Não sei dizer quem foi que disse que os
livros são remédios para a alma. Aliás, creio que a afirmação não foi feita somente por um autor e seria muita ousadia dar crédito somente a uma pessoa por isso. Foi durante uma viagem a
Aquidauana (MS), na qual eu notei algo interessante:
livros estavam sendo vendidos dentro de uma farmácia.
Antes de chegar até a farmácia, eu passei por uma loja daquelas que vendem ‘tudo para casa’. Num canto estavam amontoados livros por apenas R$ 1,00. Como todo bom apaixonado por leitura que não resiste a uma promoção, mesmo que de livros usados, comecei a fuçar. Ainda que por um preço muito barato, não havia nenhuma obra que me interessasse, seja por não serem de literatura ou por serem de livros técnicos e teóricos que já estavam ultrapassados. Já estava me perguntando se existia alguma livraria no município, algum lugar onde os leitores da cidade pudessem consumir os últimos
lançamentos do mercado editorial.
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Farmácia de Aquidauana (MS) vende livros, desde literatura até best-sellers. Foto: Ben Oliveira. |
Mesmo tendo colocado em mente de que tiraria o fim de semana para relaxar e daria um tempo dos livros – já que me dedico à leitura e escrita de segunda a sexta, às vezes, até mesmo aos sábados e domingos –, fiquei encantado ao entrar numa farmácia e ver tantas obras sendo vendidas lá dentro.
Como não tinha entrado lá para comprar, me limitei a olhar os títulos que estavam sendo vendidos. Não havia parado para pensar como as pessoas das cidades do interior de Mato Grosso do Sul faziam para
consumir literatura. Comprar pelas lojas virtuais de livros deve ser uma opção, porém nada como poder olhar ao vivo, tocar e escolher o que vai ler.
Enquanto os preços de alguns livros estavam um pouco acima do normal, talvez pela quantidade menor vendida, outros estavam no mesmo padrão dos livros vendidos em mercados, lojas, livrarias e sebos de onde eu moro, Campo Grande (MS). Percebi que a maioria dos livros era de edição econômica, porém para quem gosta de promoções e está mais interessado no conteúdo do que na qualidade do papel, pouca diferença faz se é paperback ou não.
Fiquei imaginando a cena. Moradores da cidade comprando livros junto com remédios. Perguntei-me se teria alguma história recomendada para
aliviar as aflições da alma. Que os livros nos fazem bem, nunca tive dúvidas. Será que algumas leituras eram recomendadas com precaução? Não exceder o limite de tal quantidade de páginas por dia. Com o risco do efeito colateral: Preferir ficar dentro do mundo das histórias do que viver no mundo real.
Diante do
baixo índice de leitura do brasileiro, gostei muito de a farmácia ter deixado um espaço para a venda dos livros. Acredito que ainda não inventaram melhor remédio do que a literatura para combater a ignorância.
Muitas iniciativas têm sido realizadas em capitais e cidades do interior do Brasil para incentivar a leitura. Há lugares em que os livros podem ser lidos e emprestados nos pontos de ônibus. Aqui em Campo Grande (MS), além das bibliotecas públicas e particulares, há um
açougue que montou uma biblioteca para emprestar os livros para os clientes.
Esta popularização de locais para venda e empréstimo de livros pode causar estranhamento em algumas pessoas, da mesma forma que existe o preconceito com a leitura de best-sellers. Porém, diante da necessidade de melhorar a educação do brasileiro e de prevenir e tratar a preguiça de ler, creio que tornar mais acessível o contato com a literatura é uma ótima medida, para possibilitar esta
metamorfose de não-leitor para leitor.
Segundo uma reportagem do acervo do
Estadão, em 1971, o ex-presidente Costa e Silva baixou um decreto permitindo a venda de livros em farmácias, mas a ideia não foi bem sucedida como se esperava. Uma das vantagens apontada seria um local alternativo para compra de livros, principalmente em bairros que não tinham livrarias em São Paulo.
Ainda para complementar o texto. Na pesquisa
Retratos da Leitura no Brasil, realizada pelo Instituto Pró-Livro, em 2011, 5.012 entrevistas foram realizadas em 315 municípios de todos os Estados brasileiros. É importante ressaltar que só foi considerado leitor quem lia 1 livro a cada 3 meses. Dos 48% dos leitores que compram livros:
- 65% Livrarias
- 18% Bancas de Jornal e Revista
- 11% Sebos
- 6% Vendedores Ambulantes
- 5% Supermercados
- 5% Lojas de Departamentos
- 4% Outros locais
Logo, o número de leitores que compram livros em pontos alternativos (que não sejam livrarias) é de aproximadamente 50%. Esta
democratização da leitura é fundamental para o país. Independente de vender livros em farmácias do interior não ser tão lucrativo – o que não posso afirmar, pois não tenho os dados –, como bom leitor-escritor não pude deixar de ficar maravilhado com a iniciativa.
“Quem é que vai comprar livros numa farmácia?”, você pergunta. Em cidades que não têm livrarias e muitos pontos de vendas de livros, não importa se é na farmácia, na feira, no mercado, desde que tenha a opção do leitor poder consumir literatura, independente de ser clássica, contemporânea ou best-seller.
Nada como aquela sensação de esquecer os problemas por algumas horas, de entrar na pele dos personagens, encarar seus conflitos, lidar com suas perdas e comemorar suas vitórias e ao final do livro adquirir novos conhecimentos e informações, aumentar sua percepção sobre a vida e sentir aquela
catarse, como se a alma tivesse se limpado e livrado de tudo aquilo que a faz mal.
E você, já tomou o seu remédio hoje?
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