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Destaques

Inegociável

Duas coisas opostas poderiam ser verdades ao mesmo tempo. No entanto, havia aprendido que mesmo gostando do outro, talvez o humor era algo inegociável. Então, foi aprendendo a se desprender do outro e todo conforto que havia depositado ao longo do tempo. Um ano era o suficiente para esclarecer as coisas, mas eram uma equação sem resposta. Aprendera que o outro deveria se preocupar com o desconforto que causava, independente da sua predileção por humor negro. Mas a verdade era que sua preocupação com a risada era maior do que a preocupação com o bem-estar. Ia deixando as coisas se ajeitarem. Se desapegando da ideia de que alguém dia os dois fizeram algum sentido e tinham algum futuro. Não, o presente havia enterrado tudo e não havia o que fazer. Quando dois não querem, nada flui. Talvez sempre tenha sido assim e tinha se dado conta tarde demais. Não insistiria em mandar mensagem sem respostas: aceitaria aquilo como uma resposta em si, a da indiferença. Então, pouco a pouco, ia tirando t...

Pesadelos, escrita e bloqueio criativo

Pesadelos. Quem é que nunca teve pesadelos? Sonhos estranhos, macabros, dolorosos, assustadores. Acordar com o coração acelerado, olhar para os lados e perceber que tudo não passou de obra do seu subconsciente. Por mais irreais e desconexos que eles possam parecer, essas histórias trazem significados.

Não tenho tido sonhos ruins nos últimos meses. Confesso que gosto de acordar no meio da madrugada ou até mesmo pela manhã e tentar lembrar o que aconteceu. Sempre que consigo me recordar dos pesadelos, fico tentando encontrar motivos e respostas.

Lembro-me de quando estava lendo um livro sobre a ciência da auto realização, escrito por um líder religioso indiano Abhay Charanaravinda Bhaktivedanta Swami Prabhupada. À medida que eu aprendia mais sobre os ensinamentos da religião e compreendia mais a cultura e tradições dos homens e mulheres que dedicam sua vida ao movimento Hare Krishna, mais as imagens surgiam na minha cabeça. Naquela noite, depois de horas de leitura, abri os olhos e vi um velho indiano careca na minha frente. Sabe quando você sente tanto medo que os seus pelos do corpo se arrepiam, como se eles te dissessem para fugir, os seus olhos se abrem por causa do espanto e parece que o seu coração vai parar? Depois que a visão do homem desapareceu, fiquei pensando se estava sonhando ou alucinando, porque parecia que eu estava acordado.

Preciso escrever um conto de terror com o tema “pesadelos”. Dizem que a melhor maneira de começar a escrever sobre algo, principalmente quando você está travado ou não sabe por onde iniciar é escrevendo. Escrever sobre suas dificuldades, sobre o assunto e de repente, como em uma corrida – ao começar, o seu corpo não está acostumado com o ritmo até o momento em que se torna algo natural e você não quer mais parar – tudo começa a fluir.

Gosto de desafios literários porque eles nos fazem sair da zona de conforto. Escrever sobre coisas que talvez você não abordaria tão cedo e forçar o seu cérebro a visitar aquelas zonas obscuras da sua memória. Dizem que antes de escrever narrativas sobre o desconhecido, é preciso treinar com suas experiências de vida, saber contar um acontecimento com naturalidade, simplicidade e coerência, para, então, mergulhar em outros mundos.

Antes de pensar no personagem e no pesadelo que ele terá, fico me questionando como nem sempre os sonhos são universais. Por mais que Freud e a sua psicanálise tentou decifrar o significado de centenas de sonhos, quando se trata de pesadelos, o que pode ser terrivelmente assustador para mim, para o outro pode ser algo engraçado e vice-versa.

Nesses momentos de falta de inspiração, sinto falta de deixar um caderninho próximo à minha cama para sempre que eu tiver bons ou ruins sonhos, anotar o que aconteceu. Em frente ao computador, vendo a página em branco e sem ter ideia do que escrever, senti vontade de ter um sono cheio de pesadelos. Afinal, se eles representam nossas frustrações, angústias e indecisões, para um escritor não há algo mais agoniante e indesejável do que um bloqueio criativo. Um verdadeiro pesadelo acordado...

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