palestra desta edição do Proler com o tema: “Leituras no/com o mundo digital: diferentes possibilidades e relações”. Para sustentar seu discurso, Maria Cristina usou definições de Paulo Freire sobre a leitura. “Para Paulo Freire, ler não é caminhar sobre as letras, mas interpretar o mundo, poder lançar suas palavras sobre ele, interferir no mundo pela ação. Ler é tomar consciência”, define. Ainda de acordo com a palestrante e com Paulo Freire, ler é mais do que interpretar o mundo, é representa-lo na linguagem escrita.
Durante sua palestra, Maria Cristina Paniago Lopes trouxe alguns dados importantes sobre as Tecnologias da Informação e Comunicação de 2012, como o de que 92% dos estudantes brasileiros já utilizaram computadores, 99% dos professores são usuários da rede e o de que entre 1995 e 2012 foram instalados 85 mil laboratórios de informática nas escolas públicas, segundo o Ministério da Educação (MEC).
No meio das transformações da tecnologia e desta tentativa de adequação da educação, a palestra pergunta se os professores estão preparados e argumenta que é necessário novas formas de ler e se posicionar diante do mundo. “Será que não estamos realizando práticas reducionistas? Inserir estas tecnologias no contexto educacional não é garantia de inovação, de mudança”, reflete Maria Cristina. Para a professora, é presencial manter o conteúdo essencial e saber adequar o que já não tem mais valor na prática educacional. Maria Cristina também explica que é preciso inserir a tecnologia no ambiente da leitura quando esta estiver relacionada ao aprendizado e não somente por modismos ou maneira de atrair os alunos.
Segundo a palestrante, os professores e alunos precisam ser protagonistas, em um processo contínuo que exige esforço pessoa, esforço grupa e políticas públicas de valorização e qualificação do profissional da educação. “Nós precisamos rever os nossos procedimentos, nossas maneiras de ensinar e nossa maneira de aprender”, recomenda.
Quando se trata da educação, Maria Cristina Paniago comentou que é necessário adequar a tecnologia à proposta pedagógica, e não o contrário como vem acontecendo, por causa da pressão tecnológica. “Não se exclui o livro, mas a gente pode usar essas tecnologias de informação para somar no processo da educação”.
Durante a palestra, Maria Cristina Paniago reproduziu diversos vídeos relacionados à leitura no mundo digital e a necessidade de se adequar a educação aos alunos nativos digitais, levando os estudantes, professores, escritores e autoridades presentes à reflexão sobre como é fundamental valorizar a aprendizagem como um processo em construção.
Confira abaixo alguns dos vídeos:
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