A Livraria Mágica de Paris (Das Lavendelzimmer), da autora
Nina George, é um desses livros que me deixou suspirando a cada virada de página. Um romance escrito com delicadeza, mas que não deixa de ser intenso ao abordar como as fragilidades, as paixões e as perdas nos transformam. No Brasil, a obra literária foi publicada pela
Editora Record, em 2016, com tradução de
Pete Rissatti.
O romance se foca na vida de
Jean Perdu, um
livreiro parisiense que parece ser capaz de ler a alma dos seus clientes e indicar as leituras certas de acordo com suas personalidades, porém que acaba fugindo do seu próprio passado e conflitos internos. Apesar de achar importante escolher livros que se encaixam no momento da vida das pessoas que visitam o barco-livraria, Jean sente-se incapaz de encontrar respostas para os seus próprios problemas.
Como seguir em frente depois que alguém importante nos abandona? Jean Perdu estagnou depois de ter o seu coração quebrado por Manon. Alguns amores são avassaladores e deixam um vazio existencial. Com o livreiro não foi diferente. Ele deixa de viver para si mesmo, para viver em função dos outros. Os dias se arrastam entre leituras e trabalho, mas o protagonista não se permite seguir em frente e se abrir para a vida.
“Memórias são como lobos. Não se pode encarcerá-las e esperar que deixem você em paz” – Nina George, A Livraria Mágica de Paris
As memórias de Manon são atormentadoras demais. Fora do trabalho, Perdu é um solitário. Quando o escritor
Maximilian Jordan tenta se aproximar de Jean, suas histórias começam a ser desenterradas. Uma jornada faz com que os dois personagens questionem suas próprias existências, propósitos e destinos. Jean e Max saem no barco cheio de livros e quanto mais eles navegam, mais a relação entre a vida e os livros vai se estreitando e ambos percebem que mesmo tendo amor à literatura, viver dentro de suas narrativas favoritas não fazem sentido quando eles se tornaram coadjuvantes e perderam o rumo.
Mais de 20 anos depois da desilusão amorosa com Manon, o protagonista é lançado a encarar a própria sorte. Uma velha carta reaviva lembranças. Segredos do passado trazem à tona uma chama em Jean Perdu. Quando novas pessoas entram em sua vida e antigas passam a ser vistas com outros olhares, ele percebe que após todo esse tempo, algo estava errado e só agora ele pode juntar os próprios pedaços e voltar a construir sua própria história.
“Sanary diz que, para encontrar as respostas para nossos sonhos, é preciso navegar para o sul. E que é possível se reencontrar lá, mas apenas se a gente se perder no caminho, se a gente se perder totalmente. Pelo amor. Pela saudade. Pelo medo. No sul, deve-se ouvir o mar para entender que o riso e o choro se parecem muito, e que a alma às vezes precisa chorar para ser feliz” – Nina George, A Livraria Mágica de Paris
Dentro da água, ora somos levados a mergulhar em algumas histórias, ora vivenciamos um pouco da inércia. O romance se desenrola de forma que o passado e o presente de Jean Perdu vão se conectando. As emoções das redescobertas nos levam a preenchermos nossas próprias memórias conforme a trama vai desenrolando. Difícil é não se sentir na pele do protagonista, principalmente quando somos tão aficionados aos livros quanto ele. É preciso um louco por livros para reconhecer outro.
A visão de Jean sobre sua farmácia literária vai se transformando ao longo dos capítulos. É interessante notar, por exemplo, como os personagens são tocados por escritas próprias, como cartas, rabiscos e memórias, tanto quanto são pelos livros, mostrando como a literatura pode ser remédio para almas e corações, especialmente quando escrevemos nossas próprias palavras. A Livraria Mágica de Paris flerta com os dramas amorosos, familiares e existenciais.
“O medo muda seu corpo como um escultor desastrado altera uma pedra perfeita […] Só que você é esculpido por dentro, e ninguém vê quantas lascas e camadas foram tiradas. No íntimo, fica cada vez mais fino e instável, até o menor sentimento chateá-lo. Alguém te dá um abraço, e você pensa que vai quebrar e se perder” – Nina George, A Livraria Mágica de Paris
Nina George escreveu um livro encantador, rico em referências literárias. Para quem gosta de leituras, não dá para não se sentir envolvido com as indicações. Depois de sermos lançados em um mar de reflexões, somos salvos pelas palavras que não nos deixam afogar na apatia. Um sopro de vida!
Sobre a autora – Nina George trabalha como jornalista, escritora e professora. Ela escreve thrillers, romances, artigos, contos e crônicas. A Livraria Mágica de Paris permaneceu mais de um ano nas listas de livros mais vendidos da Alemanha e foi best-seller na Itália, na Polônia, na Holanda e nos Estados Unidos, figurando várias semanas na lista do New York Times. Nina George é casada com o escritor Jens J. Kramer e divide seu tempo entre Hamburgo e Bretanha.
E você, já leu A Livraria Mágica de Paris? Ficou curioso para ler?
Olá.
ResponderExcluirPela resenha o livro já me fisgou. Como havia mencionado anteriormente, li alguns comentários bastante positivos sobre o livro nas redes sociais. Espero lê-lo em breve.
Grande abraço.
Olá, Tomo Literário!
ExcluirFico feliz que tenha gostado da resenha. A Livraria Mágica de Paris, como o título lembra, é uma leitura sobre a magia da leitura e da vida. Espero que goste do livro quando for ler.
Abraços e gratidão pela visita!