Quando se lê ou ouve o termo dorama, muitas pessoas associam aos dramas românticos e leves, fazendo com que muitas pessoas evitem conhecer uma série de produções de gêneros diferentes, para quem também gosta de histórias mais sombrias e com uma dose de suspense e ação. Pensando em uma postagem assim que vi nas redes sociais, nas quais os dorameiros estavam indicando opções diferentes, decidi selecionar minhas cinco sugestões de dramas coreanos (kdramas) que fogem dos clichês românticos, dos quais algumas pessoas não gostam. Apesar de grande parte dos conteúdos lembrarem novelas de drama e romance, surgem cada vez mais possibilidades de gêneros e temas para assistir. Quando o termo dorama se popularizou no Brasil, parte da comunidade brasileira coreana não ficou muito feliz por associarem a um gênero. Confira 5 K-dramas Para Quem Não Gosta de Romance: 1) Round 6 (Squid Game): da lista, este é um dos dramas coreanos que conseguiram furar a bolha da dramaland e conquistaram telespectadore
Matei a minha vontade de ler o livro Não Me Abandone Jamais, do escritor Kazuo Ishiguro. Depois de assistir ao filme Never Let Me Go, antes de saber que era uma adaptação cinematográfica do livro homônimo, comprei o livro em inglês e, posteriormente, ganhei a nova edição da obra traduzida para o português por Beth Vieira, de 344 páginas, publicada pela Companhia das Letras, em 2016. E mesmo sabendo qual seria o destino dos personagens principais, me deixei levar pela leitura e sentir a angústia desses jovens nascidos e criados com o propósito de se tornarem doadores.
Kazuo Ishiguro explora o universo da ficção científica tão próximo da realidade que chega a impressionar. Com tantas descobertas da ciência e tecnologia na área genética e a constante busca pelos cientistas de aumentarem o tempo de vida do homem, alguém sempre acaba pagando o preço. O autor nos faz imaginar como seria a existência desses clones humanos, criados meramente com o propósito de servir e faz o leitor simpatizar com suas histórias e experiências, para, então, nos fazer encarar os seus inevitáveis destinos.
“Ainda hoje, dirigindo pelas estradas do interior, vejo coisas que me fazem lembrar de Hailsham. Às vezes, passando por um trecho sob neblina ou descendo a encosta de algum vale, ao divisar parte de um casão ao longe, e até mesmo quando vislumbro o desenho formado por um grupo de choupos plantados no alto de um morro, logo me ocorre pensar: “Talvez seja ali! Achei o lugar! Aquilo é Hailsham, só pode ser!”. Depois percebo que é impossível e sigo adiante, com os pensamentos vagando por outras paragens”.
O livro é narrado em primeira pessoa pela protagonista Kathy H., uma mulher de 31 anos que cuidou de outros doadores por mais de 11 anos e que relembra sua história de vida e como foi sua infância e adolescência em Hailsham, o instituto em que ela cresceu ao lado de seus amigos Tommy e Ruth. Como os outros jovens, eles passam por uma série de descobertas, desde o fortalecimento dos laços de amizade, passando pelas paixões e transformações da adolescência até os rumos tomados por suas escolhas.
Kath é o fio que une Tommy e Ruth e ao mesmo tempo ela precisa lidar com o preço de suas decisões. Sua inteligência e equilíbrio ajudam a personagem principal a encarar de frente os desafios que vão surgindo em sua jornada, mas nem todos têm a mesma sorte. Criados em um casarão repleto de segredos, ainda que o principal não seja escondido dos jovens desde o início, há muitas lendas que vão se espalhando entre os alunos da escola e se espalhando para outros lugares. Até que ponto são verdades ou mentiras, ninguém sabe, mas acabam dando esperança e criando uma aura ao redor dos doadores que vieram de Hailsham, como se eles tivessem um tratamento e educação especiais.
“Vocês não são como os atores que veem nos vídeos, não são nem mesmo como eu. Vocês foram trazidos a este mundo com um fim, e o futuro de vocês, de todos vocês, já está decidido [...] É preciso que tenham isso em mente o tempo todo. Se querem uma vida decente, é preciso que saibam quem são e o que os espera no futuro. Cada um de vocês”.
Apesar de os professores e demais envolvidos não terem muitas falas em Não Me Abandone Jamais, suas palavras são esmagadoras, principalmente nas revelações. Há um clima de tristeza, mas também não parece haver arrependimentos. Até que ponto as crianças de Hailsham são diferentes? As reviravoltas da narrativa vão revelando as fragilidades humanas. É preciso ser forte para aguentar o fardo, mesmo quando eles nunca tiveram a opção de escolher.
O ciclo de vida dos jovens é diferente, mas nem por isso não tem como se identificar. Há uma pressão, uma voz que diz que o relógio continua batendo e a cada vez menos oportunidades de fazer as coisas que eles gostariam. Sentir-se perdido ou tentar se manter calmo. Em um mundo sem respostas certas, todos estão fadados a desabar. Kath, Tommy e Ruth são levados aos seus limites e o leitor entra neste universo em que as emoções entram em conflitos com a artificialidade e tudo parece tão efêmero.
“Não consigo parar de pensar nesse rio, não sei onde, cujas águas se movem com uma velocidade impressionante. E nas duas pessoas dentro da água, tentando se segurar uma na outra, se agarrando o máximo que podem, mas no fim não dá mais. A corrente é muito forte. Eles precisam se soltar, se separar”.
Não é tão difícil entender o sucesso do livro criado por Kazuo Ishiguro. O escritor retrata com sensibilidade um tema tão polêmico e que ainda não é tão discutido como deveria: clonagem humana e doação de órgãos, a partir da perspectiva do doador não do receptor. Então, independente das discussões sobre os clones terem almas ou não, como qualquer ser humano eles são capazes de estabelecer vínculos emocionais e construir suas histórias, ainda que, muitas vezes, limitadas pelos responsáveis. A leitura não chega a explorar a ética das pessoas por trás desses experimentos, mas consegue tocar o leitor e o fazer refletir sobre questões como o tempo de vida, a liberdade e os sonhos.
Sobre o autor – Kazuo Ishiguro nasceu em Nagasaki, no Japão, em 1954, e mudou-se para a Inglaterra aos cinco anos. É autor de sete livros traduzidos em mais de quarenta países, entre eles Os Vestígios do Dia, vencedor do Booker Prize em 1989, e o Gigante Enterrado, ambos publicados pela Companhia das Letras.
O livro Não Me Abandone Jamais pode ser comprado nas principais livrarias do país!
Oi, Júlia! Coincidência ou não, o 'Não Me Abandone Jamais' é uma música. Quando li, fiquei repetindo na minha cabeça sem parar HAHAHA Ainda que a música originalmente fosse em inglês. Se não tiver como ler o livro, assista ao filme... É maravilhoso. Emocionante!
Nunca havia lido nada enfocando o ponto de vista do doador de órgão. Uma pessoa ser criada na intenção de manter outra viva deve ser algo bem controverso. Muito interessante a premissa do livro.
Oi, Ronaldo! Parando para pensar, é um tema que possibilita muita conversa ainda. O livro é de drama, mas lembrando de você e dos livros que gosta, nada impede que não escrevessem um thriller sobre o assunto, né? Ia ser interessante, acho. Um daqueles personagens sombrios, que depois vemos que não são tão monstros quanto imaginávamos. Abraço
Fiquei mt curiosa a respeito desse autor, até pq Japão é amor <3
ResponderExcluirE esse título me lembra o refrão daquela música "Meu Erro", do Paralamas hahhah
www.literaturaliteral.wix.com/litblog
Oi, Júlia! Coincidência ou não, o 'Não Me Abandone Jamais' é uma música. Quando li, fiquei repetindo na minha cabeça sem parar HAHAHA Ainda que a música originalmente fosse em inglês.
ExcluirSe não tiver como ler o livro, assista ao filme... É maravilhoso. Emocionante!
Nunca havia lido nada enfocando o ponto de vista do doador de órgão. Uma pessoa ser criada na intenção de manter outra viva deve ser algo bem controverso. Muito interessante a premissa do livro.
ResponderExcluirOi, Ronaldo! Parando para pensar, é um tema que possibilita muita conversa ainda. O livro é de drama, mas lembrando de você e dos livros que gosta, nada impede que não escrevessem um thriller sobre o assunto, né? Ia ser interessante, acho. Um daqueles personagens sombrios, que depois vemos que não são tão monstros quanto imaginávamos.
ExcluirAbraço