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Destaques

Cassandra: Série alemã thriller sobre uma perigosa casa inteligente

A série alemã Cassandra mal estreou e fez certo sucesso na Netflix . Com uma trama envolvendo uma casa inteligente (smart house), a série mostra um cenário desastroso no qual uma família se torna vítima das ações fora de controle de um projeto sobre transferência de consciência conectada em todos pontos e nos quais, eles estão sempre sendo observados. O que mais me chamou a atenção na série foi conferir que ela se passa em dois tempos e como a tecnologia foi implementada no passado, apesar de não focarem muito nisso. Diferente do foco ser na tecnologia aplicada, acaba se tornando os elementos humanos que serviram de espelho para sua criação, uma mulher motivada pela necessidade de controle e vingança. A série toca em alguns pontos, como a manipulação (gaslighting), fazendo a mãe da família achar que está ficando louca e sendo duvidada pelos outros, enquanto eles se tornam, literalmente, reféns de sua própria casa. Apesar de ter um estilo mais retro, a série ganha atenção do público p...

Crônica: Entrelaçar

A saudade vem corroendo pelos cantos até atingir o meu centro. Nossas palavras que antes pareciam capazes de ultrapassar as telas, agora esbarram na bolha cinza que se formou ao meu redor. As tintas que você usou para pintar nosso quadro começam a desaparecer, implorando por um retoque que só suas mãos sabem dar e nenhum outro artista seria capaz de reproduzir o seu estilo, marcado por seu amor, carinho e cuidado com os detalhes.


Lembra-se de quando você nos desenhou? Não é preciso ser nenhum artista para compreender os rabiscos movidos pelo coração. Eu acreditei em cada traço seu. A imagem que você deu vida já existia em minha mente e agora anseia por uma oportunidade de se redesenhar com nossos tecidos, fluídos e fragmentos. O conto que me pediu para escrever não quer ser colocado no papel... É o medo de que eu não precise lembrar e relembrar nossa história, como faço todos os dias.

Quando minhas mãos deslizam pelos seus pés, sinto a areia esfoliando nossas peles. Você está deitado no meu peito, escutando o meu coração, enquanto eu leio uma história. Não importa se é fantasia, romance ou ação, tampouco é preciso fechar os olhos para imaginar, a magia está toda no ato, em como nossas narrativas se costuraram. A leitura é só um pretexto para que nossos corpos fiquem colados, como uma escultura, fundidos de maneira que ao tentar separar um do outro, ou a obra permanece intacta ou ela se perde por completo.

Vejo através da janela as aves sobrevoando a casa, invejando o ninho que fizemos com o lençol e a maneira que nossas pernas estão entrelaçadas, como duas plantas de diferentes espécies que escolheram retorcer seus galhos para não se separarem mais. Há um instante, no qual se você ficar bem quieto pode escutar nossas respirações sincronizadas e esta melodia se torna minha trilha sonora favorita. Da sua pintura escorregamos na escrita, deslizamos pela leitura e nossas sinapses se conectaram, provocando uma união de nossos fragmentos. A linha do eu se dissolve e as cores começam a tomar vida novamente – é como assistir a um filme de trás para frente –, os traços já não são desconectados e formam um novelo de algas que não se desprendem nem quando as ondas se quebram.

Você sorri. Suas mãos ágeis grafitam nossos corpos, os elementos centrais em sua peça. Rabisco por rabisco, acompanho o desenho ganhando forma... Nossos rostos são sutis, não é preciso muito para saber que somos nós ali. Um desejo, um sonho, um devaneio... Meus pensamentos se voltam para o litoral, onde tudo começou em outra vida e onde tudo vai se repetir nessa. Perdi a conta de em quantos universos nós nos reencontramos. Desisti de tentar te convencer que se não fosse para ficarmos juntos nesta jornada, em outra teria outra versão de nós dois. Se eu pudesse escolher mil vezes, mil vezes eu escolheria você.

A história de tanto ser contada começa a perder seu esplendor. Te seguro nos meus braços, olho bem nos seus olhos e ao invés de dizer que não quero mais te soltar, te peço para nunca mais me deixar ir – quero trapacear, colocar reticências, cair na tentação de nos reinventar eternamente. A câmera volta para os seus olhos e a imagem congela. Seguro o desenho e tento me transportar para aquele instante. Quem olha por fora imagina que se trata de um delírio do escritor, mas nós dois sabemos que tudo foi real. Pouco importa os espectadores, decidimos cruzar nossos lápis e deixar o grafite se esfarelar em uma só composição.

Os textos me condenam. Eles quiseram apagar seus precursores. Todos os floreios, todas aquelas tentativas de criar romances do ordinário foram água abaixo, desde que nos falamos pela primeira vez. Me enganei quando quis acreditar que almas gêmeas não existiam ou que para amar era preciso se contentar com as bagagens pesadas que sempre tentam nos afundar. Estou aqui deitado, esperando pela hora em que você virá encostar sua cabeça no meu peito e juntos vamos resistir às sereias, às aves, às ondas e tudo mais o que possa tentar rasgar nossa pintura.

Meus pés criaram raízes junto aos seus, enquanto nossos corações voam lado a lado. Eu te abraço e sussurro no seu ouvido que eu não quero passar um dia da minha vida sem você. Você me olha nos olhos e vejo o feitiço recomeçando: nós congelamos naquele instante em que eu desejei que nunca fosse acabar, esperando pelo momento em que nossas mãos vão se segurar novamente e nunca mais vão se soltar.

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