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Destaques

Sobre Reler Livros

Reler um livro era como tocar um tecido que você já usou várias vezes, como se fosse pela primeira vez. A textura parecia diferente; o cheiro não era o mesmo; Era impossível não imaginar na palavra que circulava pela mente: diferente.  E por que esperar pelo impossível igual? O leitor não era o mesmo. Um intervalo de tempo considerável havia se passado. O personagem que costumava ser o favorito talvez agora seja outro. O texto que escreveria a respeito do livro talvez jamais fosse igual. Era um diferente leitor, um diferente livro, uma diferente interpretação. Ler pelo mero prazer era diferente de ler pensando na resenha que escreveria em seguida. Escolher o livro de forma aleatória era diferente de já tê-lo em mente. Reler era diferente de ler, mas sobretudo, era uma nova forma de leitura: os detalhes que antes não chamavam a atenção, agora pareciam brilhar nas páginas. Não estava no mesmo lugar em que estava quando o leu pela primeira vez. Sua pele não era a mesma, tampouco seu céreb

Resenha: Resposta Certa – David Nicholls

Terminei de ler o livro Resposta Certa, do autor David Nicholls, publicado no Brasil, em 2012, pela Editora Intrínseca, com tradução de Claudio Carina, 352 páginas. Pelo tanto de críticas positivas de diversos veículos jornalísticos, você imagina que o romance é tão engraçado quanto sugere, no entanto não foi esta a minha experiência. E não há nada mais frustrante do que criar uma expectativa, por causa dos textos de divulgação, quando ela não se cumpre!

O romance é voltado para o público young-adult (jovem-adulto). Aliás, tenho dificuldade em gostar de livros para esses leitores, a maioria costuma me parecer superficial demais, ficando no simples entretenimento, sem se aprofundar nos conflitos dos personagens – senti o mesmo descontentamento ao ler A Culpa é das Estrelas, do John Green, e Formaturas Infernais. A história se passa em 1985 e é narrada em primeira pessoa por Brian Jackson.

“Gosto da palavra experiência. Soa como andar de montanha-russa”

Brian acabou de entrar para a universidade e tem a oportunidade de realizar um sonho seu: o de participar do programa televisivo Desafio Universitário, um daqueles shows com várias perguntas de diferentes áreas de conhecimento. Então, ele e seus três amigos treinam para se darem bem.

Uma das meninas da equipe é Alice, a garota por quem Brian está apaixonado. O relacionamento entre os dois é tão superficial quanto à narrativa; ele tem 19 anos e teve poucas experiências com relacionamentos, já a jovem parece ter bastante experiência com rapazes.

Alguns dos conflitos do protagonista-narrador são: Ele está na universidade, mas tem dificuldades para fazer novos amigos e parece estar com vergonha de seus antigos amigos; a falta de dinheiro; a saudade do pai que morreu há anos e o contraste entre saber tantas informações para participar do Desafio Universitário, mas ser péssimo para lidar com questões do cotidiano sobre as emoções humanas.

“Tenho isso de vez em quando, a necessidade de me definir como uma coisa ou outra, e, em vários momentos da vida, já me perguntei se sou gótico, homossexual, judeu, católico ou maníaco-depressivo, se sou adotado ou tenho um buraco no coração, ou se tenho a habilidade de mover objetos com o poder da mente, e sempre, infelizmente, chego à conclusão de que não sou nenhum das alternativas acima. O fato é que, na verdade, não sou nada.”

A história do livro é previsível do início ao fim, o tipo de romance que não possibilita tantas reflexões e não transforma o leitor. Apesar das inúmeras referências literárias e musicais e de cada capítulo começar com uma pergunta e resposta, seu texto lembra mais um roteiro de alguma série televisiva sobre adolescentes, daquelas sem sal.

Confesso que esperava mais do livro. Talvez por ter esperado que Resposta Certa fosse tão bom quanto Um Dia (aliás, é só uma suposição de que seja bom, pois ainda não li o romance, só assisti ao filme!). Só não fiquei mais decepcionado com a obra porque a comprei numa promoção na Leitura. Está aí uma boa reflexão sobre livros best-sellers: Não é por que um livro vendeu bem ou está com um preço mais acessível que ele tenha qualidade literária.

Eu diria que o livro As Vantagens de Ser Invisível (Stephen Chbosky) é um versão bem light de O Apanhador no Campo de Centeio (J. D. Salinger). Logo, Resposta Certa poderia ser uma versão MEGA light de As Vantagens de Ser Invisível, com menos envolvimento emocional com o leitor e muito clichê. Não é o tipo de leitura que me agrada, mas pode ser que haja uma identificação com leitores que tenham a mesma idade do protagonista (ou não!).

“Será que existe uma razão para vida ser esse panorama contínuo de amizades arruinadas, oportunidades perdidas, conversas tolas, dias desperdiçados, comentários idiotas e impensados e piadas sem graça que ficam jogadas no chão à minha frente, contorcendo-se como peixes moribundos?”.

Entre os problemas retratados no romance estão as expectativas sobre o futuro; a maioridade e a transição entre a adolescência e a fase adulta. Se você gosta de comédias dramáticas e livros para jovens, pode ser que Resposta Certa te agrade; já no meu caso eu diria que a resposta é errada mesmo! É o tipo de livro que te faz rir por pena, com um humor destilado e quase nenhum impacto dramático. Um protagonista que não faz você amá-lo nem odiá-lo, simplesmente assisti-lo se comportando de forma patética, cometendo erros e os repetindo, talvez para dar um tom realista, mas acredito que nem mesmo os jovens do mundo real são tão apáticos e desligados assim.

Sobre o autor – David Nicholls é autor de Um Dia, best-seller mundial presente nas principais listas do país e que vendeu mais de 160 mil exemplares no Brasil. Nascido em 1966, em Hampshire, Inglaterra, e formado em literatura e teatro inglês, optou pela carreira de ator e recebeu uma bolsa da American Musical and Dramatic Academy de Nova York. Além de Resposta Certa, ele é autor do romance The Undestudy. David vive em Londres com a mulher e os filhos.

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