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Destaques

Âncora

Ancorar é encontrar um espaço seguro mesmo diante do caos. É ouvir uma música e se permitir encontrar paz, mesmo quando as coisas estão fora de controle. É pensar na sua pessoa favorita e sentir as emoções reguladas. É saber que você pode confiar em quem conversa o dia inteiro. É confiar que mesmo diante da ambiguidade, ele vai honrar a promessa que fizeram. É ressignificar o que antes poderia ser visto como algo preocupante e aceitar que era mais do que seus diagnósticos. Era saber que não havia melhor pessoa que o entendesse nos últimos tempos. Era brincar com as linhas e nossas indefinições. Era saber que de tanto ensaiar situações de possíveis crises, que ele saberia notar se algo estivesse diferente. Cada um dos seus sinais. Escrevia para lembrar e também para esquecer. Escrevia para lembrar dos ciclos fechados e agradecer o que estava aberto. Era entender o quanto estava sufocado e que, às vezes, um olhar certo bastava. Escrevia para aceitar que as coisas poderiam mudar. Que em u...

Reflexão: Transitoriedade e Aceitação

Transitoriedade. Precisamos anotar esta palavra. Além da morte, a única coisa que temos certeza na vida é a de que tudo muda. Sabendo que nada permanece igual, podemos nos prevenir da decepção. Embora seja óbvio, quando estamos mergulhados nos problemas, nos sentimos miseráveis e quando estamos maravilhados com as novidades, não queremos enxergar que tudo vai se transformar em breve.

Em um dia estamos com a autoestima baixa, no outro nos sentimos nas alturas. Em uma hora estamos irritados, na outra estamos sorrindo. Passamos pelo sofrimento e pela felicidade diariamente. Será que podemos controlar nossos sentimentos? Viver é sofrer. O sofrimento não é opcional, faz parte do pacote. Não é possível escolher ser só feliz, até porque a felicidade é temporária.

Nos momentos de trevas, nos deixamos levar por quaisquer palavras, conselhos, ideias, até mesmo as mais genéricas retiradas de um livro de autoajuda. “É preciso passar por momentos difíceis para valorizar os bons”. Tudo bem. Será que realmente só damos valor ao que desejamos depois de sofrer? Nem sempre. Da mesma forma que se sentir mal não nos torna bem vistos pela alegria.

É neste momento em que entra a aceitação. Não importa o quanto desejamos que algo seja como esperávamos, idealizávamos, projetávamos. De um minuto para o outro tudo pode mudar, num simples piscar de olhos ou na batida de asas de uma borboleta. Quanto mais expectativas criamos quando estamos felizes, maiores são as chances de transformarmos nosso porto seguro em um inferno e nos sufocarmos pelas próprias imagens, pensamentos e sensações que criamos em nossas cabeças.

Não basta aceitarmos que tudo vai mudar quando estamos tristes, quando chove sem parar, dentro e fora de nós e torcemos para que o sol apareça logo, iluminando todos os cantos obscuros de nossas almas. A aceitação envolve o reconhecimento da transitoriedade também nos momentos bons, quando estamos tão felizes com algo e desejamos que aquele sentimento nunca passe; acredite, ele vai passar e quanto mais você lutar contra a mudança, mais sofrimento vai trazer à sua vida.

Precisamos encontrar o caminho do meio, o equilíbrio, a harmonia. Apreciar um pouco do inferno no paraíso e se sentir em paz até mesmo diante da morte. De todas as ilusões que buscamos ao longo da vida, como amores perfeitos, riquezas, uma vida livre de doenças, imortalidade, famílias de comercial de margarina, amizades que duram a vida toda, a pior delas e a que envolve toda a nossa existência, é a de não querermos enxergar e aceitar o fato de que tudo se transforma e nada permanece igual.

O que fazer, então? Estamos na merda, mas podemos sorrir, pois logo o jogo vai virar, ele sempre muda, não importa o quanto julgamos que não. Estamos felizes e precisamos valorizar cada minuto como se fosse o último, e certamente será, já que tudo muda o tempo todo e lutar contra o inevitável só nos colocará novamente para baixo, na escuridão. A aceitação da transitoriedade nos ajuda a andar no meio, enquanto passamos pelos altos e baixos da vida, sem desistirmos e também sem exagerar nas expectativas.

Devemos, então, refletir. Só enxergamos o gramado do vizinho sempre verde, porque não desejamos enxergar o óbvio, pois até a grama dele está sempre mudando. Tudo o que podemos fazer é torcer para que nossas gramas secas ganhem vidas e fiquem verdes e quando, finalmente, elas estiverem do jeito que gostamos, nos sentirmos gratos e aceitarmos que logo ela vai estar diferente.

Tudo muda – aceite.

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