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Destaques

Scoop: Jornalistas da BBC e uma entrevista polêmica com príncipe Andrew

Quando um escândalo internacional envolvendo a Família Real estoura, uma jornalista tenta ser a primeira a conseguir uma resposta do príncipe Andrew para a BBC. Scoop é um filme de 2024 sem grandes surpresas para quem acompanhou a cobertura midiática da época, que mostra a importância do jornalismo não se silenciar quando se faz relevante. Um caso que havia sido noticiado há nove anos sobre a amizade de Andrew e Jeffrey Epstein estoura com a prisão do milionário e suicídio. Enquanto jornais de diferentes partes do mundo fizeram cobertura, o silêncio de príncipe Andrew no Reino Unido incomoda a equipe de jornalismo, que tenta persuadi-lo a dar uma entrevista. Enquanto obtém autorização para fazer a entrevista, a equipe de jornalismo mergulha nas informações que a Família Real não gostaria que fossem divulgadas sobre as jovens que faziam parte do esquema de tráfico sexual e as vezes em que príncipe Andrew estava no avião particular de Epstein. O filme foca mais na equipe de jornalismo do

Resenha: A Luta pela Mente – William Sargant

Lavagem cerebral. Quem já ouviu o termo logo fica curioso para saber se realmente existe ou não. No livro A Luta pela Mente, escrito pelo psiquiatra britânico William Sargant, o autor desmistifica o assunto através de explicações científicas e relatos, mostrando como a religião e os governos fazem para manipular a mente das pessoas.

Não é nenhuma novidade termos conhecimento de alguém que da noite para o dia se converteu e mudou totalmente os seus hábitos. Se é normal ou saudável, somente a pessoa vai saber dizer. William Sargant comentou que as religiões e políticos têm utilizado essas técnicas desde os tempos antigos. Não importa o quanto desejamos não ser influenciados pelas pessoas ao nosso redor, a cada vez que entramos em contato com ideias diferentes, incorporamos algumas ideias, opiniões e comportamentos em nossas vidas. O problema não é quando o discurso faz sucesso a ponto de convencer os outros, mas quando somos forçados a abandonar nossas maneiras de pensar e somos, literalmente, reprogramados para acreditar com toda nossa mente e coração no que acabamos de aprender.

Na obra A Luta pela Mente, William Sargant comenta alguns experimentos realizados por Pavlov com seus cachorros e descobriu que a fisiologia cerebral dos animais têm mais pontos em comum com a dos humanos do que imaginávamos. O pesquisador descobriu que depois de uma enchente, os seus cães ficaram marcados pela situação, na qual seus instintos os levaram a lutar pela própria vida. E todas as vezes em que os animais viam a água se aproximando deles, se recordavam da enchente e o deixavam em um estado de medo e ansiedade.

Da mesma forma que Pavlov classificou os seus cães de acordo com os seus comportamentos e descobriu como aquela experiência transformou a vida dos animais, Sargant faz uma relação com os seres humanos. O autor, então, explica como as igrejas e religiões fazem para converter seus fiéis. As pessoas são induzidas a sentirem medo e ansiedade e sempre lembradas de que se não se comportarem de tal maneira queimarão no inferno. No entanto, a lavagem cerebral vai além das simples palavras que poderiam por si só já causarem um bom impacto na vida das pessoas. Em A Luta pela Mente, Sargant comentou como os tambores (música), a iluminação (velas), o cheiro (incenso), entre outros fatores podem ajudar a criar o clima de excitação cerebral necessário na vida das pessoas, a ponto de algumas entrarem em colapso e caírem duras no chão, como é observado em práticas de diversas religiões.

Geralmente, é após este colapso que as ideias começam a ser implantadas com mais facilidade na mente das pessoas. Todavia, existem pessoas que são mais resistentes e por isto, quando ouvimos alguma pregação, independente de qual religião seja, percebemos como algumas palavras são repetidas e enfatizadas com frequência, sempre lembrando o fiel sobre as punições e atitudes que precisam ser respeitadas. O tom da voz, o olhar (e a sensação de que o locutor está contando a história exatamente para você), as cantorias e músicas e a influência das outras pessoas convertidas podem contribuir mais para os processos da lavagem cerebral. Lembrando que este colapso muitas vezes é coletivo, por isto é observável quando várias pessoas desmaiam ao mesmo tempo ou falam línguas estranhas, como acontece nos rituais religiosos.

Acredito que ninguém duvide do poder que o cérebro tem de criar imagens, dar sentido para coisas que aparentemente não parecem ter nenhuma conexão. Logo, neste processo de lavagem cerebral, no qual o indivíduo é exposto ao estresse, ansiedade, medo (muitas vezes até mesmo de morrer e queimar no inferno), ele enxerga exatamente o que o meio em que está convivendo o influencia. O que explica, por exemplo, que um religioso que não acredite em santos tenha uma chance grande de ver anjos e demônios, mas não veja santos, já que são condicionados a não acreditarem nisto, embora ambas religiões estejam relacionadas ao cristianismo. Todo o ambiente, o conhecimento transmitido, o comportamento dos outros membros e de quem está induzindo a lavagem cerebral, tudo isto afeta a maneira do novo iniciado pensar.

A lavagem cerebral tem um impacto tão grande na vida das pessoas, que muitas delas sentem como se suas vidas tivessem começado somente depois daquilo, negando e se envergonhando do seu passado. Nas religiões africanas em que as tribos utilizam tambores para criar o clima e os membros dançam sem parar durante horas, muitos deles são levados ao colapso e é quando estão desmaiados que o cérebro chega a um nível onde tudo o que antes não era acreditável torna-se real.

Como afirmado no início do texto, a lavagem cerebral não é utilizada somente na religião. William Sargant também abordou como os governos utilizavam estas técnicas para mudar a maneira das pessoas pensarem. Se por um lado a lavagem cerebral quando voltada à religiosidade usa elementos sutis, mas poderosos, de acordo com suas crenças, por outro quando se trata de mudar o ponto de vista e a ideologia de alguém, o processo é, muitas vezes, mais doloroso. Da mesma maneira que não é novidade conhecermos pessoas que se transformam suas vidas depois de entrarem em uma religião, a ponto de não a reconhecermos mais, também não é novo saber como os governos, principalmente os mais autoritários, fazem para se manterem firmes.

Sargant dá como exemplo a Rússia e a China no livro, mas poderia se tratar de qualquer governo que utiliza destas técnicas para controlar as pessoas. A tortura é o meio mais conhecido de como as pessoas são levadas a um alto grau de ansiedade e medo e muitas vezes, levadas a desmaiarem. O colapso acontece quanto mais controlado o torturador souber manejar a situação. A vítima é levada ao ponto ideal no qual ela sofre tanto que abandona seu antigo estilo de vida e acredita no que for implantado. Além das agressões, os regimes autoritários usam outras maneiras de esgotar a pessoa e tornar mais fácil o processo de conversão ou lavagem cerebral, como através da fome, falta de sono, repetição da mesma ideia, até que a pessoa chegue ao ponto em que ela já não sabe se a ideia foi dita por alguém ou se ela mesmo pensou aquilo.

Além dos danos evidentes, Sargant deu um exemplo de como através da lavagem cerebral as pessoas podem ser induzidas ao erro e se responsabilizarem por algo que não fizeram. O psiquiatra relatou como um serial-killer ficou solto durante anos, já que um homem se culpou pela morte de sua mulher, sua filha e outras mulheres. Os policiais que realizaram o interrogatório induziram o homem a acreditar que tinha sido responsável e somente anos depois quando já era tarde demais, descobriu-se quem era o verdadeiro autor dos crimes.

Outro exemplo do livro foi o de uma jornalista norte-americana que tinha sido torturada na China. Depois de passar muito tempo com as mãos e pernas algemadas e induzidas ao processo de lavagem cerebral, quando ela finalmente escapou e contou sua história, ela não se sentia revoltada pelo que tinha passado e julgava ter merecido – algo parecido com o que acontece com as vítimas de sequestradores que até mesmo os defendem de seus comportamentos.

Bom, para quem se interessou pelo assunto, recomendo a leitura do livro A Luta pela Mente, do William Sargant. A proposta do autor ao compartilhar o conhecimento com os leitores, não era o de ensinar as pessoas a praticarem a lavagem cerebral nos outros, mas justamente ajudar as possíveis vítimas como se controlar nestas situações, já que algumas pessoas são naturalmente mais resistentes do que outras a comprarem qualquer ideia que tentem colocar em suas cabeças e outras podem aprender a lidar a se comportarem.

Comentários

  1. Ben, muito obrigada pela indicação deste livro, sua resenha está fantástica. Eu, quando criança/adolescente fui "vítima" de lavagem cerebral por causa do fanatismo religioso da minha avó e isso trouxe muitos danos para minha mente que já estava doente. Hoje eu sei diferenciar e não caio mais nessas coisas, mesmo porque acredito que temos de ser livres para pensar. Eu leio de tudo, mas nunca me deixo apegar ou ficar fanática por nada, nesse mundo tudo é muito incerto e muda muito rápido. Adorei e obrigada pelo comentário no meu blog!!!!

    http://diaadiadadepressao.blogspot.com.br/

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    1. Olá, Michele! Agradeço mais uma vez pela visita e comentário!
      Esse livro é fantástico e nos faz perceber que os mecanismos de lavagem cerebral são difundidos, até mesmo por aqueles que não o chama por esse nome: igreja, política, polícia. Enfim, é um assunto sério e que deveria ser mais estudado e comentado, por causa dos seus danos causados para a mente.

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  2. Grato pela ótima indicação, resumo de resenha perfeito. "Só sei que nada sei ..."

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