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Destaques

Dez Minutos

“Dez minutos da sua atenção”, era tudo o que ele pedia, sem imaginar o quanto o dia tinha sido horrível, sem imaginar que a qualquer momento poderia chorar. Dez minutos que poderiam mudar sua maneira de enxergar as coisas. Dez minutos para perceber que ele estava certo, que quando alguém queria te ver, a pessoa dava um jeito. Dez minutos para se reencontrarem após dois meses sem se verem. Foi andando encolhido até ele. Com vergonha de como estava uma bagunça naqueles dias. Com receio de suas intenções e de como reagiria a tudo aquilo. Dezembro havia sido um mês longo sem terapia e os dias após a virada do ano também não tinham sido os melhores.  “Como era bom ser normal e poder fazer as coisas, sem ser visto como um sintoma”, pensou. Surpresas poderiam gerar mais ansiedade, tudo o que estava evitando naquele momento, mas se colocou no lugar do outro e mesmo com todos seus instintos dizendo não, cedeu ao inesperado pedido de visita. Era uma noite quente e por alguns minutos, quase t...

Resenha: Grande Magia – Elizabeth Gilbert

Todo artista precisa sofrer? No livro Grande Magia: Vida Criativa Sem Medo (Big Magic), de 192 páginas, publicado no Brasil pela Editora Objetiva, em 2015, Elizabeth Gilbert procura desmistificar a questão do gênio criativo e sua relação com o mal-estar, assunto tão comum no meio artístico que acaba sendo associado com naturalidade. Para a escritora norte-americana que ficou conhecida mundialmente graças ao seu best-seller Comer, Rezar, Amar (Eat, Pray, Love), o caminho para a criatividade deve ser livre de excesso de julgamentos que podem levar ao adoecimento da mente.

Livro Grande Magia Elizabeth Gilbert Editora Objetiva

Não é a primeira vez que Elizabeth Gilbert comenta abertamente sobre a questão. Após escrever o seu livro de memórias de sua jornada pela Itália, Índia e Indonésia, ela foi convidada a palestrar no TEDTalks e compartilhou como sua carreira de escritora mudou após escrever a obra que foi sucesso de vendas. Em seus relatos autobiográficos após um divórcio, Liz tenta recuperar o seu equilíbrio no mundo com a ajuda de práticas de meditação indiana e balinesa, restaurante a paz e saúde do seu corpo, mente e coração – busca que ela continuou tentando aplicar em sua vida criativa, mesmo de volta aos Estados Unidos e a inspirou a escrever este livro.

“A primeira coisa a fazer é esquecer a perfeição. Não temos tempo para a perfeição. De qualquer forma, ela é inatingível: é um mito, uma armadilha, uma roda de hamster que vai fazê-lo correr até morrer”.

Grande Magia não é um livro voltado só para escritores, mas para qualquer pessoa que pratique alguma atividade criativa e/ou artística. Elizabeth Gilbert fala sobre a necessidade de se permitir ter algo que nos dê prazer, mesmo que isto signifique não poder tirar qualquer fonte de renda disto. Fugindo da linha dos artistas que recomendam a miséria e a dor para produzir emoções reais e produzir ‘verdadeiras obras de arte’, a autora afirma que é possível, sim, desenvolver a criatividade, ter um ofício e não deixar isto consumi-lo, caso não venha a obter o sucesso esperado.

O livro está dividido em seis partes que se inter-relacionam: Coragem, Encantamento, Permissão, Persistência, Confiança e Divindade. Cada um desses tópicos é discutido, seja por meio de experiências da própria autora, por exemplos de colegas artistas e pessoas que decidiram apostar em uma vida criativa ou através de citações e histórias de indivíduos que abraçaram o seu gênio criativo – tanto cultivando o lado positivo quanto apostando suas fichas nos seus demônios interiores e se entregando à autodestruição.

 “A dor emocional faz de mim o oposto de uma pessoa profunda; deixa minha vida estreita, superficial e isolada. O sofrimento pega todo esse universo gigantesco e empolgante e o reduz ao tamanho de minha cabecinha triste. Quando meus demônios pessoais assumem o controle, sinto meus anjos criativos se afastarem...”  

Cada um tem o jeito de transformar suas energias e produzir coisas produtivas. Elizabeth Gilbert se dá como exemplo de como a dor não só a atrapalha com a arte, mas também com sua vida pessoal, deixando-a confinando ao universo cinzento. Juntando as angústias do artista com a cobrança pela criação de uma obra de arte perfeita, muitos estão fadados a se tornarem amargurados e a sentir raiva de outras pessoas que obtiveram sucesso ou o mínimo prazer de fazerem o que gostam, enquanto muitos desistiram pelo caminho.

Elizabeth Gilbert mostra o problema por meio de várias perspectivas, não só a do artista autocomiserativo, como também a da família e amigos que não entendem e apoiam aqueles que desejam usar a inspiração e a curiosidade para investir no seu lado criativo, lembrando que no final das contas as pessoas estão tão focadas em suas próprias vidas e aqueles que passam suas existências abrindo mão do que gostam, por se preocuparem com o que os outros vão pensar, acaba trilhando um caminho sombrio, deixando seus sonhos morrerem.

“Talvez a maior benção da criatividade seja esta: ao absorver nossa atenção por um período curto e mágico, consegue nos aliviar temporariamente do terrível fardo de sermos quem somos. E o melhor de tudo é que, ao fim de sua aventura criativa, você terá um suvenir, algo que você fez, algo para lembrá-lo para sempre de seu encontro breve, porém transformador, com a inspiração”.

O que Elizabeth Gilbert faz em seu novo livro vai além das fórmulas de autoajuda presentes em muitas obras do gênero – ela explica como o equilíbrio é a base para que toda e qualquer atividade possa acontecer de maneira saudável e prazerosa. A escritora tenta fugir um pouco do estereótipo do artista maldito, viciado em bebidas, drogas e outros vícios prejudiciais e abre os olhos para a possibilidade de brincar, literalmente, com a magia, remontando aos tempos em que o gênio criativo era visto como uma força exterior ao ser humano.

Quando a autora propõe uma vida leve e sem excesso de pressões, entretanto, não significa abrir mão de determinados gêneros, temáticas e estilos – não é o produto final que precisa ser mais zen, mas o processo permitindo mais liberdade e alegria para o artista. Elizabeth distribui tapas delicados para todos os lados, inclusive para o artista que se lamenta das dificuldades, como se alguém o estivesse obrigando a persistir – tempo com o qual poderia continuar cultivando a inspiração e se movimentar atrás dos seus objetivos e prazeres.

Afinal, o que Liz ensina não é algo extraordinário, porém não deixa de ser essencial de se relembrar – uma vez ou outra ao longo de nossas jornadas, acabamos desviando de nossos propósitos por causa de inseguranças, medos, cobranças e demais obstáculos, sejam impostos pelos outros ou por nós mesmos –, que cabe a cada um se permitir a cuidar da sua própria felicidade e os resultados que vierem são bônus.

Compre em formato impresso ou ebook o livro Grande Magia, da autora Elizabeth Gilbert, no site da Amazon Brasil: http://amzn.to/1ryCXhX

Elizabeth Gilbert Autora Livros Grande Magia Comer Rezar Amar
Sobre a autora – Elizabeth Gilbert nasceu em Waterbury, Connecticut, e vive atualmente no pequeno distrito de Frenchtown, em Nova Jersey. É escritora premiada de ficção e não ficção, e ficou conhecida mundialmente pelos livros de memórias Comer, Rezar, Amar e Comprometida, publicados em mais de trinta idiomas. É também autora de um livro de não ficção, O Último Homem Americano, da coletânea de contos Peregrinos, finalista do prêmio PEN/Hemingway, e dos romances Sobre Homens e Lagostas e A Assinatura de Todas as Coisas. Em 2008, a revista Time a apontou como uma das cem pessoas mais influentes do mundo. Para mais informações sobre a autora: www.elizabethgilbert.com

O livro Grande Magia pode ser encontrado nas principais livrarias do país que comercializam obras publicadas pela Editora Objetiva.

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