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Destaques

Sobre Reler Livros

Reler um livro era como tocar um tecido que você já usou várias vezes, como se fosse pela primeira vez. A textura parecia diferente; o cheiro não era o mesmo; Era impossível não imaginar na palavra que circulava pela mente: diferente.  E por que esperar pelo impossível igual? O leitor não era o mesmo. Um intervalo de tempo considerável havia se passado. O personagem que costumava ser o favorito talvez agora seja outro. O texto que escreveria a respeito do livro talvez jamais fosse igual. Era um diferente leitor, um diferente livro, uma diferente interpretação. Ler pelo mero prazer era diferente de ler pensando na resenha que escreveria em seguida. Escolher o livro de forma aleatória era diferente de já tê-lo em mente. Reler era diferente de ler, mas sobretudo, era uma nova forma de leitura: os detalhes que antes não chamavam a atenção, agora pareciam brilhar nas páginas. Não estava no mesmo lugar em que estava quando o leu pela primeira vez. Sua pele não era a mesma, tampouco seu céreb

Resenha: Leon – Felipe Sales Mariotto

Durante esta semana li o novo livro do autor Felipe Sales Mariotto, Leon, de 236 páginas, publicado pela Chiado Editora, em 2015. O romance conta a história do jovem Leon, sua mudança para o Rio de Janeiro, onde começou a estudar Medicina e as transformações que acontecem em sua vida. Do garoto que cresceu na fazenda para o rapaz cobiçado por homens e mulheres por causa de sua beleza.


As personalidades dos personagens principais são uns dos pontos que mais chamam a atenção do leitor, pois tanto o protagonista quanto os outros são movidos pelos seus impulsos – o lado animal acaba se sobrepondo a racionalidade, tornando-os voláteis e capazes de qualquer coisa para conseguir o que desejam.

O romance é narrado em terceira pessoa pelos personagens principais, como Leon, Arthur e sua família, com o qual o protagonista passa a ter mais contato à medida que o relacionamento se aprofunda com o colega da faculdade. Leon fica fascinado pelo luxo e conforto da família carioca e logo acaba se aproximando tanto deles, que é convidado para morar na mesma casa com eles.

“Beijou seu corpo por diversas vezes e teve pela primeira vez de admitir que sentia muito mais desejo por homens do que por mulheres. Tinha uma vontade insana de agarrá-lo e sentir cada pedaço do seu corpo. Queria beijá-lo até os lábios adormecerem”.

Quando tudo parece melhorar na vida de Leon, ele se vê puxado para todas as direções: a beleza do rapaz, uma benção para alguns, para ele, é como uma maldição. O jovem ingênuo acaba entrando em diversos jogos de interesse, sempre cercado por pessoas com segundas intenções. Todo mundo tenta tirar uma casquinha de Leon.

As tensões dramáticas vividas pelos personagens, seus conflitos e transformações são intercaladas com momentos de erotismo. Assim como em seu primeiro romance A Festa, Felipe Sales Mariotto descreve cenas sexuais, explorando o prazer do corpo e os limites (ou a falta deles) dos personagens ambiciosos que querem sempre mais e ficam cegos de desejo, sem se preocupar com as emoções e consequências de suas ações.

“Você é doido!”. Leon nadou bem rápido até ele. Ficou pelado também, sem que ninguém pudesse vê-los. Era tão boa a sensação de liberdade e sintonia com o todo que sentiam nada completamente nus. Quando se aproximou do namorado, mergulharam juntos e se beijaram sob a água”.

Para quem gosta de livros com temática gay, o livro Leon aborda as descobertas e aceitações da homossexualidade (ou bissexualidade), principalmente do protagonista com seus próprios preconceitos trazidos da vida no meio rural. Ao mesmo tempo em que Leon tem suas curiosidades e tudo é tão novo e fascinante para ele, o rapaz não é tão ingênuo como tenta transparecer.
Outro ponto interessante do livro é a inserção dos poemas escritos pelo personagem. Este diálogo entre gêneros literários dá ao leitor outra forma de entrar em contato com as emoções de Leon e uma alternância no ritmo da leitura.

“Faltava-lhe privacidade até para pensar. Começou a sentir tanta saudade dos pais, que chorou em silêncio, parecendo uma criança angustiada que tinha se perdido há pouco tempo em meio à multidão”.

Leon explora um drama bem pós-moderno, no qual os limites acabam se perdendo e os pólos se misturam. Há uma tentativa de criticar a efemeridade dos desejos e escolhas impensadas, com uma pitada de humor, e ao mesmo tempo uma atração inevitável dos personagens pelo profano – algo como uma tentativa de se buscar a inocência e o amor, mesmo que as ações mostrem o contrário. As projeções e expectativas sobre a aparência ofuscam as identidades dos personagens que por trás das máscaras se escondem pessoas frágeis.

Felipe criou personagens com mais vícios do que virtudes. Em alguns instantes fica difícil criar empatia e ter compaixão pelos seus sofrimentos diante de tantas ações impulsivas. Assim como na vida, todo mundo quer ser feliz, mas alguns acabam trilhando uma jornada de autodestruição, seja conscientemente ou inconscientemente. Para o bem ou para o mal, tudo muda e os personagens encaram seus próprios reflexos e suas tão esperadas e inesperadas resoluções de conflitos.

Sobre o autor – Felipe Sales Mariotto, nascido em 18 de janeiro de 1980, na cidade do Rio de Janeiro, médico (formado pela UFRJ), com pós-graduação em dermatologia, medicina e cirurgia estética e saudade de família, iniciou a carreira de escritor em 2014, seguindo os inquietantes anseios de transformar em realidade seus maiores sonhos.


“A máxima que rege minha vida é: a consciência é o limite da liberdade. Tento agir conforme minhas verdadeiras convicções e intuições, buscando a sintonia com a energia suprema que sinto habitar em mim e em tudo. Seguindo este caminho, tenho a certeza que jamais estarei me desrespeitando, pois ele é baseado em atitudes verdadeiras, livres dos ecos da mente e dos desejos alheios. Sei, entretanto que nem sempre é simples conseguir descortinar quem se é por inteiro, pois existem muitas influências externas que nos cercam. Porém, não custa nada tentar calar essas tantas bocas que insistem em palpitar sobre o que não lhes dizem respeito. Estar pleno a cada instante, totalmente presente, é a chave da felicidade desmotivada, que jamais se venderá, visto que é ciente do seu valor inestimável.

Não me vejo como um rótulo. Não quero ser o médico, o escritor, o aventureiro, isso ou aquilo. Estou em constante transformação, com o coração aberto para novas paixões, pronto para desbravar o desconhecido, e livre para apreciar a grandeza que se esconde mesmo nas coisas mais simples. Quando o caminho trilhado é feito com amor, as portas parecem escancaradas para a concretização dos maiores sonhos”.

O livro Leon está sendo vendido no site da Livraria Travessa e na livraria da Chiado Editora.  

Leon já está presente no Skoob: http://www.skoob.com.br/livro/529407ED537674 

Para ficar por dentro das novidades do escritor Felipe Sales Mariotto, curta sua página no Facebook: https://www.facebook.com/fsmliteratura 

Comentários

  1. Bom dia.
    Tambem li os dois livros de Felipe Sales Mariotto e achei interessante sua resenha sobre Leon. Apesar de abordarem tematicas diferentes, estao entrelacados a partir do momento em que ambos se suportam na beleza e colocam em publico mais algumas literaturas GLS das quais a sociedade esta em deficit visto que sao muito pouco divulgadas e a tematica gay, infelizmente, mesmo hoje, nao e tao facil de ser bem aceita.
    Gostei do ponto que fala sobre a critica das "efemeridades dos desejos e escolhas impulsilvas", ponto que realmente e muito importante. A internet e a comunicacao facilitada fizeram dos encontros e a da beleza de estarmos compartilhando um momento com outra pessoa algo extremamente superficial e limitado a sexo e a impulsividades.
    Parabens pela resenha, ficou realmente muito boa. So achei uma caracteristica muito legal do autor que voce esqueceu de comentar e acredito que seria um ponto interessante para ressaltar que e a comunicacao entre os dois livros. No momento nao lembro quem exatamente, mas acho que foi o Italo (livro a festa) que esta no mesmo ambiente ou interage com algum personagem do livro Leon. Infelizmente nao lembro quem sao eles ou da situacao especifica, no entanto gostei muito disso e é uma caracteristica bem unica desse autor. Ate agora nao li nenhum livro que fizesse algo do tipo.

    ResponderExcluir
  2. Bom dia.
    Tambem li os dois livros de Felipe Sales Mariotto e achei interessante sua resenha sobre Leon. Apesar de abordarem tematicas diferentes, estao entrelacados a partir do momento em que ambos se suportam na beleza e colocam em publico mais algumas literaturas GLS das quais a sociedade esta em deficit visto que sao muito pouco divulgadas e a tematica gay, infelizmente, mesmo hoje, nao e tao facil de ser bem aceita.
    Gostei do ponto que fala sobre a critica das "efemeridades dos desejos e escolhas impulsilvas", ponto que realmente e muito importante. A internet e a comunicacao facilitada fizeram dos encontros e a da beleza de estarmos compartilhando um momento com outra pessoa algo extremamente superficial e limitado a sexo e a impulsividades.
    Parabens pela resenha, ficou realmente muito boa. So achei uma caracteristica muito legal do autor que voce esqueceu de comentar e acredito que seria um ponto interessante para ressaltar que e a comunicacao entre os dois livros. No momento nao lembro quem exatamente, mas acho que foi o Italo (livro a festa) que esta no mesmo ambiente ou interage com algum personagem do livro Leon. Infelizmente nao lembro quem sao eles ou da situacao especifica, no entanto gostei muito disso e é uma caracteristica bem unica desse autor. Ate agora nao li nenhum livro que fizesse algo do tipo.
    Desculpem pela falta de pontuacao nas palavras, mas escrever no ipad e algo muito limitado!

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  3. Bom dia.
    Tambem li os dois livros de Felipe Sales Mariotto e achei interessante sua resenha sobre Leon. Apesar de abordarem tematicas diferentes, estao entrelacados a partir do momento em que ambos se suportam na beleza e colocam em publico mais algumas literaturas GLS das quais a sociedade esta em deficit visto que sao muito pouco divulgadas e a tematica gay, infelizmente, mesmo hoje, nao e tao facil de ser bem aceita.
    Gostei do ponto que fala sobre a critica das "efemeridades dos desejos e escolhas impulsilvas", ponto que realmente e muito importante. A internet e a comunicacao facilitada fizeram dos encontros e a da beleza de estarmos compartilhando um momento com outra pessoa algo extremamente superficial e limitado a sexo e a impulsividades.
    Parabens pela resenha, ficou realmente muito boa. So achei uma caracteristica muito legal do autor que voce esqueceu de comentar e acredito que seria um ponto interessante para ressaltar que e a comunicacao entre os dois livros. No momento nao lembro quem exatamente, mas acho que foi o Italo (livro a festa) que esta no mesmo ambiente ou interage com algum personagem do livro Leon. Infelizmente nao lembro quem sao eles ou da situacao especifica, no entanto gostei muito disso e é uma caracteristica bem unica desse autor. Ate agora nao li nenhum livro que fizesse algo do tipo.
    Desculpem pela falta de pontuacao nas palavras, mas escrever no ipad e algo muito limitado!

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    Respostas
    1. Olá, Leanderson!
      Obrigado pela visita e comentário.
      Não me lembro deste personagem. Infelizmente, se existe mesmo, passou despercebido por mim na leitura kkkkk São muitas leituras, tornando difícil se lembrar de tudo. Obrigado por compartilhar a informação.
      Abraços

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  4. Pelo jeito os personagens são bem amorais, humanos e bem ricos. Deve ser uma ótima leitura. Excelente dica, como sempre.

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    Respostas
    1. Oi, Ronaldo! Para quem gosta de personagens-problema, os livros do Felipe Sales Mariotto sempre trazem essas criaturas que apimentam a trama com suas obsessões e ambições.
      Grato pela visita. Seus comentários são sempre bem-vindos.
      Abraço

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