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Destaques

Sobre Reler Livros

Reler um livro era como tocar um tecido que você já usou várias vezes, como se fosse pela primeira vez. A textura parecia diferente; o cheiro não era o mesmo; Era impossível não imaginar na palavra que circulava pela mente: diferente.  E por que esperar pelo impossível igual? O leitor não era o mesmo. Um intervalo de tempo considerável havia se passado. O personagem que costumava ser o favorito talvez agora seja outro. O texto que escreveria a respeito do livro talvez jamais fosse igual. Era um diferente leitor, um diferente livro, uma diferente interpretação. Ler pelo mero prazer era diferente de ler pensando na resenha que escreveria em seguida. Escolher o livro de forma aleatória era diferente de já tê-lo em mente. Reler era diferente de ler, mas sobretudo, era uma nova forma de leitura: os detalhes que antes não chamavam a atenção, agora pareciam brilhar nas páginas. Não estava no mesmo lugar em que estava quando o leu pela primeira vez. Sua pele não era a mesma, tampouco seu céreb

Se não agora, quando? O escritor no limbo

Vivemos esperando. Esperando pelo frio, pela chuva, pelo sol, pela praia, pelas oportunidades, pelo dia em que sua vida vai se transformar e todos os nossos esforços valerão a pena. O problema é quando esta espera se torna um empecilho, uma muleta que usamos toda vez que precisamos fazer algo, mas sentimos falta das condições ideais.


Eu não sei quem foi que disse que escrever era fácil. Talvez este seja um pensamento leigo, de quem não faz a mínima ideia dos recursos e da energia necessários para que o escritor possa colocar suas histórias no papel e fazer as coisas funcionarem como deveriam.

Uma das partes mais difíceis da escrita é o início. Você fica lutando e relutando contra o bloqueio. E é sempre uma batalha. Quem vence: o ego ou a inaptidão? Os dois podem te destruir, mas eventualmente você precisa fazer escolhas e admitir que o melhor a se fazer é deixar todos os pensamentos de lado e simplesmente escrever.

Escreva o texto que ficou para depois. O texto que nunca iniciou. O texto que não podia escrever por causa do calor, da fome, da dor de cabeça, da dor nas mãos, das dores no corpo ou até mesmo das dores na alma.

Quando o ciclo se repete demais, caímos na tentação de acreditar que nunca mais vamos conseguir escrever novamente. As palavras nos parecem alienígenas, tão fora de nossa realidade, que tememos usá-las e não saber expressar o que nós gostaríamos. Seria o bloqueio uma constante universal ou algo que criamos para nós mesmos, para quem sabe termos mais tempo para procrastinar? Quem é que não gosta de fazer aquilo para o qual foi destinado?

O escritor sofre. Sofre pela falta de reconhecimento profissional, das pessoas que só veem o que ele faz como um hobby. Sofre pela espera do agente literário que pediu para analisar o seu manuscrito, mas semanas se passaram, meses e até agora nada. Sofre pelas editoras que continuam empurrando livros internacionais ruins pela sua garganta, mas são incapazes de investir em escritores nacionais. O escritor sofre porque em determinados momentos da vida, é como se só ele acreditasse no próprio trabalho e precisa fazer algo – caso contrário, ninguém vai se importar se ele parou de escrever.

O texto fica confuso. A linguagem que antes era fluída, parece engessada, como se alguém estivesse chicoteando o escritor cada vez que os seus dedos tocam o teclado – veja bem, nem sempre a dor leva ao prazer... Muitas vezes, a dor é suficiente para que tudo ao seu redor amorteça. Como vai a alma? Como vai o coração? Como vai a mente?

Equilibrar-se na ponta do lápis. É isso o que o escritor faz. Ele precisa ter a determinação para escrever à caneta, mas fingir que é como se fosse lápis e que pode apagar a qualquer instante. Se ele pensar demais, nada acontece. E de nada a vida já está cheia.

Ser escritor é, acima de tudo, ser um estranho. É ser aquele objeto que vai ser admirado por cinco segundos, mas pelo resto da vida vai ser criticado por tudo e por todos, por sua aparente preguiça, embora ninguém se dê conta de que tudo é trabalho na mente do escritor... Tudo pode levá-lo a escavar terrenos e encontrar narrativas adormecidas, que estavam aguardando uma oportunidade de serem levadas aos leitores. Cada livro, filme, série, cada decepção, história ouvida, contada, falada, cada diálogo, tudo transforma o escritor em algo que nem ele mesmo sabia. Somente quando ele vê a fonte jorrando, que ele se dá conta de que aquilo não veio do nada.

O escritor divaga. O escritor precisa do café, precisa dormir o suficiente, precisa olhar para o nada, observar a água esquentando, as pessoas passando na rua, cada um com sua rotina, precisa ler, precisa escrever. Mas o que acontece quando o escritor não está escrevendo? Será o seu limbo? Aquela hora do dia em que nada flui e tudo parece tão estancado que você precisa pensar em qualquer coisa: correr, gritar, pular, chorar... Qualquer coisa que te mova e faça as palavras continuarem bombeando dentro do seu corpo, qualquer coisa que faça mais barulho do que o silêncio assustador e faça as teclas continuarem sendo pressionadas. Uma pressão por outra. Ninguém disse que seria fácil. Nunca é para quem deseja seguir os seus sonhos. Mas e quando nós mesmos passamos a achá-los estúpidos? Será que pensamos isso de verdade ou é o que a sociedade espera de nós?

A vontade de preencher cada espaço branco com palavras é tentadora. O jorro do escritor é quando a tinta pulsa pela folha... Duzentas palavras? Em duzentas palavras é possível encher linguiças em forma de texto. A indigestão é opcional. Sabe como é, uma gordurinha nem sempre faz mal. Queima aqui, queima ali. Pegue a tesoura, raspe os cantos, deixe o ar circular. O texto precisa ser mexido e que ninguém pense que é fácil. Pois fácil, fácil mesmo é fingir que levou minutos, quando sua mente ficou congelada durante horas, esperando pelo momento em que as palavras sangram no papel.

Comentários

  1. Amei! Eu me sinto no limbo, não tenho vontade de escrever e tenho pensado em desistir desse sonho. Eu me cobro e me comparo muito, além de que minha mente é uma bagunça. Tenho desanimo quando vejo meu blog, é como se não tivesse cor no que eu falo... Mas é tudo o que sei fazer, sabe? É tudo o que mais amo fazer. Eu não tenho conhecimento técnico, e tenho muito medo, muito mesmo de escrever todas as histórias dentro de mim. Fico insegura,mas continuo... Tento encontrar forças dentro de mim e inspiração em vocês que escrevem! :)

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    Respostas
    1. Oi, Michele!
      Muito bom te ver por aqui. Escrever é um trabalho diário. E se engana quem acha que é algo fácil. Colocar em ordem os pensamentos e deixar as ideias fluírem não é tão simples quanto parece.
      Tem dias que eu também penso em desistir, mas assim como você, acredito que é o que eu sei fazer. Então, continuo, mesmo que para mim mesmo.
      Gratidão pela visita e pelo comentário!

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  2. Correção: onde está a palavra "cor", na verdade é "valor".

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  3. Trabalho de escritor não é fácil! Também por vezes tenho os meus momentos de branca. Escrever para mim alimenta minha alma. Costumo escrever histórias de fantasia, pequenos contos e poemas. Fernando Pessoa é a minha inspiração, assim como J.K.Rowiling and J.R.D.Tolking. O seu texto demonstra com profundade o trabalho artístico

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