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Destaques

Para onde vão todas coisas que não dissemos?

Para onde vão todas coisas que não dissemos? Essa é uma pergunta que muitas pessoas se fazem. Algumas ficam presas dentro de nós. Outras conseguimos elaborar em um espaço seguro, como a terapia. Mas ignorar as coisas, muitas vezes pode ser pior. Fingir que as emoções não existem ou que as coisas que não aconteceram não faz elas desaparecerem. Quando um relacionamento chega ao fim, pouco importa quem se afastou de quem primeiro. Mas há quem se prende na ideia de que se afastou antes – em uma tentativa de controlar a narrativa, como se isso importasse. O fim significa que algo não estava funcionando e foi se desgastando ao longo do tempo. Nenhum fim acontece por mero acaso. Às vezes, quando somos levados ao limite, existem relações que não têm salvação – todos limites já foram cruzados e não há razão para impor limites, somente aceitar que o ciclo chegou ao fim. Isto não significa que você guarde algum rancor ou deseje mal para a pessoa, significa que você decidiu por sua saúde mental em...

Resenha: Zon: O Rei do Nada – Andrei Simões e Lupe Vasconcelos

O livro Zon: O Rei do Nada, do autor Andrei Simões e ilustrações de Lupe Vasconcelos, de 239 páginas, foi publicado em 2013, pela Editora Empíreo. A obra de Literatura Fantástica me surpreendeu por causa da criatividade do escritor que construiu uma narrativa rica em metalinguagem, intertextualidade e reflexões, dando um bom exemplo de como o gênero literário pode ser explorado, proporcionando uma viagem filosófica, literalmente, pelos recantos da mente humana.


Zon é o nome do protagonista do livro, descrito como um parasita de mentes. Sua história é narrada por Aquele Que Escreve e para que ele exista, se faz necessário Aquele Que Lê. O que isso nos faz pensar? O personagem principal é consciente de que ele é um personagem, e sem o escritor e o leitor – não bastaria que sua história fosse escrita (texto) e guardada em uma gaveta trancada – ele não existiria: esta tríade é fundamental para que a obra literária se torne viva, haja interação e possa ser analisada.

“Zon é como toda personagem, um parasita. Existirá enquanto lembrarem dele, toma a forma de quem o imagina; seu rosto se torna um reflexo de quem lê”.trecho de Zon: O Rei do Nada.

A obra está dividida em várias histórias que se entrelaçam que poderiam ser vistas como episódios ou contos. A criação de Zon é tão complexa, que não cabe aqui a tarefa de tentar classificá-la, mas abordar um pouco do que o leitor pode encontrar ao mergulhar nesta leitura. Outro ponto que chama a atenção logo no início são as artes de Lupe Vasconcelos: cada peça dialoga com uma sinergia extraordinária. Vale a pena ficar atento aos traços, aos símbolos, bem como ao tema recorrente do início ao final do livro: o reflexo (espelho).

Na introdução do livro, o autor descreve Zon: o personagem, a obra e por conseqüência a experiência que o leitor terá ao entrar neste universo de espelhos retorcidos, de descobertas e redescobertas do que é viver e divagações de alguém que grita pela sua inexistência, toda construída em torno de paradoxos, como criatura e criador; criação e destruição; verdade e mentira; realidade e ficção, entre outros que perpassam as diversas narrativas.

“Anulamos as existências dos outros por nunca estarmos em órbita com a nossa própria”. – trecho de Zon: O Rei do Nada.

Como todo parasita, Zon precisa de outras criaturas para continuar existindo. A ideia de que dentro de um espelho e seu reflexo, há uma série de outras realidades, amplia ainda mais as possibilidades de leitura, de construção de sentido e pontes com outras obras da literatura, bem como com as memórias e experiências do próprio leitor. Afinal, ao recontar a própria história, todo ser humano está fadado a fabular, a dar sua visão e consequentemente transformar sua vida em narrativa – como um reflexo, uma representação, algo que se assemelha ao real, mas passou por uma série de filtros subjetivos.
`Para quem ficou curioso sobre as ilustrações, aqui vai uma arte da Lupe Vasconcelos. Foto: Ben Oliveira.
Antes de entrar neste labirinto fictício, o leitor conhece Zon, professor e artista, um homem de 41 anos frustrado com o rumo de sua carreira. Certo dia, ele repara o próprio reflexo, seus olhos sem vida e percebe que há outro Zen o encarando. Desta epifania surge o desenrolar da trama. Uma história dentro de outras histórias, um personagem real e sua autoficção, a arte dançando com a literatura. Da insatisfação consigo mesmo, cresce em Zon a vontade de continuar existindo e não deixar tudo o que já foi desaparecer. Então, o herói entra numa jornada metafísica.

“Nesse dia o espelho era o abismo. Os olhares se cruzaram por um momento, e um se viu no outro, mas o outro não era um, e esse um não era outro, apesar de um ser reflexo e o outro ser o que era.” – trecho de Zon: O Rei do Nada.

Nos mundos visitados por Zon, o leitor encontrará dragões, memórias, sonhos e demais elementos que se relacionam com a mitologia, misticismo, filosofia, arte e, claro, com a própria literatura. Não há como não se deixar incomodar pelo estranhamento proporcionado pelo livro, revirar lembranças, cutucar as feridas da alma e inquietações que surgem ao longo de nossas existências, principalmente, se somos artistas e lidamos com os momentos de bloqueio criativo, de mediocridade e demais desafios: afinal, a arte da escrita, muitas vezes, nasce desta alquimia da dor.

“A serpente de Ouroboros de si é a busca de cada ser que pensa” trecho de Zon: O Rei do Nada.

Se o ser humano tem esta necessidade de criar signos, entender a origem dos diversos acontecimentos e elementos que nos transformam, nos envolvem e precisamos aprender a lidar desde o dia em que nascemos até nossas mortes, Zon nos direciona para lugares misteriosos, oníricos, fictícios, em uma jornada de muita reflexão.

Andrei Simões com sua flexibilidade da escrita e múltiplos gêneros e temáticas que se dialogam fazem até parecer algo fácil, tamanho o seu domínio e confiança – habilidade de quem tem um profundo contato com outras leituras, para fundir e subverter sua literatura de acordo com suas intenções. Não tem como não admirar como o autor conseguiu transformar um assunto tão hermético em algo tão gostoso de ler! Fica o convite para quem desejar mergulhar neste mundo de espelhos. Cuidado para não se perder pelos labirintos da alma.

Sobre os autores:

Andrei Simões – É biólogo e um dos autores de destaque da nova geração de escritores do país. Amante das artes e da ciência, o paraense procura, por meio de seus textos, subverter a literatura fantástica e provocar uma profunda reflexão no leitor, usando como instrumentos temas ocultos, místicos e filosóficos.

Lupe Vasconcelos – É arista e ilustradora. Graduada em Artes Visuais, ilustrou diversos livros infantis e coletâneas de quadrinhos, e recentemente tem se dedicado a projetos de natureza mais autoral e pessoal. Nascida em Goiás, Lupe hoje vive em Teresópolis (RJ).

Sobre a editora – A Editora Empíreo surgiu com a missão de publicar literatura de qualidade e rica em cultura que edifique seus leitores usando os mais variados temas e formatos. A partir do latim Empyreus, uma adaptação do grego antigo, “dentro ou sobre o fogo (pyr)”, Empíreo é o mais alto dos céus, o local reservado para as divindades e para a perfeição.

O que acharam da recomendação de leitura? Espero que tenham gostado! 

PS: Não custa ressaltar que Zon é Literatura Nacional. Se você apoia escritores brasileiros, não deixe de adquirir o seu exemplar.

Zon pode ser comprado no site da Editora Empíreo, Livraria Saraiva, Americanas e Livraria Cultura. O livro também está presente no Skoob – Maior Rede Social para Leitores do Brasil!   

*Este livro foi enviado como cortesia da Editora Empíreo devido à parceria com o Blog do Ben Oliveira. Se você gostou da dica, não deixe de recomendar a postagem para seus colegas, amigos e demais interessados em Literatura, para que eu possa continuar trazendo mais novidades e resenhas de livros.

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