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Destaques

Sobre Reler Livros

Reler um livro era como tocar um tecido que você já usou várias vezes, como se fosse pela primeira vez. A textura parecia diferente; o cheiro não era o mesmo; Era impossível não imaginar na palavra que circulava pela mente: diferente.  E por que esperar pelo impossível igual? O leitor não era o mesmo. Um intervalo de tempo considerável havia se passado. O personagem que costumava ser o favorito talvez agora seja outro. O texto que escreveria a respeito do livro talvez jamais fosse igual. Era um diferente leitor, um diferente livro, uma diferente interpretação. Ler pelo mero prazer era diferente de ler pensando na resenha que escreveria em seguida. Escolher o livro de forma aleatória era diferente de já tê-lo em mente. Reler era diferente de ler, mas sobretudo, era uma nova forma de leitura: os detalhes que antes não chamavam a atenção, agora pareciam brilhar nas páginas. Não estava no mesmo lugar em que estava quando o leu pela primeira vez. Sua pele não era a mesma, tampouco seu céreb

Resenha: O Paraíso de Cada Um – Milton Avelar de Carvalho

Escrito por Milton Avelar de Carvalho, o conto “O Paraíso de Cada Um” tem como premissas como o sonho de um pode tornar-se o inferno do outro e como o dinheiro não traz felicidade. Narrado em terceira pessoa, o conto tem cinco páginas, nas quais o leitor mergulha pelos polos da vida através dos olhos de dois personagens, entre a pobreza e a riqueza, a felicidade e a miséria, a realização e o vazio.

A história inicia com dois personagens em um júri, no qual a protagonista se lamenta por estar ali, porém não pode deixar desamparada alguém parte de sua vida. Ao olhar para o rapaz, ela volta ao passado, quando se viram pela primeira vez. Neste trecho o leitor é convidado pelo autor a viajar pelas memórias da jovem e entender o que levou os dois personagens àquele julgamento.

O nome da protagonista é Bárbara Quitéria Raquel Caldeira. Nascida no sertão, criada pelo pai Josias e pela mãe Cipriana, a menina teve uma infância difícil marcada pela seca e pobreza. Josias sonhava que Bárbara fosse uma vencedora.

Novamente, o leitor presencia o choque social exposto pelo autor. Depois da morte do pai – envolvido em uma luta contra injustiças e exploradores da população carente –, Cipriana e a filha passam a morar na casa do desembargador. As dependências da empregada, no fundo da casa, para as duas eram um luxo. Bárbara vê pela primeira vez Bruno, e se impressiona com o “anjo”, um menino branco e angelical, filho do desembargador, cuja aparência contrastava com a dela. Maravilhada com o novo lar, a menina julgava estar no céu.

Marcada pelos contrastes sociais, a amizade entre Bárbara e Bruno enfraquece com o passar dos anos. Na adolescência, Bárbara ajudava a mãe e nas poucas horas sacrificava o sono para estudar, enquanto o rapaz demonstrava rebeldia, conhecia as drogas e cometia delitos.

Ela entra na faculdade de Direito, enquanto o rapaz se perde cada vez mais. Entre o passado e o presente, o leitor se familiariza com os personagens que moraram na mesma casa, tinham origens variadas e expectativas diferentes. Bárbara foi uma vencedora, como o pai desejava.  Sem as mesmas oportunidades, Bárbara é admirada pelo desembargador, enquanto o rapaz desperdiçou todas as chances que teve e se afundou, para preencher o vazio e ter atenção dos pais.

No conto, gênero lido em uma sentada como defendia Edgar Allan Poe, o leitor conclui nos poucos minutos de leitura que para quem planeja e acredita nos sonhos, mesmo que não seja fácil, é possível conquista-los, enquanto quem têm tudo sem méritos, dificilmente valoriza o que têm. Além é claro, de que é mais fácil para alguém com apoio emocional conquistar uma carreira e ser feliz do que para outra em que a prioridade da família foi o trabalho ao invés do filho. O que Bárbara admirava na vida de Bruno, qualidade de vida e dinheiro, ela conquistou; enquanto Bruno, que já tinha uma boa vida, nunca teve o que Bárbara teve, o afeto dos pais. Assunto abordado pelo escritor que leva a reflexão do leitor.

Milton Avelar de Carvalho nasceu em 1961, na Fazenda das Posses, no município de Itaberaí, Goiás. Reside em Brasília, onde é funcionário do Banco do Brasil. Graduado em Letras pela Universidade Estadual de Goiás, escreveu diversos contos e crônicas. Em 2012, publicou o romance “Projeto Terra”. É afiliado ao Sindicato dos Escritores de Brasília.

*Ben Oliveira nasceu em 1989 e mora em Campo Grande (MS). Graduado em Jornalismo, blogueiro e escritor. 

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