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Destaques

Para onde vão todas coisas que não dissemos?

Para onde vão todas coisas que não dissemos? Essa é uma pergunta que muitas pessoas se fazem. Algumas ficam presas dentro de nós. Outras conseguimos elaborar em um espaço seguro, como a terapia. Mas ignorar as coisas, muitas vezes pode ser pior. Fingir que as emoções não existem ou que as coisas não aconteceram não faz elas desaparecerem. Quando um relacionamento chega ao fim, pouco importa quem se afastou de quem primeiro. Mas há quem se prende na ideia de que se afastou antes – em uma tentativa de controlar a narrativa, como se isso importasse. O fim significa que algo não estava funcionando e foi se desgastando ao longo do tempo. Nenhum fim acontece por mero acaso. Às vezes, quando somos levados ao limite, existem relações que não têm salvação – todos limites já foram cruzados e não há razão para impor limites, somente aceitar que o ciclo chegou ao fim. Isto não significa que você guarde algum rancor ou deseje mal para a pessoa, significa que você decidiu por sua saúde mental em pri...

Crônica: Sincronizar

Escrevo o texto que se recusa a ser escrito. Ele tem medo de que as palavras desgastem as memórias e não sejam suficientes para recriar os momentos. O texto está certo. A história, apesar de real, pareceria ficção. Quando duas almas se reencontram e basta um abraço para que os seus universos se fundam, tudo parece tão natural e certo que assusta.


Caminho de cabeça baixa. Ele não veio. Coloco as mochilas nas costas e os pensamentos pesam mais do que a bagagem. Olho para um rapaz sentado... Penso em surpreendê-lo, até o momento em que noto a figura de outro caminhando até mim. Sinto como se o véu fosse removido; A visão que estava embaçada se torna nítida: vejo as cores, as luzes e meu olhar se fixa em seu rosto. Lembro-me de um amigo dizendo que algumas pessoas são como obras de arte e não precisam fazer o mínimo esforço para serem notadas.

Desvio o olhar. Se eu continuar observando-o, temo que posso nunca mais querer sair dali e me tornaria um fantasma da rodoviária. Continuamos andando. O silêncio não é estranho e parece ser necessário que eu disfarce a naturalidade que sinto em sua presença.

– Faz tempo que você está aqui me esperando?

– Há uns vinte minutos...

Peço desculpas pelo atraso. Queria entrar no ônibus e fingir que aquele encontro nunca aconteceu. Queria dizer que nunca havia visto criatura tão bela e como havia perigo em pensar isso sobre alguém. Queria... Penso em como isso poderia me desequilibrar, em como sua ausência me deixaria triste, em como seria melhor se continuarmos no terreno da amizade. Entro no carro e ele começa a dirigir. Está chovendo.

A chuva me trouxe, a chuva me levou. Dentro de mim, o sol e a lua brilham, independente das nuvens pesadas. Arrepio só de me lembrar, mas estou divagando e o leitor precisa entender: há o medo do escritor de não narrar com verossimilhança sua história. Veja bem, a ficção tenta imitar o real; mas quando o real parece uma invenção, é preciso ter cuidado para que as palavras não se quebrem como vidros, cortando minhas mãos, meu peito, minha alma... Sangue só no papel, como tinta que é bombeada pelo meu coração e dança para cada canto do meu corpo. Você escuta as ninfas da inspiração? Elas riem como crianças travessas, se deliciando com os efeitos que causam em mim ao pensar nele.

Enquanto dirijo, vejo a história se desenhar dentro de mim. Que o leitor não confunda os tempos, a linha é bem afiada e a qualquer momento ela pode extravasar as emoções. Quando nossos reinos se fundiram, a linha do tempo já não era mais linear e o espaço se tornou um só – o mapa se redesenhou e a bússola sempre aponta para nós dois. A distância não parece nada e, ao mesmo tempo, ela provoca um aperto no peito, como se a qualquer momento eu fosse parar de respirar. Ao se abrir ao universo, para as coisas boas da vida, também me tornei mais vulnerável. Fui infectado pelo seu amor e ele se espalhou para todas as células do meu corpo, me dominando por dentro e por fora, perto e longe, mente e coração.

Abro bem os olhos. Preciso ter certeza de que estou aqui ou posso me acidentar a qualquer minuto. Minha mente insiste em viajar para ele e, às vezes, tenho a sensação de que estou lá e que posso enxergar através dos seus olhos dourados. É só o pequeno preço que se paga ao deixar sua alma tocar outra... Seus fragmentos estão espalhados por todos os meus pelos e eu te entreguei o rabisco da crônica de um romance que queria ser um conto, esperando que tudo não se acabasse em drama ou novela. No nosso pacto, minha escrita quis casar com sua arte e se imortalizar no universo. É como se cada oportunidade que tivéssemos de nos unir, nós nos déssemos as mãos e corrêssemos para a mesma direção. Para onde esta trilha vai nos levar? Pouco importa, desde que estejamos juntos.

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